O ex-governador Beto Richa (PSDB) disse, nesta quinta-feira (20), que os áudios usados pela Justiça para endossar a justificativa de sua prisão, no último dia 11, são completamente questionáveis. Em entrevista, o agora candidato ao Senado ainda afirmou não lembrar se era ele ou não na “gravação do tico-tico” – uma das provas que mais o comprometem dentro das investigações da operação Rádio Patrulha, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
“Estou aguardando a perícia das fitas. Ver se é minha voz mesmo, ver em que contexto é aquela conversa, se teve montagem, se teve edição. Vamos aguardar”, defendeu o ex-governador à reportagem da Gazeta do Povo após participar de sabatina ao vivo no programa Bom Dia Paraná, da RPC.
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Entregue pelo ex-deputado e delator Tony Garcia ao Ministério Público do Paraná (MP-PR), o áudio em questão revela a conversa entre duas pessoas: uma seria de Beto Richa e a outra Tony Garcia, então amigo do ex-governador. O assunto era Celso Frare, proprietário da empresa Ouro Verde Transportes e um dos detidos na mesma operação que levou Richa para a prisão na semana passada. Na conversa, o ex-governador fala que Frare agradeceu porque “caiu um tito-tico que estava atrasado”. Logo em seguida, Tony complementa que, apesar disso, o empresário não pagou a parte dele.
Ouça o áudio:
Apesar de contestar a validade do áudio, Richa disse não lembrar se a pessoa gravada por Tony Garcia era ele ou não. “Como é que vou lembrar? Se refere a [um fato] de cinco, seis anos atrás. Não estou me furtando a nada. Vamos aguardar”, respondeu o candidato. Ele ainda comentou que não sabia que o termo “tico-tico” significava propina. “Pelo que o eu vi, tico-tico seria propina. Mas, de qualquer forma, li nos autos que o termo tico-tico é um empresário se referindo a um pagamento pequeno de atrasados que tinha a ver do estado”, completou.
Quanto à autenticidade das gravações entregues pelo delator Tony Garcia ao MPPR, o tucano falou que foi informado por seus advogados sobre “fortes indícios de edição” no material. “Não há dúvidas [de que os áudios são questionáveis]. A Justiça pediu os áudios. Não sou eu que está dizendo que sou inocente. A Justiça vai comprovar minha inocência”, rebateu Richa.
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Na última segunda-feira (17), a Justiça determinou que Tony Garcia entregasse os equipamentos eletrônicos usados para gravar as conversas que amparam sua delação, mas apenas para preservar o conteúdo gravado. A decisão veio de um pedido feito pela defesa do irmão de Beto Richa, Pepe Richa – outro investigado pelo Gaeco – que pediu a interrupção das investigações até que todos os áudios fossem minimamente vistoriados. No entanto, o juiz Fernando Fischer, o mesmo que autorizou a prisão do ex-governador, argumentou que não considera o procedimento necessário para esta etapa do caso, ainda em fase de investigação.
“Contudo, até por se tratar de uma fase investigatória, não há nos autos qualquer impugnação da defesa quanto à autoria dos diálogos, à correição das datas apresentadas, ou qualquer ponto que torne a questão controversa de modo a justificar o deferimento da produção probatória antecipada. Tais questões poderão ser melhor contestadas em eventual apresentação defesa preliminar, quando é o momento oportuno para se requerer e se justificar a produção probatória”, concluiu o juiz.
O Ministério Público respondeu, encaminhando quatro pen drives e um cartão de memória que teriam sido entregues à investigação, afirmando que é todo o conteúdo disponível e que não foi franqueado o acesso aos equipamentos usados. Além disso, os promotores destacam que nos dispositivos encaminhados à Justiça, que agora estão num cofre, há conteúdos ainda sigilosos. A defesa de Tony Garcia também respondeu o despacho, enfatizando que foi usado um aplicativo para gravar as conversas e que não há, até o momento, nenhum indício de edição ou adulteração.
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Entenda o caso Richa
A operação que prendeu o ex-governador é resultado de investigações que começaram em maio. A suspeita é de fraude nas licitações do programa Patrulha do Campo seguida de lavagem de dinheiro.
A apuração do Ministério Público culminou na expedição de 15 mandados de prisão temporária, que começaram a ser cumpridos no dia 11 de setembro. Além de Richa, também foram presos a esposa do ex-governador, Fernanda Richa; o irmão dele, Pepe Richa; e pessoas próximas ao tucano (Ezequias Moreira, ex-secretário de Cerimonial e Relações Internacionais, e Luiz Abi Antoun, primo do tucano). Eles negam irregularidades.
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A operação prendeu, além de integrantes do grupo político de Richa, empresários envolvidos no suposto esquema. Entre eles estava Joel Malucelli – que, como estava em viagem na Itália, se apresentou ao Gaeco somente na sexta-feira (14).
Na noite de sexta-feira (14), no entanto, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes atendeu a um pedido da defesa e determinou a soltura de todos os presos por considerar a ação irregular.