O pagamento de propina ao presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Ademar Traiano (PSDB), teria sido definido em uma reunião ocorrida em 2014, na casa do então governador Beto Richa (PSDB). É o que declarou o dono da Valor Construtora, Eduardo Lopes de Souza, em audiência na 9ª Vara Criminal de Curitiba, na semana passada. Ele é o principal delator da Operação Quadro Negro, que investiga o desvio de pelo menos R$ 20 milhões de recursos que deveriam ter sido empregados em obras de escolas estaduais.
O vídeo da audiência foi divulgado na noite desta segunda-feira (14), pela RPC TV. Lopes de Souza disse que o caixa 2 à campanha de reeleição de Traiano a deputado estadual teria sido acertado em uma reunião na casa do então governador, da qual participaram o parlamentar e o ex-diretor da Secretaria de Estado da Educação (Seed) Maurício Fanini, além do próprio Richa.
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O delator relatou que, depois disso, fez quatro pagamentos de R$ 100 mil a Traiano, em dinheiro vivo. A primeira parcela da propina foi paga ainda durante a campanha de 2014, na sala do deputado na Assembleia. “Fui e entreguei R$ 100 mil lá dentro da [sala da] liderança do governo na Assembleia, na campanha. Em agosto, setembro... ali”, disse. À época, o parlamentar era o líder de Richa na Casa.
Lopes de Souza contou ter levado o dinheiro em uma mala, que continha R$ 300 mil e destacou a reação de Traiano ao ver os maços. “Quando eu abri a mala, ele olhou pra mim e falou assim: ‘Pô, você não pode me dar mais um pouco disso aí, não?’”. O delator disse, porém, que o restante do dinheiro estava “comprometido” com Fanini e que, por isso, deu apenas R$ 100 mil a Traiano.
O construtor detalhou ainda que as outras três entregas de propina ocorreram nos seguintes locais: uma também na sala da liderança do governo, outra na sala da presidência da Assembleia e outra na casa de Traiano.
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O delator afirmou também que Richa tinha ciência de que parte do dinheiro desviado ficava com o então diretor da Seed Maurício Fanini. “Ele comentou assim: o governador sabia que uma parte desse dinheiro ia ficar pra ele [Fanini]”, disse. “Inclusive, ele falou: ‘Esse apartamento quem me deu foi o governador”, completou o delator.
Fanini está preso desde setembro de 2017, por lavagem de dinheiro. Até então considerado amigo pessoal e bastante próximo de Richa, o ex-diretor da Seed agora negocia para também se tornar um delator do esquema da Quadro Negro.
Outro lado
À RPC TV, Ademar Traiano disse que assegura a lisura de suas ações e que a Justiça deve agir na plenitude de suas competências. Já Beto Richa afirmou que “são falsas as informações prestadas por um criminoso confesso que não tem fundamentos ou provas”; e que determinou investigações quando soube das irregularidades.
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