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Requião ficou 36 anos consecutivos no poder. | Jefferson Rudy/Agência Senado
Requião ficou 36 anos consecutivos no poder.| Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Roberto Requião construiu uma trajetória pouco comum na história paranaense. Foi o político que mais vezes governou o estado, por três mandatos. Foi ainda eleito duas vezes senador, prefeito de Curitiba por um mandato e deputado estadual. É um dos políticos mais antigos com cargo eletivo atualmente no Paraná – perde apenas para o também senador Alvaro Dias, que começou a carreira em 1969, como vereador de Londrina. Mas, depois de 36 anos consecutivos no poder, Requião ficará sem cargo eletivo a partir de 1º de fevereiro de 2019, quando termina seu mandado de senador da República pelo MDB.

A derrota de Requião nas eleições deste ano compõe o rol de grandes surpresas na política estadual, incluindo aí a eleição do até então pouco conhecido Oriovisto Guimarães (Podemos). O emedebista, marcado por grandes polêmicas, vitórias e derrotas, liderava com folga as pesquisas de intenção de votos até a véspera das eleições. Mesmo com forte base nos municípios, não resistiu ao terremoto provocado pela candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República e a liderança disparada de Ratinho Junior (PSD) ao governo estadual, além da prisão do ex-governador Beto Richa (PSDB).

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Faltando poucos mais de dois meses para o primeiro turno, em 4 de setembro, pesquisa do Ibope mostrava Requião líder com folga na corrida ao Senado. Ele tinha 43% das intenções de voto, seguido pelo ex-governador Beto Richa (28%), Flávio Arns (17%) e Alex Canziani (11%). Oriovisto era citado por apenas 3%.

A reeleição parecia tranquila nas pesquisas seguintes, apesar de um terremoto provocado pela prisão de Richa nas investigações da Operação Rádio Patrulha, que apura cobrança de propina e fraude de licitação na contratação das Patrulhas do Campo. Em levantamento na véspera da eleição, Requião mantinha folgados 38% e tudo indicava que a vaga estava garantida.

Aberta as urnas, veio a surpresa. O senador amargou um terceiro lugar, com apenas 15% dos votos – menos da metade do previsto pela pesquisa divulgada no dia anterior. Oriovisto ficou em primeiro lugar e Flávio Arns garantiu a segunda vaga.

Dúvidas sobre o futuro de Requião

Requião em atuação no Senado.Roque de Sá/Agência Senado

Com Requião sem cargo eletivo a partir de fevereiro, muitas são as dúvidas sobre o futuro dele, especialmente por se tratar de uma figura que centralizou boa parte da política paranaense nas últimas décadas. A reportagem entrou em contato com o gabinete do senador, que preferiu não dar entrevista.

Uma coisa, entretanto, é certa: para quem convive com o emedebista e também para analistas, mesmo sem cargo ele não perderá totalmente o poder. E quase todos apostam que ele terá papel decisivo nas eleições municipais, daqui a dois anos.

Embora tenha idade significativa – vai fazer 78 anos – , o Requião tem uma saúde de ferro. E ele tem espaço ainda, liderança, vai perseverar na política. A perda do mandato eletivo não o eliminará da cena política. Certamente ele vai disputar outras eleições.

Luiz Claudio Romanelli (PSB) deputado estadual, que durante 35 anos fez política ao lado de Requião e, mais recentemente, se afastou para apoiar o governo de Beto Richa. Hoje diz não ter mais nenhuma relação com o senador.

Mais cauteloso, o filho do senador, deputado estadual Requião Filho, também descarta a aposentadoria de Requião neste momento, mas diz que ele não deve disputar eleição a curto prazo. “O Requião vai continuar sendo a referência no MDB. Não existe MDB no Paraná sem o Requião. A médio prazo eu vejo que ele pode voltar a disputar eleição, mas a curto prazo não”, avalia.

Para o cientista político Doacir Quadros, professor do grupo Uninter, Requião continuará como uma liderança política ainda muito atuante na política paranaense. “Ele teve uma derrota eleitoral, mas isso não significa o fim de sua trajetória política. Essa derrota nas urnas estava mais ou menos anunciada, ele vinha sofrendo desgaste. Mas isso não é o fim da carreira dele”, diz.

Um dos poucos que desenham cenário menos ativo para Requião é seu sobrinho, o deputado federal e candidato derrotado nas eleições ao governo do estado João Arruda. “Um cara que tem uma história como o político mais vitorioso do Paraná e uma grande participação no cenário político nacional, talvez seja o momento de ele descansar um pouco e contribuir de outras maneiras, opinando, sugerindo, incentivando candidaturas”, sugere.

Essa longa história demonstra que talvez seja a hora de o Requião sair um pouco do centro da política, do exercício dos mandatos, e ocupar um outro espaço na vida, estar mais conectado com a família, com os eleitores, com as pessoas em geral. Enquanto ele estiver vivo com certeza vai contribuir com a política paranaense, mas poderia dedicar este momento para escrever a biografia da vida dele.

João Arruda (MDB), deputado federal e sobrinho de Requião

Dedicação a biografia divide opiniões

Quando fala em contribuir de outras maneiras, Arruda cita, por exemplo, a publicação de uma aubiografia. “Essa longa história demonstra que talvez seja a hora de o Requião sair um pouco do centro da política, do exercício dos mandatos, e ocupar um outro espaço na vida, estar mais conectado com a família, com os eleitores, com as pessoas em geral. Enquanto ele estiver vivo com certeza vai contribuir com a política paranaense, mas poderia dedicar este momento para escrever a biografia da vida dele. Por tudo que passou, ele tem muito a contar sobre a política paranaense, a política nacional, seria uma grande contribuição para a Fundação Ulisses Guimarães, para o acervo histórico do partido”, defende.

A ideia da biografia tem a simpatia do filho. “Eu adoraria fazer essa biografia do Requião, é um legado, é uma história, mas não vejo ele com essa vaidade. Ele não me disse nada sobre isso, mas ele não é vaidoso nesse aspecto”, pondera.

Teria interesse na prefeitura de Curitiba?

O primeiro desafio para Requião depois de se afastar do Senado são as eleições municipais. Interlocutores garantem que ele não tem nenhum interesse em concorrer à prefeitura de Curitiba. No entanto, há quem desconfie e acredite que, dependendo da conjuntura, ele pode se lançar.

“Todos conhecem a capacidade de articulação do Requião aqui no estado. Ele é o MDB no Paraná e vice-versa. Eu avalio que ele terá papel central na eleição em Curitiba, e não descarto que possa a vir a concorrer”, afirma Doacir Quadros.

Requião Filho discorda da tese de Requião candidato já em 2020. “Tem esses ensaios, gente falando que o Requião vai ser candidato a prefeito de Curitiba. Sinceramente não vejo ele querendo isso”, diz.

Poderia concorrer para vereador?

Em meio a tantas sugestões para o futuro político do senador, a tese de ele pode repetir o feito do petista Eduardo Suplicy, que após sair do Senado foi eleito vereador por São Paulo, ganha adeptos.

“A única coisa que o Requião não foi ainda é vereador da cidade onde ele nasceu. Seria muito interessante. Não pareceria que ele estaria diminuindo de tamanho a essa altura da vida. O pai dele, o meu avô, Wallace Tadeu de Melo e Silva, foi vereador. O Requião não foi. Nunca tive essa conversa com ele sobre isso e não estou autorizado a falar, mas entendo que ele exercer um cargo o qual ele nunca exerceu seria grandioso nessa etapa da vida”, argumenta João Arruda.

A ideia, também não descartada por Romanelli, é rebatida por Requião Filho. “Quem fala em ele ser candidato a vereador está brincando. Você sair de um cenário onde se discute a macroeconomia, a geopolítica global, para discutir a valeta do Orleans não faz sentido. Não tem chance de ele se empolgar com uma proposta dessa”, dispara.

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