Apenas três pessoas seguem presas no âmbito da Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal (PF) no Paraná em março de 2017 e que mirou frigoríficos e um esquema de corrupção. Outras duas ganharam tornozeleira eletrônica; entre elas está Daniel Gonçalves Filho, ex-superintendente no Paraná do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, acusado de comandar um esquema de propina entre fiscais e empresários durante quase dez anos. Ele deixou a prisão em 16 de dezembro do ano passado.
Indicado para o posto máximo da estrutura do ministério no Paraná pela bancada do PMDB no Congresso, Daniel Gonçalves Filho hoje é delator da Carne Fraca. Para investigadores da Procuradoria-Geral da República (PGR), em Brasília, ele teria garantido que o esquema de propina também abasteceu conta de políticos do estado.
Além de Daniel Gonçalves Filho, o servidor público federal Luis Carlos Zanon Junior está com tornozeleira eletrônica.
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Também estão presos dois servidores públicos federais – Maria do Rossio Nascimento e Juarez José de Santana, que comandava a unidade do Mapa em Londrina –, além de um empresário, Idair Antonio Piccin, da Peccin Agroindustrial Ltda. Os três negam terem cometido crimes. O restante dos presos na esteira da operação da PF responde pelas acusações em liberdade.
Na Operação Carne Fraca, dezenas de pessoas foram alvos de mandados de condução coercitiva, de prisão temporária e de prisão preventiva. Na sequência, 60 investigados foram efetivamente denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF), com base nos elementos levantados pela PF.
As denúncias viraram ações penais – cinco, no total, excluindo as duas ações penais derivadas da segunda fase da Operação Carne Fraca, deflagrada em maio, e que mirava apenas Francisco Carlos da Silva, ex-superintendente do ministério em Goiás.
Os cinco processos já estão em fase avançada, com possibilidade de desfecho (sentença pela condenação ou pela absolvição) no ano de 2018. Todas as ações penais estão nas mãos do juiz federal Marcos Josegrei da Silva, à frente da 14ª Vara Criminal, vizinha do juiz federal Sergio Moro, que cuida da Lava Jato.
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Atestado médico falso
As denúncias envolvem crimes como organização criminosa, adulteração e alteração de produtos alimentícios e emprego de substância não permitida, corrupção passiva privilegiada, corrupção ativa, corrupção passiva, prevaricação, concussão, peculato, advocacia administrativa, violação de sigilo funcional.
Tem também acusação de “uso de atestado médico ideologicamente falso”, no caso do réu Gil Bueno de Magalhães. Ele figura em duas ações penais, respondendo também pelos crimes de peculato, corrupção passiva, corrupção passiva privilegiada e advocacia administrativa.
“Em 12 de agosto de 2016, com o objetivo de justificar falta ao trabalho, [Gil Bueno de Magalhães] fez uso de atestado médico ideologicamente falso, emitido com data retroativa, onde constou indevidamente que o servidor público necessitava, em 09 de agosto de 2016, de repouso, quando de fato não havia motivos de saúde para a ausência”, escreveu o MPF na denúncia.
Gil Bueno de Magalhães também é ex-superintendente do Mapa no Paraná, indicado pela bancada do PP. Ele deixou a prisão em setembro, após pagar fiança de R$ 100 mil. Em entrevista à Gazeta do Povo no final do ano passado, o advogado de defesa, Renato Barroso, disse que Gil Bueno de Magalhães conseguiu esclarecer as situações narradas pelo MPF ao longo dos processos, e que espera pela absolvição do seu cliente.
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Interrogatório por Skype
O valor mais alto de fiança até agora registrado no âmbito da Carne Fraca, R$ 325 mil, foi pago por dois empresários de Apucarana, no Norte do Paraná: Nilson Alves Ribeiro e seu filho Nilson Umberto Sacchelli Ribeiro, acusados de pagarem propina para obter liberações do ministério. Nilson Umberto obteve o alvará de soltura já no final de abril.
Mas, com 69 anos de idade e há quase 20 anos se dividindo entre o Brasil e a Itália, onde também possui negócios e residência, Nilson Alves Ribeiro nunca chegou a ser detido. De um local na Itália, ele só foi interrogado pelo juiz federal Marcos Josegrei da Silva, por Skype, no último dia 17. O pedido de prisão foi revogado na sequência, a partir do depoimento e do acordo em relação à fiança, entre outras condições. Pai e filho negam os crimes.
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A Operação Carne Fraca, deflagrada em março de 2017, gerou 26 mandados de prisão preventiva. De lá até agora, janeiro de 2018, a maioria já deixou a prisão e responde às acusações em liberdade, sob uma série de condições, como pagamento de fiança, por exemplo. Veja levantamento feito pela Gazeta do Povo:
01. André Luis Baldissera, engenheiro mecânico (solto)
02. Carlos Cesar, servidor público federal (solto em agosto após fiança de R$ 25 mil)
03. Daniel Gonçalves Filho, servidor público federal e ex-superintendente do Mapa no Paraná (com tornozeleira eletrônica)
04. Dinis Lourenço da Silva, servidor público federal (solto em outubro após fiança de R$ 30 mil)
05. Eraldo Cavalcanti Sobrinho, servidor público federal (solto em dezembro após fiança de R$ 40 mil)
06. Fabio Zanon Simão, advogado (solto em abril após fiança de R$ 80 mil)
07. Flavio Evers Cassou, médico veterinário (solto em dezembro após fiança de R$ 70 mil)
08. Gercio Luiz Bonesi, servidor público federal (solto)
10. Idair Antonio Piccin, gerente industrial (permanece preso)
11. José Eduardo Nogalli Giannetti, assistente administrativo (solto em maio após fiança de R$ 15 mil)
12. Josenei Manoel Pinto, servidor público federal (solto em abril após fiança de R$ 30 mil)
13. Juarez José de Santana, servidor público federal (permanece preso)
14. Luiz Carlos Zanon Junior, servidor público federal (com tornozeleira eletrônica)
15. Maria do Rocio Nascimento, servidora pública federal (permanece presa)
16. Nair Klein Piccin, gerente financeira (solto em setembro após fiança de R$ 50 mil)
17. Nilson Alves Ribeiro, empresário (pedido de prisão revogado em janeiro após fiança de R$ 325 mil)
18. Nilson Umberto Saccheli Ribeiro, empresário (solto em abril após fiança de R$ 325 mil)
19. Normélio Peccin Filho, gerente industrial (solto em agosto após fiança de R$ 50 mil)
20. Paulo Rogério Sposito, administrador (solto em dezembro após fiança de R$ 70 mil)
21. Renato Menon, servidor público federal (solto em novembro após fiança de R$ 30 mil)
22. Roberto Brasiliano da Silva, repórter fotográfico (solto em abril após fiança de R$ 15 mil)
23. Roney Nogueira dos Santos, economista (solto em julho após fiança de R$ 300 mil)
24. Sebastião Machado Ferreira, servidor público federal (solto em abril após fiança de R$ 15 mil)
25. Sergio Antonio de Bassi Pianaro, servidor público federal (solto em novembro após fiança de R$ 30 mil)
26. Tarcísio Almeida de Freitas, servidor público federal (solto em novembro após fiança de R$ 20 mil)