Pelo texto apresentado pelos deputados, 1,2% das receitas líquidas do estado seria gasto para pagar emendas parlamentares.| Foto: Daniel Caron/Gazeta do Povo

Apoiada por 42 deputados, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que implementa o orçamento impositivo no Paraná tem grandes chances de ser aprovada até o final deste ano na Assembleia Legislativa. Pela PEC 5/2018, o governo paranaense será obrigado a pagar as emendas parlamentares – hoje, isso é facultativo. Como o texto da proposta reserva 1,2% das receitas correntes líquidas do estado para essa finalidade, cada um dos 54 deputados teria cerca de R$ 8,4 milhões em emendas no ano que vem.

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Na legislatura passada, 46 deputados chegaram a propor o orçamento impositivo, mas, diante da discordância do então governador Beto Richa (PSDB), o texto permaneceu engavetado e acabou arquivado. Agora, os parlamentares voltaram à carga e reapresentaram a proposta no último mês de junho sob inspiração da Emenda nº 86, que está em vigor desde 2015 no governo federal.

Historicamente, os deputados estaduais até chegam a incluir emendas no orçamento enviado à Casa pelo Poder Executivo, mas elas nunca são pagas. Na prática, o costume é que parlamentares aliados ao governador façam indicações dentro de um cardápio prévio apresentado pelo Palácio Iguaçu e, assim, possam assumir o papel de “pais” de determinadas obras e distribuições de recursos aos municípios.

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Justamente por isso, na justificativa da PEC os 42 deputados afirmam que se trata de uma “legítima exigência da Assembleia e, consequentemente, da própria sociedade paranaense, tornando-se um avanço no sentido de fortalecer a participação do Parlamento na execução dos recursos púbicos”. Eles dizem que são os parlamentares que “conhecem as necessidades das regiões que representam” e que podem vencer a “burocracia estatal” que a comunidade enfrenta para ter acesso ao governo do estado. Afirmam ainda que a medida garante isonomia no pagamento das emendas, impedindo “preferências ou privilégios em função da filiação partidária”.

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Trâmite na Casa

Governador eleito, Ratinho Junior (PSD) é um dos que assina a PEC. O atual presidente da Assembleia, Ademar Traiano (PSDB), também está entre os signatários. Logo, tudo leva a crer que o texto deve ser aprovado até dezembro, para valer já em 2019. Mas, no Legislativo e dentro do próprio governo, há consenso que não existe de onde tirar R$ 453,5 milhões para garantir o pagamento das emendas impositivas no ano que vem.

Uma das saídas estudadas é condicionar que o dinheiro que a Assembleia devolve ao Executivo ao final de cada ano desde 2011 seja aplicado nessa finalidade. Outro caminho, menos provável, seria o governo deixar de repartir o Fundo de Participação dos Estados (FPE) com os outros poderes – um repasse em torno de R$ 396 milhões em 2019. No entanto, como isso exigiria uma negociação desgastante, sobretudo com Tribunal de Justiça e Ministério Público, a medida poderia valer apenas para a própria Assembleia e o Tribunal de Contas.

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Além disso, existe a ideia de estabelecer que metade do valor das emendas impositivas seja destinada exclusivamente à área da saúde – sem incluir gastos com pagamento de pessoal e encargos sociais –, a exemplo da Emenda Federal nº 86. Essa seria, inclusive, uma forma de evitar problemas para o governo do estado atingir o índice mínimo de 12% de investimentos no setor.