Citado por delatores da Odebrecht – que apontaram que três de suas campanhas receberam recursos via caixa 2 –, o governador Beto Richa (PSDB) tem adotado a estratégia de repassar a responsabilidade da arrecadação do dinheiro aos tesoureiros de suas corridas eleitorais, tentando se distanciar das possíveis ilegalidades. Os responsáveis pelas respectivas campanhas, no entanto, são homens de confiança do tucano há muito tempo – e muitas gestões. Fernando Ghignone e Juraci Barbosa Sobrinho estão historicamente ligados a Richa, presidem estatais e, antes de as denúncias virem à tona, estavam cotados para se tornarem secretários de Estado.
Responsável pela campanha de 2014 que reelegeu Richa como governador, o advogado Juraci Barbosa Sobrinho ocupa o posto de presidente da Agência de Fomento do Paraná desde o início da primeira gestão do tucano no Palácio Iguaçu, em 2011. Segundo o Portal da Transparência, no mês passado, ele teve rendimentos brutos de R$ 31,6 mil para presidir a agência e R$ 5,1 mil para participar do conselho administrativo da instituição.
Eleições de 2010 e 2014 ao governo do Paraná foram contaminadas pela Odebrecht
Juraci teve bens bloqueados por causa da Arena
O Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TC-PR) abriu, no fim do ano, uma série de tomadas de contas para apurar supostas irregularidades em contratos de financiamentos para reforma da Arena da Baixada. Na ocasião, o órgão apontou “fragilidades” no primeiro contrato e decretou a indisponibilidade de bens do presidente da Agência Fomento, Juraci Barbosa Sobrinho, no valor de R$ 205,1 mil. A decisão era passível de recurso.
Segundo o ex-executivo da Odebrecht, Benedicto Júnior, a empreiteira repassou efetivamente R$ 2,5 milhões à campanha de Richa, em 2014, em três parcelas. Barbosa Sobrinho refuta as denúncias, alegando que as delações são lastreadas em “ilações” e afirma que “uma investigação mais aprofundada certamente demonstrará que as denúncias são falsas”, conforme prestação de contas aprovadas pela Justiça Federal.
Hoje presidente do diretório estadual do PSDB, Barbosa Sobrinho teve sua trajetória ligada a Richa bem antes do governo do Paraná. O advogado ocupou o cargo de presidente da Companhia de Desenvolvimento de Curitiba – órgão ligado à prefeitura –, no período em que o político foi prefeito da capital paranaense (2005-2010). Antes disso, ele foi presidente do Instituto de Pesos e Medidas do Paraná (Ipem), na gestão de Jaime Lerner.
Campanhas anteriores
O responsável pelas contas de outras duas campanhas de Richa que são questionadas – de 2008 (à prefeitura de Curitiba) e 2010 (ao governo do Paraná) – é o empresário Fernando Ghignone. Desde janeiro de 2015, ele exerce a presidência da Companhia Paranaense de Gás (Compagas), cargo indicado pelo governador. Antes disso, ele ocupava a função de diretor-presidente da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), também nomeado por Richa. Os vencimentos de Ghignone não constam do Portal da Transparência.
Em sua delação, o ex-executivo da Odebrecht, Valter Lana, relatou repasses via caixa 2 às campanhas de Richa de 2008 e 2010. Fernando Ghignone classificou a denúncia de “inverídica e fantasiosa”. Ele afirma que todas as doações das duas campanhas em que foi tesoureiro foram “efetuadas na forma da lei” e “depositadas na conta corrente oficial do partido”. Ele também afirmou que as contas de ambos os anos foram aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e sem ressalvas.
Ghignone iniciou a vida pública em 1983, pelas mãos do pai de Richa, o então governador José Richa (PMDB). Em seu primeiro cargo público, o empresário desempenhou o posto de secretário da Cultura, Esporte e Turismo do Paraná. Após anos em cargos federais – inclusive como presidente da Embrafilme –, Ghignone voltou ao Paraná em 2005, para se tornar secretário de Comunicação de Curitiba, quando Beto Richa era prefeito da capital paranaense.