Tarifas caras, obras não realizadas, trechos em condições precárias: pela segunda vez, as rodovias do Paraná concentram as reclamações dos empresários da área industrial em relação à infraestrutura do estado. A avaliação consta da edição mais recente da pesquisa de satisfação realizada pela Federação da Indústria do Estado do Paraná (Fiep).
Entre as 619 empresas ouvidas, 38,95% apontou insatisfação. Além disso é o segmento que menos tem indiferentes, afinal 80% a carga transportada no estado depende de caminhões. Ao analisar o a situação, o gerente dos Conselhos Temáticos da Fiep, João Arthur Mohr, lamenta os anos de avanços discretos por causa dos atuais contratos de concessão, considerados equivocados pela Federação. “Deveríamos ter vários trechos já duplicados e também tem a questão da tarifa”, pondera, ao mencionar os altos valores cobrados nas praças de pedágio, que – avalia – poderiam ser cortados pela metade. Em meio ao lamento, o representante da Fiep defende que a preparação para 2021 (quando se encerram os contratos atuais do Anel de Integração) precisa começar já: “o foco deve ser preparar o Paraná para a nova concessão, elaborar todos os projetos com uma nova metodologia que viabilize o aumento da competitividade”.
Outra demanda do setor se concentra nos trechos que dependem de investimentos do governo estadual, com necessidade de melhoria nas condições de rodagem. Nesse caso, Mohr faz boa avaliação da proposta do estado de valer-se de Parcerias Público Privadas (PPPs) para devolver qualidade a trechos como as PRs 323, 280, 445 e 323. A bandeira foi novamente levantada pela campanha por Ratinho Jr (PSD).
VEJA TAMBÉM: O Paraná é dependente das rodovias. Há saídas?
As condições das estradas de ferro também preocupam os industriais. “A situação das ferrovias é indecente. O nível de insatisfeitos (21,23%) é dez vezes maior que o de satisfeitos (2,16%)”, destaca o representante da Fiep. Mohr classificar a malha ferroviária do estado como ultrapassada e insuficiente e vai além, ao criticar a dependência para a movimentação de cargas: “o Paraná – que tem um porto maravilhoso, que se preparou para crescer, que cresce 3%, 4% ao ano, com movimentação de 53 milhões de toneladas – tem um traçado [ferroviário] que é ruim e não comporta [a demanda]. Desse total, apenas 20% virão por ferrovia, é um absurdo”.
Para que o transporte de cargas migre para o modal ferroviário, a cobrança do setor industrial é dar continuidade ao projeto que pretende ligar o oeste ao porto (com uma nova descida na Serra do Mar) e avançar em iniciativas que aumentem a capacidade no norte do estado. Essas movimentações poderiam gerar economia de 30%, além de agregar redução de custos sociais e de danos ambientes, diminuindo o tráfego pesado e empregando o frete rodoviário de modo mais concentrado, em deslocamentos curtos.
CONFIRA TAMBÉM: Paraná estuda modelo russo de ferrovia sem trilhos
João Arthur Mohr afirma que o setor não espera respostas de curto prazo em rodovias e ferrovias, com entendimento de que 2019 será um ano de preparações. Diferentemente desses casos, as expectativas são boas para portos e para a infraestrutura aeroportuária, uma vez que intervenções de fôlego já foram feitas ou dependem de “uma canetada” para serem postas em prática.
No ar e no mar
Dentre os modais avaliados, o gerente de Conselhos Temáticos afirma que a área portuária é a única área que apresentou francos avanços no estado em anos recentes. Mohr afirma que o segmento teve maior utilização de oferta, redução da fila de navios, a conclusão da dragagem de aprofundamento, então “o porto está preparado para o grande porte, recebeu investimentos públicos e privados”. Sobram insatisfações, principalmente quanto aos custos. “Também é preciso mais agilidade dos órgãos anuentes (receita, vigilância sanitária – aqueles que podem atrasar ou dar celeridade o embarque e desembarque, a liberação de mercadorias. Há medidas sendo tomadas nesse sentido, de desburocratização de processos em especial na fiscalização. Esperamos que esse índice de insatisfeitos ele possa ser contornado”, conclui.
VEJA MAIS: A situação portuária do Paraná e as perspectivas para o futuro
No tocante aos aeroportos, é o único segmento cujos índices de avaliação favorável são mais altos do que o de insatisfeitos. As reclamações, em parte se devem, na avaliação do técnico, a questões como à ausência de um terminal de porte verdadeiramente internacional e à falta de incentivos para a operação de companhias aéreas dentro do estado. A utilização do Afonso Pena fica prejudicada pois a pista, muito curta, não comporta operações destinadas ao exterior. Segundo Mohr, “Curitiba fica de fora do hall de oportunidades – não apenas a questão de carga. Curitiba e o estado do Paraná deveriam ter voos diretos conectando Europa, Estados Unidos, tem porte”, avalia. O aumento da capacidade do terminal já é um plano. “Existe área reservada para isso e esse é o grande ponto para 2019, em Curitiba especificamente: dar seguimento a uma segunda pista”.
A outra reivindicação é ampliar a oferta de voos, o que pode ser estimulado com incentivos fiscais. “O combustível é o maior custo de uma companhia aérea. No Paraná, o ICMS cobrado é de 18%, imagine se você zera esse imposto? Cria condições de resultado operacional e amplia interesse, tornando a perda de receita irrelevante a partir dos ganhos com a movimentação da economia”, sugere Mohr, ao destacar a capacidade do próprio governo para estimular a oferta de voos entre cidades paranaenses. Iniciativas dessa natureza foram defendidas pelo governador eleito, com aposta à regionalização.
A sondagem da Fiep trata ainda de telefonia, energia e infraestrutura urbana, com índices de satisfação e insatisfação praticamente empatados. Nesses setores, a cobrança é por mais investimentos em melhoria de oferta de qualidade de serviço por parte das operadoras, reduções no curso da energia, incentivo ao desenvolvimento de matriz energética renovável e aumento da capacidade dos sistemas de mobilidade das cidades. Apesar de esta ser a 23ª edição do estudo, comparações com os índices anteriores não são possíveis, uma vez que houve mudança de metodologia.
Número de obras paradas cresce 38% no governo Lula e 8 mil não têm previsão de conclusão
Fundador de página de checagem tem cargo no governo Lula e financiamento de Soros
Ministros revelam ignorância tecnológica em sessões do STF
Candidato de Zema em 2026, vice-governador de MG aceita enfrentar temas impopulares
Deixe sua opinião