Metade dos 30 deputados paranaenses que tomaram posse nesta sexta-feira (1) na Câmara Federal não estava no Congresso nos últimos quatro anos. A renovação da bancada paranaense foi maior do que a média nacional, de 47%. Isso em uma eleição em que, segundo dados da Secretaria Geral da Mesa da Câmara, a taxa de renovação foi a maior desde a eleição da Assembleia Nacional Constituinte, em 1986.
Pelos números, a impressão que se tem é de que a renovação é a principal característica da nova bancada. Deixando as taxas de lado e olhando para cada um dos 15 novos deputados é possível perceber que, mesmo renovada, a bancada 2019-2022 vem com experiência política e com a chancela de instituições ou famílias que tradicionalmente ocupam cargos públicos no estado. É, em suma, uma renovação controlada e as exceções – quase todas – podem ser colocadas na conta da onda bolsonarista.
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Entre os nomes experientes que assumem como novidade estão a ex-senadora e ex-ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann (PT); o ex-prefeito de Curitiba Gustavo Fruet (PDT), que já foi deputado federal por três mandatos; o ex-prefeitos de Pinhais, Luizão Goulart (PRB) e de Salto do Lontra, Vermelho (PSD); e os ex-deputados estaduais Schiavinatto (PP) e Ney Leprevost (PSD).
Os mais jovens, que até por isso carregam a bandeira da renovação, são descendentes de tradicionais famílias políticas do Paraná: Pedro Lupion (DEM) é filho de Abelardo Lupion (DEM); Felipe Francischini (PSL) é filho de Fernando Francischini (PSL); e Luisa Canziani (PTB) filha de Alex Canziani (PTB).
O também novato Aroldo Martins não tem sobrenome político, foi eleito pelo PRB, na cota destinada aos indicados pela Igreja Universal do Reino de Deus.
Outros quatro novatos parecem ter sido levados a Brasília pela onda conservadora animada pela candidatura de Jair Bolsonaro: Aline Sleutjes (PSL); Filipe Barros (PSL); Paulo Martins (PSC), que, como suplente, já havia ocupado uma cadeira na Câmara Federal por alguns meses; e Sagento Fahur (PSD), um policial militar da reserva que foi eleito após viralizar nas redes sociais com discursos que misturam corporativismo militar com desprezo aos direitos humanos.
O ponto fora da curva dessa “renovação controlada” é o deputado Boca Aberta (Pros), de Londrina. Polemista estridente, ele insiste em ações e discursos antipolíticos e foi eleito um ano após ter sido cassado da Câmara de Londrina por quebra de decoro parlamentar.
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Desafios comuns e interesses contraditórios
Somados aos outros 15 parlamentares reeleitos, os novatos passam a compor uma bancada heterogênea que, além das bandeiras individuais, deverá dar conta de uma série de demandas, por vezes contraditórias, da sociedade paranaense.
Para o presidente da Federação das Indústrias do Paraná, Edson Luiz Campagnolo, muito mais do que articular interesses regionais, o setor produtivo espera dos parlamentares a melhoria geral do ambiente de negócios no país. Para Campagnolo, isso passa pela adoção de uma agenda mais liberal na economia.
“Há muitas amarras que deixam o setor produtivo refém de muitas normativas, que são criadas pelos órgãos ambientais, de controle e pela Receita Federal. No Brasil, parece que até que prove o contrário, o empreendedor é um sujeito mal-intencionado”, avalia.
Para Campagnolo, há uma tradição equivocada de deputados levarem prefeitos para “passar o chapéu em Brasília”. Segundo ele, a bancada poderia concentrar sua articulação e também as emendas parlamentares em questões mais gerais de infraestrutura e logística, e não em intervenções pontuais e pouco articuladas, como por exemplo a construção de barracões industriais no interior.
As expectativas de Frank Ariel Schiavini, prefeito de Coronel Vivida e presidente da Associação dos Municípios do Paraná (AMP) são diferentes das de Campagnolo. De modo geral, ele espera que os parlamentares trabalhem pela revisão do pacto federativo. As entidades municipalistas se queixam do fato de os municípios terem muitas obrigações e poucos recursos para cumpri-las.
Em alguns pontos, as demandas do presidente da AMP vão de encontro às do presidente da Fiep. Schiavini destaca que boa parte dos municípios sobrevive dos repasses estaduais e federais e, muitas vezes, essas receitas pagam as despesas de custeio, portanto as prefeituras não têm dinheiro para investimentos e, para isso, contam quase eu exclusivamente com a destinação das emendas parlamentares.
A cada setor que se manifesta, o conflito de interesses se aprofunda.
Enquanto os industriais alertam para o excesso de regulação, as demandas de quem trabalha com conservação da natureza vão em sentido contrário. Clóvis Borges, diretor executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), sustenta que os parlamentares devem ter responsabilidade ao lidar com assuntos relacionados a licenciamento ambiental.
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“Licenciamentos não podem ser flexibilizados da maneira com a qual se argumenta. Mas sim estruturados com capital humano qualificado e suficiente, com isenção absoluta e transparência, caso contrário situações como Brumadinho continuarão acontecendo”, alerta.
Com um olhar propositivo, Borges sugere que os deputados amparem iniciativas de turismo de natureza como uma indústria geradora de emprego e renda no Paraná.
A articulação de interesses e a necessidade de contemporizar diante dos inúmeros e conflituosos pedidos pode ser um desafio para a bancada paranaense, especialmente para aqueles deputados eleitos com discursos monotemáticos e intransigentes.
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