Há décadas, a Polícia Militar (PM) do Paraná funciona em um regime de trabalho diferente às quartas-feiras: os policiais que prestam serviço administrativo cumprem apenas meio expediente. Eles trabalham das 8 horas ao meio-dia, quando são dispensados. A corporação, no entanto, ressalta que a “quarta-feira gorda” – como o horário é chamado no jargão policial – só vale para os que desempenham serviços internos nos quartéis e batalhões. Os agentes que atuam no patrulhamento, em operações ou em emergências cumprem regime de escala, de modo a manter esses serviços 24 horas por dia.
A corporação e as entidades policiais apontam que o meio expediente às quartas-feiras foi adotado como forma de compensar as horas trabalhadas por esses policiais. É que apesar de serem lotados em departamentos administrativos, eles podem ser escalados de forma emergencial, para atuar em operações – como conter rebeliões, fazer policiamento em jogos de futebol ou outras ações coordenadas, como Operação Verão e Operação Natal.
“A PM lembra que não existe na corporação uma compensação para horas contínuas trabalhadas, por isso, esse meio período é concedido aos policiais militares do serviço administrativo”, explicou a PM, por meio de nota.
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A polícia não informa há quanto tempo o meio expediente às quartas-feiras foi adotado, nem que lei ou portaria o regulamenta. Entidades que representam policiais afirmam que o horário especial nas quartas é praticamente “uma tradição” na corporação e destacam que isso não provoca nenhum impacto nos serviços prestados à população.
“Eu me aposentei há seis anos e quando entrei na PM já era assim. Meu pai foi soldado e já era assim. Mas é bom ressaltar que é só o pessoal do serviço administrativo que trabalha nesse regime”, disse o coronel César Alberto Souza, diretor de comunicação da Associação de Defesa dos Direitos dos Policiais Militares (Amai).
Policiamento fortalecido
A Amai destaca a importância da “quarta-feira gorda” para manter o equilíbrio no número de horas trabalhadas e aponta que é uma forma de fortalecer o policiamento de rua. “Os policiais do administrativo tiram expediente no fim de semana, fazem muitos eventos de futebol. Acaba sendo uma compensação, para manter a carga horária do policial. É uma forma de a PM valorizar o seu lado operacional, porque esses policiais administrativos também estão indo para a rua”, apontou Bueno.
Outra entidade, a Associação dos Praças do Paraná (Apra-PR) defende que a PM faça um estudo técnico para avaliar a incorporação de civis para os serviços administrativos, deslocando os policiais exclusivamente para trabalhos operacionais.
Em outros estados
Segundo a Associação Nacional dos Praças (Anaspra), medidas semelhantes funcionam em outros estados. Em Santa Catarina, por exemplo, a PM adotou um expediente administrativo mais enxuto, de segunda a sexta-feira. Lá, os trabalhos burocráticos se concentram do meio-dia às 19 horas.
“Existem cálculos feitos em Santa Catarina que apontam que esse expediente gera uma economia bastante significativa. Permite manter a jornada de trabalho, preenchendo as horas que faltam com serviço operacional. É uma questão de economia”, disse o presidente da Anaspra, sargento Lizandro Lotin.