É preferível ocupar o espaço com arranha-céus, como fez Balneário Camboriú (SC), ou trabalhar para ser um destino turístico associado à natureza intacta, como fez Fernando de Noronha (PE)? Guardadas as distinções de cenário, essa é uma das discussões que serão travadas nos próximos meses para identificar potencialidades e desafios, traçar planos de ação e projetar o futuro de toda a faixa costeira paranaense. Foi lançado nesta terça-feira (19) o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Litoral do Paraná, que irá elaborar, nos próximos doze meses, as diretrizes a serem seguidas em investimentos na região.
O governo do Paraná conseguiu convencer o Banco Mundial a financiar 100% do projeto, ao custo de R$ 4,8 milhões. Um consórcio internacional, formado por duas empresas espanholas e duas brasileiras, venceu a concorrência para elaborar o plano. As empresas trabalharam juntas em alguns projetos semelhantes, como o Plano Metropolitano de Barcelona, o Gerenciamento Costeiro de Sergipe e o Plano Metropolitano do Rio de Janeiro. Os desafios que enfrentam as regiões litorâneas são parecidos, mas sempre há particularidades”, comenta Judith Muntal, da Barcelona Brasil Group.
EDITORIAL: O desenvolvimento do litoral
O modelo que está sendo desenhado para o litoral do Paraná é inédito e não tem similar em outro lugar. “Não temos um produto pronto, que será apenas customizado para o Paraná. Vamos construir um”, explica Marina Bastos, diretora da Quanta Consultoria, uma das empresas consorciadas.
Não há pressupostos estabelecidos. Pela proposta, a população será convidada a participar de uma série de encontros para decidir os rumos dos sete municípios do Litoral. De acordo com o arquiteto Taco Roorda, da Cidades Planos & Consultorias, apesar da existência de uma orientação prévia sobre os rumos das reuniões, as discussões estão em aberto. Oficinas participativas serão oferecidas a partir de janeiro, para explicar o método de participação para a comunidade.
O projeto será construído em cinco etapas. Primeiro será definido um plano de trabalho, que deve estabelecer um calendário de atividades. Em seguida, começa o levantamento de dados, com o diagnóstico dos mais diferentes indicadores (a ideia é que todos os aspectos sejam considerados, como questões de saúde, educação, saneamento etc). Todos os potenciais e as carências do Litoral devem ser identificados.
A fase seguinte envolve a construção de cenários e visões de futuro. “Uma das propostas é identificar quais os projetos que trarão mais benefício com menor impacto”, comenta o arquiteto Fabrício Miyagima, assessor técnico da Secretaria Estadual de Planejamento. Depois de elencadas as propostas, serão definidos os planos de ação para colocar em prática o que foi decidido. A última fase é uma conferência regional, para apresentar o plano à população.
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Na equipe central que trabalha diretamente com o projeto estão 20 profissionais, mas outros devem ser incorporados ao projeto. Especialistas das mais diversas áreas – turismo, biologia, arquitetura, infraestrutura, desenvolvimento social, financiamento de projetos, etc – estão envolvidos para que o resultado seja o mais abrangente possível. O objetivo apresentado é a busca pelo equilíbrio entre os diversos interesses e demandas, considerados os aspectos econômicos, ambientais e sociais. “Imagine se a gente tivesse um montante de recursos para investir no Litoral. Se formos perguntar para grupos específicos, nunca conseguiríamos agradar a todos. Cada prefeito, por exemplo, iria priorizar a sua cidade. O que estamos buscando é uma definição do que seria mais interessante para o conjunto”, explica Fabrício.
Diante das particularidades locais, um especialista em mediação de conflitos foi incorporado à equipe. É o advogado Pedro Daniel Strozenberg. Ele destaca que há muitas comunidades tradicionais no Litoral do Paraná que precisam ser ouvidas. A ideia, destaca o especialista, é promover o diálogo, conversando sobre o que é possível fazer para atender interesses diversos. “Meu trabalho será ajudar para que as pessoas se escutem”, resume, salientando que há na região um debate entre os discursos dos que falam em desenvolvimento e os que defendem a conservação. As questões portuárias, prevê Pedro, também devem aparecer fortemente nas discussões que estão por vir. Em breve deve ser anunciado o calendário das atividades com a comunidade.
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