Quando assumiu o cargo de primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau justificou de forma curta e direta seu time ministerial, composto exatamente por 15 homens e 15 mulheres. “Por que promover a igualdade de gêneros no primeiro escalão do governo?”, questionou uma jornalista. “Porque estamos em 2015”, disparou Trudeau.
Na parte de cá do mundo, o governador eleito pelo Paraná, Ratinho Jr. (PSD), admirador confesso do político canadense, terá, a partir de 2019, a missão de incluir mais mulheres em cargos de chefia do Executivo, um ambiente quase que totalmente dominado por homens.
Em sua campanha, Ratinho Jr. prometeu que terá uma participação feminina importante em seu governo. Em sabatina na Gazeta do Povo durante a corrida eleitoral, o então candidato afirmou que quer “fazer um governo com muitas mulheres”. “Acho que a mulher tem um papel fundamental em consolidar esse perfil. Que elas possam ter cargos importantes e demonstrar seu talento e boa gestão”, apontou.
Semanas após o resultado das eleições, no entanto, a chapa de Ratinho evita falar em configuração do novo secretariado. E ainda não dá pistas sobre quantas e quais serão as mulheres em cargos de primeiro escalão e diretoria de empresas do governo. As discussões sobre cargos ainda são “embrionárias”, diz a assessoria do governador eleito.
Mulheres são minoria no Paraná
De fato, ter uma equidade ou algo próximo a isso não é usual na política brasileira – o Paraná não foge à regra. Mesmo com o estado atualmente chefiado por uma mulher, Cida Borghetti (PP), os nomes femininos são uma tímida minoria nos cargos de primeiro escalão.
Atualmente, ocupam postos de destaque a Coronel Audilene Rocha (Comando-Geral da Polícia Militar); Lucília Dias (chefia de Gabinete); Nádia Oliveira de Moura (Secretaria de Estado da Família e Desenvolvimento Social) e Lucia Aparecida Cortez Martins (Secretaria de Educação). Todas as demais 17 pastas (ou estruturas com status de secretaria) são coordenadas por homens.
O governo Beto Richa (PSDB) encerrou com um número igualmente ínfimo de mulheres no comando, entre elas Ana Seres Trento Comin (Secretaria de Educação) e Fernanda Richa (Secretaria da Família e Desenvolvimento Social).
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Quais são os critérios para nomeação?
De acordo com posicionamento do governo, a nomeação para os cargos leva em conta “conhecimento técnico e trânsito político que permitam executar as tarefas”. A soma das duas coisas é o que influi na nomeação.
Uma fonte ligada ao governo relata, no entanto, que os critérios nem sempre são esses. Os acordos partidários ainda têm um peso fundamental nas escolhas. Os partidos da base aliada fornecem seu apoio e indicam nomes para pastas importantes. E, em um universo essencialmente composto de homens, não é difícil imaginar porque não existe equidade na distribuição dos cargos entres os gêneros.
Participação pequena das mulheres
O caráter machista da política é apontado também pela Secretaria de Políticas para Mulheres – um órgão do governo federal vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos. Por nota, a organização diz que “tradicionalmente, os partidos políticos são coordenados por homens. A presença de mulheres nas direções de partidos é muito pequena”.
“Uma das características do padrão feminino de participação política consiste na tendência a estar mais presente nos espaços locais – em oposição aos espaços estaduais e federal – por ser mais fácil, para elas, ter acesso a tais espaços. Também há uma tendência de que elas ingressem na política institucional a partir de sua atuação prévia em organizações da sociedade civil e na área social”, aponta a secretaria.
Um exemplo é o próprio governo federal, que tem no primeiro escalão apenas Grace Maria Mendonça, advogada-geral da União. Um dado que mostra que talvez o cenário não esteja de fato mudando no Brasil – o governo de Dilma Rousseff (PT), por exemplo, teve mais mulheres em destaque, chegando a cinco ministras em 2011 (o número de ministérios também era maior, 39 ante a 29 da gestão Michel Temer, MDB).
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Soluções apontadas
“A única forma de diminuir este descompasso é aumentando a representativa das mulheres na política como um todo. Dos cargos majoritários aos proporcionais. As mulheres precisam assumir comando de partidos, ter voz ativa nas decisões. Só isso irá equilibrar. Por isso regras como [a de destinar 30%] do fundo de campanha são importantes”, defende a socióloga Paula Benvenutto, mestre pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. “O eleitorado feminino no Brasil está na casa dos 52%, enquanto o número de candidatas foi perto de 30%. O protagonismo precisa ser maior”, justifica.
Se a mudança pode acontecer no Paraná, é preciso esperar. Na campanha eleitoral do estado, por exemplo, a chapa de Ratinho Jr. era a única entre as principais sem uma mulher como vice ou candidata ao Senado. “Isso foi uma conjuntura política. Escolhi o simbolismo da geração de emprego e o Darci Piana [vice nomeado pela chapa] vem de um segmento que gera 63% dos empregos no estado. E quando fala em gerar emprego é gerar emprego para a mulher, para a pessoa com mais idade e para o jovem”, disse Ratinho em setembro.
“Se você pegar as chapas de deputado federal e estadual, ninguém tem tanta candidata. Não estou falando de candidata laranja, para cumprir tabela da lei. Tivemos que fazer uma convenção para cortar candidatas mulheres e homens. Se pegar o protagonismo das mulheres em nossa chapa, é maior do que qualquer outra”, afirmou Ratinho.
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