Poucos dias depois de Ogeny Pedro Maia Neto assumir a presidência da Urbs, três dos mais importantes técnicos da companhia saíram da empresa: Antônio Carlos Araújo, ex-diretor de Transportes; Luiz Filla, que também já ocupou a mesma diretoria e atualmente ocupava a Gerência de Operação e Transporte; e Celso Bernardo, que chefiava a área de Administração e Finanças. Os dois primeiros são reconhecidos pelo domínio que têm do sistema de transporte coletivo de Curitiba e também por serem refratários a mudanças no transporte da capital. Filla e Araújo não resistiram ao que fontes ligadas ao gabinete do prefeito chamam de novo mantra da Urbs: “ou muda tudo, ou todos mudam”.
Entre gestores e operadores do transporte coletivo, a expectativa é que a saída dos técnicos, especialmente de Filla, abra espaço para mudanças no sistema e para uma relação menos tensa e judicializada entre a Urbs e as empresas de ônibus. Na colaboração premiada firmada no âmbito da Operação Riquixá, Sacha Reck, advogado que representava o Sindicato das Empresas de Transporte de Curitiba e Região (Setransp) quando foi feita a licitação para o serviço de transporte em Curitiba, relatou que os empresários tinham muita resistência em aceitar o nome de Filla como um dos fiscais do contrato.
Com as mudanças, a Diretoria de Transportes será acumulada interinamente pelo presidente da Urbs, a gerência de Luiz Filla será assumida por um funcionário de carreira, e a Diretoria de Administração e Finanças ficará a cargo de Denise Vilela, que é funcionária da Procuradoria-Geral do Município. Segundo a empresa, as substituições foram aprovadas nesta segunda-feira (23) pelo Conselho de Administração.
Saídas indicam mudanças
Nem a prefeitura nem o novo comandante da Urbs deram declarações oficiais sobre qual rumo será dado à gestora do transporte coletivo da capital, mas a expectativa é de mudanças. Fontes ligadas ao gabinete do prefeito falam em uma reformulação total da Urbs, e há indícios, além da saída de Filla e Araújo, que apontam para essas mudanças.
Com dificuldades financeiras, a Urbs já vem adotando medidas pontuais para aliviar o caixa. Neste ano já foi feito um Programa de Demissão Voluntária (PDV) que resultou no desligamento de 55 funcionários da empresa – a maior parte de servidores antigos e aposentados que ainda estavam na ativa.
Outra medida que está em curso e também pode impactar na estrutura da Urbs é a capacitação de guardas municipais para a fiscalização do trânsito. Atualmente este trabalho é feito apenas pela Secretaria de Trânsito (Setran), mas os agentes responsáveis pela fiscalização são, na verdade, servidores da Urbs cedidos à Setran. De acordo com o Portal da Transparência da Urbs, há 335 fiscais nesta situação.
Outro indício que aponta mudanças na Urbs é o perfil do novo presidente. Até o fim de 2016 o currículo profissional de Ogeny Pedro Maia Neto apresentado na rede social LinkedIn não apresentava nenhuma atuação no setor público. Isso mudou a partir de janeiro de 2017, quando ele assumiu a diretoria administrativo-financeira do Instituto Curitiba de Saúde (ICS), que é o plano de saúde dos servidores municipais. Depois de dez meses de trabalho, Ogeny deixou o cargo após ser um dos responsáveis por elaborar um plano de medidas saneadoras para o ICS que deve ser encaminhado em breve para a Câmara de Curitiba.
Mudanças também atingem funcionários
A onda de mudanças na Urbs também vai impactar os funcionários da empresa. Em um documento entregue ao Ministério Público do Trabalho (MPT), no qual tenta um acordo com os funcionários, a Urbs apresentou uma proposta de reestruturação administrativa que envolve a mudança do organograma da empresa, outra rodada do plano de demissão voluntária, a suspensão dos planos de carreira, corte salarial para quem tem jornada reduzida, extinção do anuênio e redução de R$ 400 por funcionário do benefício do vale alimentação.
De acordo com o Sindiurbano, sindicato que representa os funcionários da empresa, a reestruturação prevê também a demissão por motivos econômicos com vistas a manter a continuidade operacional da empresa.
Apesar de ter sido apresentado na gestão de Ogeny Maia Neto, o plano foi elaborado anteriormente e corroborado pelo novo presidente. A reestruturação foi feita a pedido do MPT, que media uma tentativa de acordo entre a empresa e seus funcionários.
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