Motivo de briga entre o apresentador Luciano Huck e o prefeito Rafael Greca (PMN) , a região da Vila 29 de Outubro, na Caximba, em Curitiba, tem futuro planejado pela gestão municipal. O objetivo da prefeitura é retirar 1.147 das 1.700 famílias que moram na região e realocá-las para uma área próxima, em que serão construídas habitações populares por intermédio da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab).
“É um projeto muito complexo, que começou no meu primeiro mês de gestão. Já fizemos uma série de medidas para melhorar as condições enquanto encaminhamos a retirada das famílias”, explicou o prefeito à Gazeta do Povo.
Ele se refere a mutirões de saúde, cidadania e limpeza; ao cadastramento das famílias da região; à abertura de turmas especiais em escolas próximas; à limpeza das cavas, que vem sendo feita periodicamente; à capacitação de jovens da área em um Liceu de Ofício; à retirada de 240 toneladas de lixo; a melhorias nas ruas e à edição de um decreto, o 688, em julho, que fez com que a área se tornasse de interesse social.
“Foi ao ver a situação da região que decidi me candidatar, tanto em 2010 quanto em 2016. Tive horror daquilo”, afirmou o prefeito, que realmente se referiu, durante a campanha que levou-o à prefeitura, às ‘palafitas da Caximba’”.
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Falta financiamento
As medidas que vêm sendo realizadas, porém, são apenas uma preparação para o projeto do chamado Bairro Novo da Caximba, para o qual a prefeitura vem buscando financiamento. A região da Vila 29 de Outubro, uma das áreas do bairro, está em um terreno do Instituto das Águas que fica dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) do Iguaçu. “O objetivo é transferir as casas das famílias que estão na área de risco de inundação e promover melhorias nas residências que poderão permanecer onde estão”, explica Mauro Magnabosco, arquiteto do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ippuc) responsável pelo projeto.
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Segundo ele, no lugar do que hoje estão as moradias irregulares, o objetivo da prefeitura é implantar um parque para o amortecimento das cheias. Como o projeto é custoso, porém, a gestão municipal está buscando financiamento no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e na Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD). “Estamos pleiteando R$ 250 milhões mas, enquanto não conseguimos os recursos, estamos começando o processo por intermédio da própria Cohab e da Caixa Econômica Federal”, afirma Magnabosco.
Paliativos
Na região, porém, não há consenso entre os moradores a respeito da mudança. Eles reconhecem o esforço da prefeitura mas, em alguns casos, afirmam que não gostariam de sair dali. “É estranho falar, mas esse é o melhor lugar em que eu poderia morar. Não estamos pedindo nada de graça. Só queríamos ter melhores condições, como acesso a água e luz pagando pelos serviços”, diz João Manoel Rodrigues, que mora na região com a mulher e a filha de 13 anos.
A resposta para o prefeito Rafael Greca a esse tipo de posicionamento é contundente. “Você não tem o direito de escrever isso e o morador não tem o direito de querer morar ali. Não existe direito em morar no fundo do rio. Não existe o direito de ser como sapo, só o direito de ser como gente”, disse à reportagem da Gazeta do Povo.
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Mesmo quem aceita sair tem ressalvas. Professora Gaivota, fundadora do Move Vida – que atende as crianças do entorno da Comunidade Abraão, próxima à Vila 29 de Outubro –, diz que, enquanto as casas da Cohab não ficam prontas, as condições precisam melhorar. “Nós todos queríamos ficar, mas entendemos que é uma área de risco. Sabemos também que as novas moradias vão demorar e, por isso, queremos acesso a coisas básicas”, afirma.
A coleta de lixo, por exemplo, já está chegando aos pontos mais distantes do bairro. Luz e água, porém, ainda funcionam por gatos. “Ninguém gosta de ter que sair daqui, mas não queremos colocar nossos filhos em risco. Enquanto isso, esperamos que as melhorias venham”, diz Rosenil do Rocio dos Santos, presidente da Associação de Moradores da região.
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