O interrogatório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na operação Lava Jato no caso envolvendo o tríplex no Guarujá está cercado de questões políticas, ideológicas e processuais que tornam o caso mais complexo. A expectativa em torno do depoimento começou há semanas e deve se estender ao longo de toda esta quarta-feira (10), data marcada para o primeiro encontro cara a cara de Lula com o juiz federal Sergio Moro.
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Se de um lado o ex-presidente tenta imprimir um tom político-eleitoral ao ato, de outro, o juiz Sergio Moro tenta manter a serenidade e garantir a “banalidade” do interrogatório. Segundo Lula, o processo é parte de uma trama de perseguição política ao PT e o projeto de país proposto pela legenda. Já Moro defende que o interrogatório é um ato comum processual e é a oportunidade do réu ser ouvido no processo.
A Gazeta do Povo separou frases dos dois principais personagens no caso que mostram a contradição. Confira:
O discurso da perseguição política de Lula:
1. “Vou prestar quantos depoimentos necessários. Mas tenho que ser tratado como os outros, mas não estou sendo. Estou sendo tratado pior que os outros. Nem vou mostrar as costas para não verem as chibatadas que levei”, disse o ex-presidente sobre o adiamento do depoimento à pedido da Polícia Federal, na semana passada.
2. “Foi tanta pressão em cima do Léo, condenado há 26 anos...Tô (sic) vendo delatores com casa com piscina, morando em condomínio ao lado de desembargadores, como mostrou a TV. Desse jeito o Léo vai falar até da mãe”, disse Lula sobre o depoimento do ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro, no processo. Pinheiro confirmou que o tríplex no Guarujá pertence ao ex-presidente.
3. “Tá na hora de provas. De parar com falatório e mostrar provas. Não adianta falar em milhões, bilhões. Mostre um centavo de desvio meu, não dois, disse um centavo”, disse o petista.
4. “Vou ter de viva voz o direito de me defender. O horário vai ser meu”, falou Lula sobre o interrogatório a Moro.
5. “Continuo desafiando qualquer empresário brasileiro a dizer que o Lula pediu R$ 10 para ele ou mesmo em meu nome. O dia que alguém provar um erro meu, eu paro de fazer política”, disse Lula em uma entrevista.
6. “Daqui a pouco está entrando o Papa Francisco nesse negócio [Lava Jato], porque é todo mundo acusando todo mundo sem provas e com base só no que alguém falou”, ironizou o ex-presidente sobre as delações da Odebrecht.
7. “Um cidadão desses não está preparado para fazer acusação contra ninguém e nem para participar de um processo. É preciso ser mais sério”, disse Lula em referência ao procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato em Curitiba.
A tentativa de apaziguar a situação, por parte de Moro:
1. “O juiz, basicamente, faz perguntas, o acusado responde com direito ao silêncio e pode até faltar com a verdade. Nossa legislação não prevê crime de falso testemunho para o acusado que vai a juízo e não fala a verdade. Diferente do sistema norte-americano, onde o acusado depõe se a defesa requer e aí é obrigado a falar a verdade, sob pena de perjúrio”, disse Moro sobre o interrogatório.
2. “Não é um confronto, o processo não é uma guerra, uma batalha, uma arena. Em realidade, as partes do processo ali são acusação e defesas. Não o juízo. O juiz não é parte do processo”, disse Moro, negando haver um “embate” entre ele e o ex-presidente.
3. “Me preocupa esse clima de confronto em relação a algo que pode ser extremamente banal”, disse, se referindo ao interrogatório do ex-presidente.
4. “Nada de conclusivo vai sair nessa data. O juiz profere julgamento depois ainda da fase de instrução, nada é resolvido na audiência de interrogatório do acusado. Não estou falando isso para baixar a audiência dos canais de TV. Toda essa expectativa não se justifica”, disse Moro, na tentativa de diminuir a expectativa em torno do depoimento de Lula.
5. “Não há necessidade de sair às ruas para enfrentar situação de risco. Melhor que seja um jogo de torcida única. Se querem prestar apoio à investigação naquela data melhor evitar confronto. Eu não sou um dos times em campo, eu sou o juiz. Não torço para nenhum time ali. Preferível que fiquem em casa, independente das suas preferências”, disse Moro para tentar diminuir o alcance das manifestações pró Lava Jato marcadas para esta quarta-feira.
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