Nada que esteja errado ou precisando de melhorias em Curitiba passa despercebido pela empresária Eliete Ferraz Sabino de Almeida, de 62 anos. Ela é a campeã de ligações à Central 156, da prefeitura de Curitiba, com 428 telefonemas nos últimos 16 anos. E dos pedidos que fez, quase 100% deles foram atendidos. Por isto, já foi até batizada de “síndica de Curitiba”.
Eliete já pediu asfaltamento de rua, academia ao ar livre, vagas para idosos e deficientes, recolhimento de lixo e entulhos, melhorias para pedestres atravessarem ruas com mais segurança, encaminhamentos de pessoas à Fundação de Ação Social (FAS) ou a unidades de saúde. Já conseguiu remédios e abrigo para moradores de rua, entre várias outras conquistas, apenas telefonando à Central.
“Meu objetivo é buscar o melhor conforto à comunidade. Se tem coisa errada, a gente vai buscar os órgãos públicos. Não adianta só ficar criticando os governantes, tem que buscar a solução. E achei apoio no 156. Se todo mundo fizesse a sua parte, não tinham coisas erradas. Já até me chamaram de síndica de Curitiba, de tanto que liguei pra lá. Eu pedi desculpas, mas o atendente disse que eu não deveria me desculpar porque sou uma cidadã assídua”, explica a empresária, que foi convidada a conhecer a Central 156.
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Sempre tem algo
Eliete conta que, se olhar bem ao redor, é possível encontrar dez, vinte coisas que podem receber melhorias no seu trajeto diário. “Aqui no bairro não tinha academia ao ar livre. Eu ligava para o 156 e diziam que o bairro não comportava uma. De tanto eu cobrar, fizeram uma academia na Rua da Cidadania, que tem bastante fluxo de pessoas”, diz a “síndica”, moradora do Cajuru.
A empresária também já conseguiu melhorias de infraestrutura de trânsito que estão sendo feitas na Avenida Victor Ferreira do Amaral; vagas para deficientes e idosos em frente ao Juizado Especial, no Água Verde, e à Farmácia Popular, no Centro de Curitiba; já conseguiu medicamentos para pessoas carentes, simplesmente por conseguir encaminhá-las a uma unidade de saúde; já conseguiu encaminhar pessoas em situação de rua para abrigos, entre muitas outras coisas. Atualmente, a “luta” dela é em prol da revitalização do asfalto das ruas Imbituva e Teófilo Otoni, ambas no Cajuru - entre suas conquistas está asfalto para outras ruas da cidade. “São coisas necessárias. Não faço telefonemas por capricho ou porque quero fama. São coisas importantes para a comunidade”, mostra ela.
Politicagem não!
Eliete não aceita que políticos venham fazer propaganda com as reivindicações que ela conseguiu. Certa vez, ela conta que parou numa rua do Cajuru e ficou observando um idoso, que demorou 20 minutos para conseguir atravessar a rua. Então ela visualizou que um redutor de velocidade ali naquele ponto seria bom para os pedestres. Passou meses insistindo na solicitação à Central 156, até que conseguiu. “No dia que instalaram o equipamento, chegou um vereador dizendo que ele tinha conseguido. Eu dei um chega pra lá nele em público. Eu que moro aqui há 40 anos, eu que observei a comunidade, eu sei quais as necessidades daqui e consegui a melhoria. É fácil chegar perto da eleição e ele dizer que conseguiu. Eu disse a ele: ‘nem vem dizer que foi você o autor dessa obra’”, conta a moradora.
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“Funciona ligar para o 156, desde que você saiba objetivamente o que você quer solicitar e o endereço correto. Pois tem pessoas que são confusas, que ligam mas não sabem direito o que querem pedir. Você tem que saber dizer de forma clara o que aquela situação pode prejudicar a população, se continuar da forma como está. Não precisa bater foto, basta ser expressivo, saber contar direito o problema. 95% das minhas solicitações foram atendidas. E eu não me preocupo com a quantidade, e sim com a qualidade das melhorias que consegui para a cidade”, afirma Eliete.
Candidata a algo?
Eliete diz que já foi candidata a deputada e vereadora, mas não pretende mais disputar nada. “Hoje em dia, só se elege quem tem muito dinheiro, quem se mete em propina, em lavagem de dinheiro. É muita sujeira. Se for pra me candidatar, só se for nos braços do povo, se me disserem que a eleição vai ser limpa e justa, sem falcatrua”, diz a empresária.
Mudando a cidade
A equipe da Central 156 vê como muito positiva a atitude da empresária Eliete Ferraz, que já fez 428 solicitações. “Vejo isso como uma postura muito positiva e colaborativa, porque a ideia e a missão do 156 é justamente interligar o cidadão com a administração pública, para promover uma transformação na cidade. E ela capta muito bem isto, porque ela não faz solicitações só para proveito próprio, ela pensa no coletivo. E acompanha cada uma das solicitações para ver como está o andamento, insiste”, diz Ozires de Oliveira, coordenador de atendimento da central.
Conforme ele, através do 156, o cidadão consegue ter acesso a 2.500 serviços da administração municipal. Os mais solicitados são os de meio ambiente (coleta de resíduos vegetais), iluminação pública (troca de lâmpadas queimadas), trânsito (melhorias e fiscalização), transporte coletivo, além das abordagens sociais de rua e questões ligadas às unidades de saúde.
Já entre os serviços disponíveis, mas pouco solicitados, estão, por exemplo, a fiscalização de publicidade nas vias (placas irregulares em calçadas e postes), comércio ambulante irregular (atrapalhando comércio estabelecido ou vendendo produtos piratas), e reclamações de poluição sonora.
Mas também há muitas chamadas que não são de responsabilidade da prefeitura. “Tem gente que liga porque precisa de um advogado, ou porque está com problemas com a Sanepar ou a Copel. Confundem, acham que isto é conosco. Mas como são chamados recorrentes, nós já temos informações básicas para guia-lo e não deixa-lo sem resposta. Temos os contatos da Defensoria Pública (que é um serviço estadual), e da Copel e Sanepar, por exemplo”, mostra ele.
Demandas caíram
Tanto os pedidos de informação, quanto a solicitação de serviços, caíram muito na Central 156. No caso das solicitações de serviços, por exemplo, a Central recebeu quase 560 mil demandas em 2013 e pouco menos de 420 mil no ano passado. Ou seja, uma redução de 25%. Já nos pedidos de informações, a queda foi muito mais expressiva: 58%. Foram quase 1,2 milhões de atendimentos em 2013, para cerca de 500 mil em 2017.
Ozires de Oliveira detectou três motivos. O primeiro foi a desintegração do transporte coletivo, no início de 2015. “O campeã de demandas ao 156 era o transporte metropolitano. Quando houve a desintegração, as ligações por este motivo praticamente acabaram. Mas como o sistema foi reintegrado ano passado, as demandas voltaram”, explica ele.
O segundo fator foi o descrédito dos cidadão com o serviço. “Quando o [Rafael] Greca assumiu, havia muitos contratos de serviços descontinuados. Muitas manutenções não estavam sendo feitas. Isso gerou falta de credibilidade, porque as pessoas ligavam e não tinham as solicitações atendidas. Mas isso tudo foi retomado e está resgatando a confiança das pessoas, que estão voltando a ligar”, mostra o gestor.
O terceiro fator, diz Ozires, foi o trabalho pró-ativo de algumas secretarias municipais. “Elas não estão esperando chegarem as solicitações via 156 para fazer o serviço. Já estão indo e fazendo onde encontram a necessidade. A prefeitura tem melhorado a coleta de resíduos vegetais e entulhos, a iluminação pública e a infraestrutura de trânsito. Por isto os cidadão estão solicitando menos estes serviços”, diz ele.
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