Entre 2004 e 2008, uma servidora da prefeitura de Curitiba desviou R$ 2,1 milhões do Fundo Municipal de Saúde em um esquema relativamente simples. A funcionária – que foi exonerada e responde a dois processos na Justiça – se aproveitava de um cargo de chefia para alterar dados de credores da Secretaria de Saúde. Com isso, ao invés de os recursos serem transferidos para os fornecedores, o dinheiro seguia para contas bancárias da servidora e de seus parentes.
A Gazeta do Povo relembrou o caso e revelou que, até hoje, nada foi devolvido ao município. Esse caso, porém, não é o único em que esquemas grosseiros desviaram quantias significativas de órgãos públicos. Relembre outros dois episódios:
Boletos falsificados
No ano passado, o Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce) prendeu uma funcionária da Companhia Paranaense de Energia (Copel) suspeita de desviar mais de R$ 500 mil da empresa em apenas dois meses. Ela trabalhava no Departamento Administrativo da estatal e, de acordo com as investigações, quitava boletos particulares com recursos da Copel.
Para colocar o esquema em prática, a funcionária se aproveitou do acesso ao sistema em que eram lançadas as faturas a serem quitadas pela empresa. Com a troca de boletos, ela conseguiu comprar até um carro de luxo zero quilômetro. Outras despesas particulares pagas pela Copel foram a quitação de um terreno em Colombo, a construção de uma casa pré-fabricada e a aquisição de eletrodomésticos e produtos de beleza.
A fraude foi descoberta porque a empresa contratada pela funcionária para fazer os novos boletos desconfiou do esquema e avisou a Copel. Em depoimento à polícia, a funcionária afirmou que fez os desvios porque possuía uma doença terminal. O objetivo, segundo ela, seria deixar os familiares em uma boa condição financeira após a sua morte. A polícia não divulgou o nome da funcionária, que foi demitida por justa causa. Ela responde a uma ação penal e a um processo por improbidade administrativa, que pede o ressarcimento dos valores desviados à Copel.
Bolsas desviadas
Também no ano passado outro esquema considerado grosseiro foi descoberto, desta vez pela Polícia Federal. O caso aconteceu na Universidade Federal do Paraná (UFPR), desviando ao menos R$ 7,3 milhões. O esquema, comandado por duas servidoras da universidade, se aproveitava da fragilidade no sistema de controle dos pagamentos para que recursos de bolsas fossem pagos para pessoas que não tinham sequer vínculo com a UFPR.
De acordo com as investigações da Operação Research, essas pessoas foram cadastradas como bolsistas, recebendo até R$ 30 mil em um único mês. Mais de trinta pessoas estavam incluídas no esquema, entre elas até moradores de outros estados. Pouco depois da operação, em março de 2017, o Ministério Público Federal (MPF) no Paraná denunciou 36 pessoas envolvidas no esquema.
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Em março deste ano, as duas servidoras - Conceição Abadia de Abreu Mendonça e Tania Márcia Catapan -, que chegaram a ser presas, foram demitidas pela UFPR depois de uma sindicância interna. Além disso, a universidade processou ambas para cobrar a devolução do dinheiro. Há ações nas esferas cível e criminal. Uma delas, que tramita na 14ª Vara Federal, está se encaminhando para a sentença.
Quando houve a demissão das funcionárias, os advogados de defesa de ambas afirmaram que pretendiam tentar reverter a decisão na justiça.