A Caixa precisa se adequar para regras internacionais de proteção a crises mais rígidas, que entram em vigor a partir de 2019. E não vai conseguir fazer isso sozinha: já pediu ajuda ao governo federal. O que a União vai fazer para socorrer o banco ainda é um mistério, mas um caminho tortuoso, com erros de gestão e escândalos de corrupção, fez a Caixa chegar a essa posição em que está hoje. Relembre quatro fatos que colaboraram para a Caixa precisar de socorro agora.
Sete Brasil: prejuízo milionário
Uma empresa brasileira, criada para gerenciar a construção de sondas para o pré-sal. Parece uma boa ideia investir nisso, não? Pois é, mas não foi. A Sete Brasil é uma das empresas desmascaradas pela Lava Jato e, ao que tudo indica, ao invés de ajudar com a exploração do pré-sal ela virou um instrumento para corrupção. A companhia foi fundada em 2010 por um consórcio de fundos de pensão de estatais, fundos de empresas de investimentos e bancos. Ela deveria construir 28 sondas no Brasil, com investimento na cada dos US$ 27bilhões e gerando milhares de empregos. Não aconteceu: atualmente está em processo de recuperação judicial, com mais de R$ 19 bilhões em dívidas. E a Caixa entrou com dois pés nesse barco: o próprio banco precisou socorrer a empresa, o fundo de previdência de seus funcionários é um dos acionistas e o FI-FGTS, que é gerido pela Caixa, também é sócio e credor. No ano passado, a Caixa precisou provisionar R$ 700 milhões para cobrir o risco de calote da Sete Brasil, o que teve reflexos sobre o lucro do banco. O Funcef e o FI-FGTS já reconheceram a perda total dos investimentos na Sete Brasil em seus balanços.
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Loteamento de cargos
Entre as muitas revelações da operação Lava Jato, uma delas é de que a nomeação para cargos proeminentes em empresas estatais não era apenas uma simples operação de troca de favores entre partidos. Era para corrupção, mesmo. E a Caixa Econômica virou um “loteamento” do PMDB, sobretudo. Com a Lava Jato apertando o cerco, outras operações da Polícia Federal – com a Greenfield, Patmos e Sépsis – foram ajudando a compor esse quebra-cabeças da corrupção. A delação de Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa Econômica e membro do conselho do FI-FGTS, revelou a influência do então deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e de seu operador Lúcio Funaro para a concessão de empréstimos a empresas que aceitavam pagar propina. Funaro também já fechou um acordo de delação, no qual confirma ser o operador de Cunha e implica outros políticos do PMDB, inclusive o presidente, Michel Temer, que teria conhecimento dos repasses de propina que envolviam a estatal. Em um caso específico, Funaro afirmou que pagou, em espécie, Geddel Vieira Lima – aquele do bunker de R$ 51 milhões – por “operações” na Caixa. Geddel já foi preso por tentar obstruir as investigações desse esquema dentro da Caixa, empresa em que ele foi vice-presidente, durante os governos de Lula e Dilma. Todas essas indicações políticas com fins de corrupção prejudicaram a gestão do banco estatal, que está em uma situação mais delicada para adequação às regras de Basileia 3, que entram em vigor em janeiro de 2019.
Impasse bilionário
Funcionários e aposentados da Caixa Econômica têm protestado e entrado com ações na Justiça pela má gestão da Funcef, o fundo de previdência dos servidores da estatal. Um dos piores investimentos do fundo foi na Sete Brasil – o grupo tenta reaver esses recursos e já recorreu até ao juiz Sergio Moro. Além disso, há uma enxurrada de ações trabalhistas contra a Caixa – funcionários ganham ações na Justiça para aumentar o valor da aposentadoria, e essa diferença é arcada pela Funcef. Para cobrir esse rombo, estimado em R$ 20 bilhões, há descontos mensais nos pagamentos e benefícios de todos os participantes, da ativa e aposentados. Por enquanto, esse rombo está restrito ao próprio fundo de pensão. Mas a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae) quer que o banco banque sozinho esse custo. Ou seja: todo esse passivo
Cadê o lucro?
Apesar de ter sofrido um baque no lucro líquido em 2016, quando precisou provisionar o prejuízo da Sete Brasil e ficou com saldo de R$ 554,7 milhões, a Caixa Econômica apresenta números robustos. No segundo trimestre de 2017, fechou a conta com lucro líquido de R$ 2,586 bilhões. A retenção desses recursos seria excelente para aumentar o capital do banco, mas a Caixa foi obrigada a repassar 100% dos lucros como dividendos nos últimos anos. Esses repasses é que ajudaram o governo a fechar as contas públicas em dia nos últimos anos. E já é sabido que a contabilidade de pedaladas do governo Dilma colaborou para tirar ainda mais o fôlego da Caixa.
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