A estreia do ministro da Economia, Paulo Guedes, no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), considerado uma vitrine global para atração de investimentos, foi marcada por mais altos do que baixos. Ele teve uma agenda lotada e conversou por horas com investidores e parceiros comerciais estratégicos para o Brasil, passando uma mensagem de otimismo em relação à aprovação das reformas econômicas e também de segurança jurídica para investidores estrangeiros.
Ele demonstrou confiança na aprovação da reforma da Previdência e disse que pretende arrecadar pelo menos US$ 20 bilhões (R$ 72,5 bilhões) neste ano com privatizações de empresas estatais. O valor representaria cerca de metade do déficit fiscal brasileiro, disse Guedes à agência Bloomberg, reafirmando que o rombo seria zerado em 2019.
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Mas, ao mesmo tempo, teve que lidar com o cancelamento de última hora de uma entrevista coletiva que daria ao lado do presidente Jair Bolsonaro e dos ministros Sergio Moro (Justiça) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores). Mas menos de uma hora antes de acontecer a coletiva, nesta quarta-feira (23), o presidente cancelou a participação, alegando que precisa se poupar para a cirurgia que fará para retirar a bolsa de colostomia.
Protagonismo nos bastidores
Alheio à confusão na estratégia de comunicação de Bolsonaro, Guedes assumiu nos bastidores o protagonismo do Brasil no fórum ao se encontrar com diversos investidores, empresários e autoridades. Há, ainda, mais agenda nesta quinta-feira (24), último dia do evento.
Nos últimos dois dias, o ministro teve 20 compromissos, entre encontros, reuniões, almoços e participações em sessões do fórum. Nesses compromissos, ele transmitiu uma mensagem otimista ao mercado sobre a recuperação fiscal do Brasil nos próximos anos e sobre a segurança jurídica para quem pensa em investir no país.
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Dois dos principais encontros com investidores aconteceram na terça-feira (22). O ministro participou de um almoço com investidores organizados pelo Itaú e, no fim do dia, de uma reunião do Conselho de Internacional de Negócios. Nas duas ocasiões, Guedes fez um discurso similar ao da sua posse: relembrou o que trouxe o Brasil à situação atual, ou seja, a falta de rigor fiscal, resultando em sucessivos déficits públicos e endividamento em bola de neve, e o que é preciso para colocar o país nos eixos.
Guedes diz que terá ‘consenso’ do Congresso para aprovar reforma da Previdência
O ministro também afirmou que terá o “consenso” do Congresso para aprovar a reforma da Previdência e que, para isso, contará com o apoio dos governadores, um trabalho liderado pelo governador paulista João Doria (PSDB), que também está em Davos.
À imprensa, após participar de reuniões bilaterais, o ministro relatou que a Previdência é o tema mais questionado pelos investidores estrangeiros. "Todo mundo está ligado na reforma da Previdência por causa da questão de sustentabilidade fiscal.” E acrescentou, ao ser perguntado se o projeto será aprovado: “Estou muito otimista”.
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Guedes também disse que o texto deve ser encaminhado assim que o “novo Congresso chegar”. Os parlamentares eleitos para o mandato 2019-2022 tomam posse em 1º de fevereiro, uma sexta-feira, e começam oficialmente a trabalhar na semana seguinte.
Ministro afirmou que vai baixar impostos pagos pelas empresas
Ainda no tema reformas, o ministro apresentou no Fórum Econômico Mundial uma proposta para diminuir os impostos pagos pelas empresas e atrair mais investimentos para o Brasil. A ideia é reduzir a carga atual de 34% (em média) para 15%. Ele relatou que a medida é necessária para tornar o Brasil competitivo frente a outros países, que tem uma carga tributária menor.
A proposta de reduzir os impostos pagos pelas empresas já era uma promessa de campanha de Bolsonaro. A novidade agora está nos percentuais, citado pela primeira vez pelo ministro. Ele relatou os percentuais a investidores presentes no Fórum.
Guedes explicou também que, para compensar a perda de arrecadação, deve instituir a taxação sobre dividendos (lucro que os acionistas recebem) e juros sobre o capital próprio.
Política comercial externa também esteve na pauta
Na pauta em Davos, o ministro também teve uma série de encontros com autoridades para falar sobre política comercial externa. Um dos objetivos deste novo governo é abrir mais o Brasil para o comércio internacional, ampliando o número de acordos bilaterais. Até então, o país priorizava acordos através do Mercosul e com países do eixo Sul-Sul.
Nesta quarta, Guedes se encontrou com o secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Ángel Gurría. No encontro, tratou da adesão do Brasil como país-membro, pleiteada desde 2017. A OCDE é considerada o “clube dos países ricos”.
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Também se encontrou com o brasileiro Roberto Azevêdo, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), que passará por uma reforma para se adequar à nova dinâmica comercial internacional. Em seu discurso em Davos, Bolsonaro falou que o Brasil participará ativamente desse processo de reforma da organização para “eliminar práticas desleais de comércio e garantir segurança jurídica das trocas comerciais internacionais”.
Guedes teve, ainda, encontros com o ministro da Economia de Israel, Eli Cohen, com o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, e com a ministra do Comércio Exterior e Cooperação Internacional dos Países Baixos, Sigrid Kaag.
Reuniões com empresários também marcaram a agenda
Além de investidores e autoridades na área de política comercial externa, Guedes se reuniu, individualmente, com presidentes de grandes empresas. Dois eram da área de energia: José Ignácio Sánches Galán, CEO do conglomerado espanhol de energia Iberdrola, dona no Brasil da Neoenergia; e Lisa Davies, CEO global de Energia da Siemens.
Outros dois eram da área financeira: o presidente do Conselho de Diretores do banco de investimento americano UBS, Axel Weber; e o presidente do grupo bancário espanhol BBVA, Carlos Torres Vila. O CEO da Uber, Dara Khosrowshahi, também teve encontro agendado com Guedes.
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