O ex-ministro Antonio Palocci, homem forte do primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva e ex-ministro de Dilma Rousseff, está em busca de uma delação premiada. Palocci é apontado em delações premiadas de executivos da Odebrecht como interlocutor do Partido dos Trabalhadores para negociar valores e pagamentos de contribuições eleitorais – legais e em caixa dois.
Adriano Bretas, advogado que foi um dos responsáveis por negociar uma das primeiras delações premiadas da Lava Jato, a do doleiro Alberto Youssef, em 2015, foi contratado por Palocci. Trata-se de uma mudança radical de rumos na defesa do petista, preso preventivamente em Curitiba desde setembro passado e até então defendido pelo advogado José Roberto Batochio, um ferrenho opositor da colaboração premiada de réus em investigações criminais.
O ex-ministro já sinalizara, em seu primeiro depoimento ao juiz Sergio Moro, a intenção de delatar. “Fico à sua disposição. Todos os nomes e situações que optei por não falar aqui, por sensibilidade da informação, estão à sua disposição. Quando o senhor determinar, imediatamente apresento todos esses fatos, nomes, endereços, operações realizadas e coisas que vão ser certamente de interesse da Lava Jato, que realiza uma investigação de importância, e acredito que posso dar um caminho que vai lhe dar mais um ano de trabalho, mas é um trabalho que vai fazer bem ao Brasil”, dissera, na semana passada.
Caso realmente saia, a delação de Palocci será a primeira de um integrante do alto escalão do PT à Lava Jato. A Gazeta do Povo lista, a seguir, alguns pontos que podem ser esclarecidos na eventual colaboração do petista.
Era o Italiano?
No Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht – nome do “departamento de propinas” da empresa –, Antonio Palocci seria identificado como “Italiano”, segundo Fernando Barbosa, ex-executivo da empreiteira. Outros delatores confirmaram o codinome. Palocci sempre negou. Numa eventual delação, ele irá admitir que as anotações sob o apelido “Italiano” – que incluem uma conta-corrente com provisão de R$ 200 milhões disponíveis ao PT – se referem a pagamentos intermediados por ele?
Qual o destino do dinheiro da Odebrecht?
Em depoimento a Sergio Moro, Fernando Migliaccio da Silva, responsável por fazer os pagamentos do Setor de Operações Estruturadas, disse que fez pagamentos de R$ 120,5 milhões contabilizados na planilha chamada “Posição Programa Especial Italiano”. Tratava-se, segundo o delator, de dinheiro a ser distribuído a pedido de “Italiano”, “Pós-Itália” (que de acordo com Migliaccio seria o codinome do ex-ministro Guido Mantega, que sucedeu Palocci no Ministério da Fazenda) e “Amigo” – que seria o ex-presidente Lula. O saldo de pouco menos de R$ 70 milhões também seria repartido entre os três – R$ 50 milhões caberiam a “Pós-Itália”, R$ 23 milhões a “Amigo” e R$ 6 milhões a “Itália”. Palocci pode confirmar se o PT realmente recebeu o dinheiro e esclarecer a que se destinaram os pagamentos. Quanto foi para campanhas eleitorais? Quanto se destinou a enriquecimento ilícito de políticos?
Caixa dois de campanhas do PT
Também em depoimento a Moro, Palocci negou ter atuado como operador de pagamentos da Odebrecht a campanhas eleitorais do PT em 2002, 2006 e 2010, como afirmam diversos delatores da empresa. Se firmar delação premiada, ele sustentará a versão? Ou vai confirmar o que disseram à Justiça os colaboradores que trabalhavam para a empreiteira?
Indicações políticas na Petrobras
No depoimento que prestou ao juiz Moro. Palocci – que, como ministro da Fazenda no governo Lula, integrou o Conselho de Administração da Petrobras – admitiu que havia influência de partidos políticos na nomeação de diretores da Petrobras. Disse ter ouvido “comentários” de que o PT participara da indicação de Renato Duque para a diretoria de Serviços, e de que Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento, era um homem do PP. Duque e Costa foram condenados em processos derivados da Lava Jato.
A delação de Palocci pode dar mais detalhes sobre as costuras políticas firmadas para nomeações – e detalhar qual a participação do ex-presidente Lula.
Mercado financeiro na Lava Jato?
Antonio Palocci foi o ponto de contato entre o PT – visto com desconfiança, até 2002, por parte significativa do empresariado brasileiro – e o mercado. Ministro da Fazenda, tinha trânsito livre entre banqueiros e figuras de proa do setor financeiro.
Em seu depoimento a Moro, disse ter sido procurado por um “banqueiro”, uma “grande personalidade do meio financeiro”, para tratar de “capitalizar” a “provisão de R$ 200 milhões da Odebrecht” ao PT. Disse ao juiz que, “em sigilo”, falaria o nome da pessoa a quem se referia.
Mais – Palocci poderia revelar se empresas de outros setores, inclusive o financeiro, podem ter agido como a Odebrecht, que afirma ter pago a políticos para que aprovassem leis e medidas que as beneficiaram.