Virou motivo de piada o “não sabia” costumeiramente usado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para responder acusações de corrupção. Do mensalão à Lava Jato, é comum ouvir as negativas de Lula sobre qualquer ponto obscuro em que é citado. O expediente vem fazendo escola e também passou a ser usado pelo atual presidente, Michel Temer (PMDB). De jatinho a reformas, Temer nega ter conhecimento sobre várias situações que envolvem ele, familiares ou aliados políticos. Relembre seis situações em que Temer foi implicado, mas saiu pela tangente com a já clássica desculpa:
A mala de Rodriguinho
O ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil em propina da JBS e virou um problemão para Temer. O presidente negou proximidade com ele, apesar de Rocha Loures fazer parte de um seleto grupo de políticos de extrema confiança de Temer. O paranaense foi, inclusive, assessor especial de Temer desde que ele assumiu a vice-presidência. Apesar dos laços que uniam os dois desde quando foram deputados federais, depois do escândalo da JBS, Temer prefere dizer que eles mantinham apenas uma relação institucional. E que Rocha Loures era um coitado. “De muita boa índole”, mas um coitado.
Mesada do silêncio
Pegou muito mal para Temer o fato de receber um empresário na calada da noite para tratar de assuntos poucos republicanos em casa. Ficou ainda pior porque o empresário em questão – Joesley Batista, do grupo JBS – gravou o presidente em diálogos comprometedores. A mais famosa conversa é a mais contestada pelo presidente. Batista relatava um suposto esquema para manter boa relação com o doleiro Lúcio Funaro e o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ambos presos pela operação Lava Jato. As cinco palavras ditas por Temer – “Tem que manter isso, viu?” – foram entendidas como um aval para a compra do silêncio da dupla tanto por Joesley quanto pela Procuradoria-Geral da República. Mas Temer diz que não falou nada disso e que os áudios foram manipulados – a Polícia Federal (PF) está periciando o material para determinar possíveis edições. Apesar de negar a fala, Temer nunca escondeu que recebeu mesmo o empresário, que entrava em sua casa sem se identificar.
Viagem no jatinho de quem?
A relação entre Temer e Joesley aparentemente era bastante amistosa. Em 2011, o então vice-presidente usou uma aeronave particular para uma viagem da família de São Paulo para Comandatuba, na Bahia. O avião em questão pertencia a Joesley. Mas, inicialmente, Temer afirmou que havia viajado em uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB). Um dia depois, ele mudou o posicionamento e confirmou que usou o avião particular. O único detalhe é que ele segue afirmando que “não sabia a quem pertencia a aeronave” e que “não fez pagamento pelo serviço de transporte”. Que maravilha, não?
Caixa 2? Aqui não
O doleiro Lúcio Funaro admitiu, em depoimento à PF, que operou caixa 2 para o PMDB. Ligado ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e um dos supostos silêncios comprados por Joesley Batista, Funaro dá sinais de que pretende fazer um acordo de delação premiada. E já começou a implicar Michel Temer. Nesse mesmo depoimento, em que admitiu o manejo de recursos ilegais, Funaro acusou Temer de ter conhecimento sobre o caixa 2 do PMDB. De acordo com Funaro, Temer sabia das doações ilícitas de campanha feitas ao PMDB – ele foi presidente do partido entre 2001 e 2016. Temer já negou. Em nota, disse que só “tinha conhecimento de doações legais ao partido”.
É muita reforma: da filha...
Um amigo próximo de Temer – de quem ele não nega a relação de longa data – está envolvido até em uma reforma na casa de uma das filhas do presidente em 2014, cujos pagamentos são um tanto obscuros. O coronel aposentado João Baptista Lima Filho teve o nome citado e bem comprometido nas delações da JBS – ele teria sido indicado por Temer para receber R$ 1 milhão em dinheiro vivo da JBS. No caso da reforma, foi a construtora Argeplan, da qual ele é sócio, a empresa responsável por reformar uma casa adquirida por uma das filhas de Temer, Maristela. A mulher de Lima, a arquiteta Mari Rita Fratezi, era a responsável pela obra. Fornecedores chegaram a receber R$ 100 mil em dinheiro para serviços na obra, pagos por Maria Rita, mulher e sócia do coronel na empresa. Temer confirmou a amizade, disse que o coronel Lima era responsável por suas campanhas eleitorais, mas nega recebimento de dinheiro da JBS em 2014. Ele também diz que a reforma da casa de Maristela foi paga pela própria filha.
... e da casa da sogra
Outro interlocutor próximo a Temer é agora apontado como prestador de serviços particulares do presidente. O chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Arlon Vianna, e também tesoureiro do PMDB em São Paulo, teria sido escalado por Temer para colaborar na reforma da casa de sua sogra, Norma Tedeschi. De acordo com o blog de Andréia Sadi, Vianna deveria selecionar os profissionais para trabalhar nessa obra. Na época, ele era assessor da vice-presidência. Ele foi responsável por indicar profissionais para pintura, limpeza e reparos. O Palácio do Planalto confirmou que ele somente indicou profissionais. Vianna inicialmente disse que nunca se envolveu na reforma, mas ao ser informado que o próprio Planalto confirmou a indicação, ele mudou a resposta e disse ter indicado um pintor ou pedreiro. Vianna é amigo do coronel Lima, aquele da reforma da casa da filha de Temer.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura