O mega-assalto a empresa de transporte de valores Prosegur em Ciudad del Este, deflagrado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) no fim de abril, não surpreendeu o ex-secretário Nacional de Segurança, José Vicente da Silva Filho. Para o especialista, a Polícia Federal (PF) poderia ter previsto a ação criminosa, a ponto de ter evitado o roubo. Ele afirma que houve falha, principalmente sob o ponto de vista do serviço de inteligência.
“Pelo menos desde 2016 se tem notícia da efetiva ação do PCC no Paraguai, com grupos fortemente armados, com armas de guerra, e nós não vimos nenhuma ação coordenada pela PF. A PF devia ter se antecipado a esse processo e tinha condições de ter previsto o assalto”, disse.
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Em junho do ano passado, o traficante paraguaio Jorge Rafaat – que comandava o tráfico na região de fronteira – foi executado com dezenas de tiros, no centro de Pedro Juan Caballero, no país vizinho. O PCC teria participado da emboscada que matou Rafaat e, desde então, a facção teria assumido o controle do tráfico na divisa do Brasil com o Paraguai. Para Vicente da Silva, havia motivos de sobra para a PF ter monitorado os integrantes do grupo criminoso e traçado um plano preventivo de segurança.
“A PF descuidou muito. Desprezou os indícios. E o crime se expande no espaço deixado pela fragilidade da polícia. É um caso que deveria ter sido tratado como prioridade máxima e que, infelizmente, até agora, nada”, avaliou o especialista.
Necessidade de integração
O ex-secretário Nacional de Segurança destacou a necessidade de integração entre os serviços de inteligência das diversas forças de segurança do Brasil. Ele menciona, por exemplo, o fato de as agências de segurança das polícias estaduais não estarem coordenadas à PF. “Todo esse episódio explicita a fragilidade dos serviços de inteligência dos dois países”, resumiu.
Por outro lado, Vicente da Silva viu com bons olhos a conexão que houve entre as autoridades brasileiras e paraguaias após o mega-assalto e a participação das policiais estaduais do Paraná (Civil e Militar) neste processo. Para ele, esta é a oportunidade de as forças de segurança consolidarem uma parceria.
“Em todos os países do mundo, o trabalho de inteligência tem a característica de cooperação entre as agências das várias instituições policiais. Com este evento [o assalto], temos a oportunidade de fazer o mesmo, de estabelecer, enfim, uma coordenação no serviço de inteligência.”
Desde 1996, um comitê tripartite – formado por forças de segurança do Brasil, Argentina e Paraguai – se reúne mensalmente para definir estratégias de combate à criminalidade na região de fronteira entre os três países.
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