A araucária, símbolo do Paraná, se tornou uma árvore perseguida. Prestes a entrar em extinção, a proibição do corte no Paraná não foi capaz de acabar com o desmatamento, mas desestimulou o crescimento da espécie. Como não são emitidas autorizações para a retirada das árvores adultas, exceto condições bem específicas, pessoas arrancam as mudas que encontram para não perderem espaço no campo e residências. Em meio a muito debate, é consenso estimular o plantio. Por outo lado, o corte seletivo de árvores nativas é assunto proibido. A Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sema-PR) desenvolveu um plano de ação para ampliar a população de araucária no estado, mas ainda está no papel. A expectativa é que neste ano ele comece a ser implementado.
O primeiro problema começa nos números. Não se tem dados confiáveis e atuais. As florestas com araucária (Floresta Ombrófila Mista) já cobriram mais de 200 mil km², área que chegava até a Argentina, passava ainda por Rio de Janeiro e Minas Gerais, além de todos os estados do sul. De acordo com o levantamento da Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná (Fupef), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, feito há 16 anos, sobrou somente 0,8% de toda a floresta original no Paraná.
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Desde julho do ano passado, o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) formalizou a suspensão para autorização para corte de vegetação nativa no estado. O documento atende recomendação do Ministério Público do Paraná (MP-PR). Esta orientação, que deveria durar um ano, ainda está vigorando. Reforçando a moratória da araucária, o prefeito Rafael Greca (PMN) suspendeu retroativamente a partir do dia 8 de fevereiro todas as autorizações para o corte de araucárias em Curitiba. “Tudo que é muito restritivo e não tem regulamentação clara tende a levar ao descumprimento e repulsa dos cidadãos, como neste caso, levando à diminuição de exemplares da espécie”, admite o presidente do IAP, Luiz Tarcísio Mossato Pinto.
Em 2016, o instituto realizou 1.275 autos de infração por desmatamento ilegal e notificações que somam mais de R$ 14,7 milhões em multas. Ao todo, as ilegalidades correspondem a 17,4 mil km² desmatados ilegalmente. Este número é maior, porém a autarquia não fechou o levantamento de 2017.
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A repressão com o intuito de preservar a espécie gerou resposta contrária. As pessoas arrancam as mudas porque sabem que depois de adultas as árvores não poderão ser tocadas, mesmo com o comprometimento de replantar em outro local. Muitas que vingam ficam isoladas, por isto é comum ver uma araucária solitária em campo aberto ou em meio a cultivos agrícolas. Este cenário é terrível porque em pequenos fragmentos o índice de propagação da floresta é muito baixo. Como há pouca produção de pinha, os animais comem quase todas as sementes que serviriam para germinar novas árvores. Seria melhor permitir o corte desta árvore com o compromisso do plantio de mudas em florestas consolidadas. “Proposta que o IAP vinha discutindo com o Ministério Público, porém esse não é o mesmo entendimento dos promotores”, revelou o presidente do instituto.
Exemplo
“Houve uma superexploração. Tirar da lista de extinção exige um grande esforço do governo, sociedade civil e instituições. O primeiro passo é incentivar o plantio”, aponta Alexandre Siminski, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ele acompanhou o trabalho de manejo florestal de araucária dentro de uma área de Reserva Legal (RL) pertencente à fabricante de papel e embalagens WestRock. A RL corresponde a 20% de vegetação nativa que todo imóvel rural deve conservar por lei.
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Apesar das árvores terem sido plantadas há mais de 40 anos, em uma área próxima a Três Barras (SC), a floresta praticamente não sofreu intervenções, exatamente pela insegurança jurídica. As árvores que atingiram o máximo do crescimento foram colhidas, abrindo espaço para o desenvolvimento das remanescentes, mais jovens. O projeto foi autorizado pela Fundação do Meio Ambiente de Santa Catarina (Fatma).
Apesar de acreditar que é preciso dar mais valor econômico para a araucária, o professor é contrário à ideia do corte seletivo de nativas. O sistema segue os mesmos moldes do projeto realizado em Santa Catarina, porém em florestas naturais - como já acontece na Amazônia - chamado de Manejo Florestal Sustentável. Existe uma série de normas a serem seguidas, como número máximo de árvores a serem retiradas por hectare, tamanho mínimo, manutenção das sementeiras entre outros. “Acho uma estratégia perigosa porque os estoques estão muito baixos, o ideal é aumentar nossa reserva primeiro”, defendeu.
Para alguns produtores, o manejo das nativas poderia ajudar a financiar o plantio. “A araucária leva 60 anos para chegar ao ponto de corte final, é preciso dar uma fonte de renda ao produtor que pretende plantar essa espécie”, afirmou um consultor florestal ouvido pela Gazeta do Povo. De acordo com ele, uma nova intervenção na área manejada só seria realizada depois de 30 a 40 anos dando tempo suficiente para que se regenerasse.
Passou da hora de plantar araucária
Como não há oferta em grande quantidade, o preço da madeira de araucária caiu no mercado, afugentando os poucos produtores que tinham intenção de investir no plantio comercial. “Como tem pouco, não se desencadeiam os subprodutos como painéis laminados, que poderiam ter valor agregado maior. O que se tem, basicamente, é madeira serrada”, detalha Alexandre Siminski, da UFSC.
A matéria-prima para a indústria vem das poucas áreas autorizadas para supressão como derrubadas para aberturas ou ampliação de rodovias, por ação da natureza ou risco a vida. O metro cúbico da madeira de araucária está tão desvalorizado que rende pouco mais que a exótica pinus, quando o destino é a serraria e movelaria e até menos que toras de eucalipto - espécie mais cultivada no Brasil - com diâmetros acima de 35 cm. Assim, a única fonte de renda da araucária fica restrita ao comércio de pinhão.
A Sema-PR, por meio da Câmara Temática Biodiversidade, quer mudar este panorama. Está em fase final a resolução que estabelece uma política para incentivar o plantio e dar valor à árvore símbolo do Paraná. “Sem o viés econômico não se consegue investir no plantio e do jeito que está não pode ficar, as pessoas não estão plantando”, garante Antonio Carlos Bonetti, Secretário do Meio Ambiente. O manejo de nativas está descartado por enquanto. Participam do grupo de trabalho agentes do governo estadual, instituições de pesquisa e ONGs. No momento o documento está sendo analisado pela Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS).
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