Principal delator da Quadro Negro, o dono da Valor Construtora, Eduardo Lopes de Souza, disse em audiência na 9ª Vara Criminal de Curitiba, na semana passada, que o esquema de desvios de escolas estaduais investigados pela operação também abasteceria a campanha do ex-governador Beto Richa (PSDB) ao Senado. O vídeo do depoimento foi divulgado na noite desta segunda-feira (14), pela RPC.
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Segundo o empreiteiro, o ex-diretor da Secretaria de Estado da Educação (Seed) Maurício Fanini o interpelou em 2015, logo após a reeleição de Richa ao governo, cobrando mesadas de R$ 100 mil para abastecer, via caixa 2, gastos de campanha do tucano em 2018 para o Senado. O fundo ajudaria a financiar também as campanhas do irmão e do filho de Beto – Pepe e Marcello Richa –, que se candidatariam, respectivamente, a deputado federal e a deputado estadual.
“Mas já, cara?”, foi a pergunta que Lopes de Souza diz ter feito a Fanini. “É, R$ 100 mil por mês. Vai ser ele senador, o Pepe e o Marcello”, teria sido a resposta, segundo o empreiteiro.
De acordo com o delator, o pagamento da mesada teria sido feito diretamente a Fanini por quatro ou cinco meses, até ele ser exonerado do cargo. Pouco depois, as fraudes na Seed foram descobertas e a operação Quadro Negro foi deflagrada. Até agora, o Ministério Público Estadual (MP-PR) apontou que os desvios passam de R$ 20 milhões.
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À Justiça, Lopes de Souza afirmou ainda que Richa tinha sido avisado por Fanini da “ajuda” que a Valor vinha dando à campanha dele em 2014. Durante uma partida de tênis, ao ser informado pelo então diretor da Seed de que havia três empresas no esquema, o tucano teria questionado: “São de confiança?”. Ao receber uma resposta afirmativa, teria devolvido: “Então, ok, pode fazer”.
À RPC TV, Beto Richa disse que “são falsas as informações prestadas por um criminoso confesso que não tem fundamentos ou provas”; e que determinou investigações quando soube das irregularidades. Marcello Richa afirmou que as acusações do delator são inverídicas e sem provas. Pepe Richa não foi localizado.
Novo interrogatório
No novo interrogatório do principal processo da Quadro Negro, Lopes de Souza falou pela primeira vez na condição de delator à Justiça Estadual. Até então, ele vinha sendo ouvido apenas como réu e, por isso, não havia detalhado com tantas minúcias o esquema que desviou recursos de escolas do estado. O processo corre em segredo de Justiça e tem 15 réus ao todo.
Além do empreiteiro, que falou por cerca de cinco horas, também prestaram depoimento ao longo da semana, o filho dele, Gustavo, e a irmã, Viviane. Os três já tinham sido ouvidos no processo, mas não haviam respondido a todas as perguntas. Depois, no final do ano passado, Lopes de Souza fechou um acordo de colaboração premiada, homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e passou a ajudar nas investigações − daí os interrogatórios.
Agora, somente um réu precisa ser ouvido no caso, o ex-diretor da Seed Maurício Fanini, preso em Brasília. Ele será ouvido por carta precatória. Fanini aguarda a homologação do seu acordo de colaboração premiada pelo STF.
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