O ex-governador Beto Richa (PSDB) e a sua mulher, a ex-secretária Fernanda Richa (PSDB), prestaram depoimento, nesta sexta-feira (14), ao Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que investiga um esquema de corrupção no programa Patrulha do Campo. Richa optou por permanecer em silêncio durante o interrogatório, enquanto Fernanda atribuiu responsabilidades ao contador das empresas da família - que teriam sido usadas na lavagem de dinheiro. O casal está preso temporariamente desde terça-feira (11), no Regimento de Polícia Montada, no Tarumã
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Richa e Fernanda deixaram a sede do Gaeco, no bairro Ahú, em Curitiba, pouco antes das 14 horas. Eles estavam no banco de trás de um carro modelo SUV, abaixados e tentando esconder o rosto. Antes disso, Richa permaneceu na sala de depoimentos por menos de 20 minutos. Acompanhado de seus quatro advogados, o ex-governador se fez valer de seu direito de permanecer em silêncio. Ele não respondeu a nenhum dos questionamentos feitos pelos promotores.
“O ex-governador preferiu ficar em silêncio e, portanto, não fez qualquer explicação sobre o que lhe foi pedido”, resumiu o procurador Leonir Batisti, coordenador do Gaeco.
Logo em seguida, Fernanda prestou depoimento. Ela foi ouvida pelos promotores das 12h40 às 13h30, assistida por dois advogados. Os defensores da ex-secretária deixaram a sede do Gaeco sem dar detalhes sobre a oitiva. Eles alegaram pressa em tomar algumas providências e que responderiam aos questionamentos posteriormente, por e-mail. O Gaeco, no entanto, adiantou que Fernanda respondeu às perguntas e jogou as responsabilidades ao contador Dirceu Pupo - que também está preso.
“A ex-secretária Fernanda Richa, principalmente, explicou que as responsabilidades cabiam ao administradores das empresas da família, especialmente ao [Dirceu] Pupo, em quem disse ter confiança. Ele quem realizava todas as atividades na administração da sociedade”, disse Batisti.
Segundo as investigações, empresas da família Richa - que tinham Fernanda como sócia - foram usadas para lavar dinheiro recebido como propina. A lavagem era feita, principalmente, por meio de operações imobiliárias, de compra, venda e permuta de imóveis, sempre envolvendo dinheiro vivo.
Também prestaram depoimento nesta sexta o empresário e ex-secretário de Assuntos Estratégico, Edson Casagrande, e André Felipe Bandeira. Segundo o procurador Leonir Batisti, Casagrande deu alguns detalhes do contrato de sua empresa, a Ouro Verde, com o governo do Paraná, no programa Patrulha do Campo. Bandeira, por sua vez, disse aos promotores que apenas desempenhava papel “secundário”, orientado pelo irmão, o empresário advogado Túlio Bandeira, que também está preso.
Joel Malucelli se entregou e deve ser ouvido na segunda-feira
Ainda nesta sexta-feira (14), o empresário Joel Malucelli se apresentou no Gaeco. Ele estava em viagem na Itália e agora passa a cumprir prisão temporária, de cinco dias. O empresário foi encaminhado ao Complexo Médico-Penal (CMP), em Pinhais, onde também estão detidos parte dos presos na operação. A intenção dos promotores é tomar o depoimento de Malucelli na próxima segunda-feira (17). Diferentemente do informado inicialmente nesta reportagem, ele não foi considerado foragido pelo MP.
Gaeco avalia prisões
O coordenador do Gaeco disse que o grupo ainda não definiu se vai pedir a renovação da prisão temporária dos acusados ou uma eventual conversão em prisão preventiva. Segundo Leonir Batisti, a partir de agora ele e os demais promotores que atuam na investigação vão analisar quais serão os próximos passos. A prisão temporária do núcleo político - formado por Richa, Fernanda, os ex-secretários Pepe Richa e Ezequias Moreira e Luiz Abi Antoum - vence às 23h59 de sábado. Por isso, a análise do Gaeco deve ser feita de forma rápida.
“Estamos ponderando tudo aquilo que nós temos. Não só as declarações tomadas, mas as outras evidências que confirmam ou não confirmam coisas que nós já temos. Ou seja, a materialização de situações”, disse o procurador.
Quem já prestou depoimento
Na quinta-feira (13) prestaram depoimento o empresário Celso Frare (da Ouro Verde), Ezequias Moreira (ex-secretário de Cerimonial), Dirceu Pupo (contador da família Richa), Aldair Petry (ex-funcionário do DER), Pepe Richa (irmão do ex-governador), André Richa (filho do casal) e Bruno Sarmento Cubas (empresário ligado a Cotrans). Os dois últimos estão em liberdade.
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As prisões decretadas pelo juiz Fernando Fischer, da 13ª Vara Criminal de Curitiba, são temporárias (prazo de cinco dias) e vencem neste sábado (15). Já o prazo de Casagrande e Malucelli começaram a contar a partir do momento em que eles foram presos, ou seja, na quinta-feira (13) e sexta-feira (14), respectivamente.
Luiz Abi Antoun, primo do ex-governador, preso em Londrina, também prestou depoimento na quinta (13).
Habeas corpus foram negados
O casal Richa já enfrentou duas derrotas na Justiça nos últimos dias. O desembargador Laertes Ferreira Gomes, do Tribunal de Justiça do Paraná, negou pedido de liberdade na quarta (12). Já a ministra Laurita Vaz, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), negou novo pedido nesta quinta (13).
O caso
Deflagrada na ultima terça-feira, a Operação Rádio Patrulha apura um esquema de corrupção no Patrulha do Campo, programa do governo estadual para apoiar a pavimentação de estradas rurais no interior. Segundo as investigações, a licitação para escolher as empresas que forneceriam as máquinas foi direcionada a três empresas, que, em troca, passou a pagar propina a um núcleo político. O Gaeco aponta o ex-governador Beto Richa como o responsável pelo esquema. No total, foram expedidos 15 mandados de prisão e 26 de busca e apreensão, em Curitiba, Londrina, Santo Antônio do Sudoeste e Nova Prata do Iguaçu. A investigação do Ministério Público foi reforçada pela delação premiada do ex-deputado estadual Tony Garcia, homologadas no dia 15 de agosto.
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