A análise e homologação da colaboração premiada do ex-diretor da Secretaria de Estado da Educação Maurício Fanini está ameaçada. A delação, que estava em processo de negociação com a Procuradoria-Geral da República (PGR), foi suspensa, depois que o jornal O Globo divulgou, no último fim de semana, trechos do que Fanini teria relatado aos procuradores federais. Preso desde setembro na Operação Quadro Negro, o ex-diretor foi citado em outra delação, em que é apontado como um dos operadores do esquema de desvio R$ 20 milhões de escolas públicas e que teria beneficiado a campanha do governador Beto Richa (PSDB).
À Gazeta do Povo, a PGR se limitou a informar que solicitou à Polícia Federal (PF) a abertura de investigações sobre vazamentos à imprensa de informações relacionadas a cinco casos que tramitam sob segredo de Justiça. Extraoficialmente, fontes consultadas pela reportagem atestam que um desses pedidos diz respeito à delação de Fanini. A defesa do ex-diretor da Secretaria da Educação disse apenas que aguarda um posicionamento da PGR sobre como proceder a partir desses fatos novos.
Fanini era apontado como amigo de Richa e “longa manus” do governador. As investigações da Quadro Negro contam com fotos de uma viagem que Richa, Fanini e suas respectivas esposas fizeram a Miami, para comemorar a reeleição do governador. O próprio Richa não negou sua relação de amizade com o ex-diretor.
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A reportagem publicada pelo O Globo aponta que Fanini relatou aos procuradores que recebeu um “cala boca” de um empresário ligado a Richa, que corresponderia a uma mesada de R$ 12 mil e que os pagamentos ocorriam por ordem do próprio governador.
A participação de Fanini nos desvios investigados pela Quadro Negro foi detalhada pelo empresário Eduardo Lopes de Souza, dono da Valor Construtora. Em delação premiada, Souza apontou que ex-diretor de Educação disse que pretendia arrecadar R$ 32 milhões para a campanha de reeleição de Richa, por meio do esquema.
O construtor relatou ainda pagamentos feitos em mochilas e até em caixas de vinho. A delação menciona ainda outros políticos, como os deputados Valdir Rossoni (PSDB), Ademar Traiano (PSDB) e Plauto Miró (DEM).
Todos os citados negam participação no esquema
Todos os citados sempre negaram participação no esquema. Na ocasião, Richa desqualificou Lopes de Souza e classificou “as declarações do delator como afirmações mentirosas de um criminoso que busca amenizar a sua pena”. O governador acrescentou ainda que jamais teve contato com o empresário e que não autorizou que alguém o fizesse e chamou o delator de criminoso.
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Rossoni disse que não deve prevalecer a “palavra de um bandido” e acrescentou que renuncia ao cargo público que ocupa se houver alguma prova contra ele. Traiano repudiou veementemente as declarações que constam da delação. Plauto Miró, por sua vez, disse que aguarda com serenidade a conclusão das investigações.
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