Acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) no Paraná de comandar um esquema de propina na representação estadual do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), revelado pela Operação Carne Fraca, Daniel Gonçalves Filho teria dito no âmbito da sua delação à Procuradoria-Geral da República (PGR) que o deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR) recebeu “diversos pagamentos de propina em espécie” e que, a maioria deles, “girava em torno de R$ 10 mil”. A informação é do jornal O Globo, e foi divulgada na terça-feira (2).
Daniel Gonçalves Filho é ex-superintendente do Mapa no Paraná e está preso desde a deflagração da Operação Carne Fraca, em março de 2017. A partir daí, ele iniciou tratativas para tentar fechar um acordo de colaboração premiada com a PGR, o que se concretizou em setembro do ano passado. Recentemente, nos últimos dias de dezembro, de acordo com O Globo, ele teria tido sua delação homologada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF). A homologação é a última etapa do processo de delação.
A Gazeta do Povo ligou nesta quarta-feira (3) para o escritório em Curitiba do advogado do réu, Adriano Bretas, mas ele não quis conceder entrevista. Também procurados, a PGR informou que “não comentará sobre o assunto neste momento” e o STF esclareceu que os acordos de colaboração premiada e as respectivas homologações “só são confirmados [pelo STF] quando eles se tornam públicos por decisão do ministro-relator”.
Serraglio, que em meados do ano passado já havia negado qualquer envolvimento no esquema de corrupção revelado pela Operação Carne Fraca, voltou a rechaçar o conteúdo da delação. Em nota distribuída por ele à imprensa nesta terça-feira (2), o ex-ministro da Justiça do governo Michel Temer (PMDB) contestou Gonçalves Filho: “[O delator] diz que pagou em espécie. Pergunto: onde e como ele passou valores? Onde os sacou, como os transportou, quando e onde os entregou? O que vale é a palavra de quem quer ser solto. Negocia a honra alheia e é premiado”.
Bancada do PMDB na mira
Ao deflagrar a Operação Carne Fraca, há quase um ano, a Polícia Federal do Paraná já sustentava publicamente ter encontrado indícios de conexão entre políticos e o esquema de corrupção no Mapa. Na época, contudo, a PF não entrou em detalhes. Parte dos indícios foi encaminhada a Brasília, por envolver pessoas com mandato eletivo, detentores de foro especial por prerrogativa de função.
A bancada do PMDB do Paraná foi responsável pela indicação de Daniel Gonçalves Filho à superintendência paranaense do Mapa. Ele foi nomeado para o cargo em julho de 2007, permanecendo até fevereiro de 2014. Quase um ano e meio depois, voltou para a mesma função, e ficou até abril de 2016.
Agora delator no âmbito da Operação Carne Fraca, Daniel Gonçalves Filho estaria comprometendo todos os atuais integrantes da bancada da sigla no Paraná: além de Serraglio, Sérgio Souza, Hermes “Frangão” Parcianello e João Arruda. O conteúdo integral da delação ainda não foi divulgado, mas todos negaram terem recebido dinheiro do esquema de corrupção.
Além de Daniel Gonçalves Filho, outro réu da Operação Carne Fraca também já implicou deputados federais do PMDB do Paraná, especialmente Sérgio Souza. Durante depoimento de quase 3 horas ao juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara de Curitiba, o veterinário Flávio Cassou disse que havia uma espécie de esquema de pagamento de mesadas a políticos do PMDB do Paraná e citou o nome de Sérgio Souza.
O depoimento foi prestado em 1º de dezembro de 2017, dentro de uma das sete ações penais relacionadas à Operação Carne Fraca. Cassou também é réu e trabalhava em uma unidade paranaense (na Lapa) da Seara Alimentos Ltda, ligada à JBS.
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