O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), chamado de “garoto” pelo presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), vem se notabilizando por falar muito em nome do pai. E, como costuma ocorrer com os falastrões, tem dito mais do que deveria – a ponto de o presidente ter de adverti-lo ou desautorizá-lo, ainda que por vezes de forma indireta. No último fim de semana aconteceu de novo, quando Eduardo defendeu a instituição da pena de morte no Brasil. Veja seis vezes em que Eduardo Bolsonaro falou demais.
1. Filho defende plebiscito para instituir pena de morte; pai descarta a ideia
Em entrevista publicada pelo jornal O Globo no último domingo (16), Eduardo Bolsonaro defendeu a realização de um plebiscito ou referendo para implantar a pena de morte no Brasil para casos de crimes hediondos e tráfico de drogas.
“Eu sei que [a proibição da pena capital] é uma cláusula pétrea da Constituição, artigo 5.º etc. Porém, existem exceções. Uma é para o desertor em caso de guerra. Por que não colocar outra exceção para crimes hediondos?”, questionou o filho do presidente na entrevista. Ele ainda afirmou que a medida seria “bem propícia” para traficantes e que poderia ser estendida também para políticos que desviam recursos da saúde. “Se o povo aprovar [na consulta popular], já vira lei”, afirmou.
Jair Bolsonaro reagiu rapidamente. Ainda no domingo pela manhã, o presidente eleito disse por meio do Twitter que a adoção da pena de morte no Brasil não será discutida em seu governo. “Além de tratar-se de cláusula pétrea da Constituição [que não pode ser modificada], não fez parte da minha campanha”, afirmou.
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2. Eduardo sugeriu invasão militar na Venezuela; Bolsonaro disse que ninguém quer guerra com ninguém
Pouco antes do primeiro turno da eleição presidencial, Eduardo Bolsonaro, num discurso inflamado do alto de um caminhão de som na Avenida Paulista, em São Paulo, sugeriu que, se seu pai vencesse a eleição, o Brasil invadiria a Venezuela para depor a ditadura bolivariana de Nicolás Maduro. “O general [Hamilton] Mourão [vice de Bolsonaro] já falou: a próxima operação de paz do Brasil será na Venezuela. O melhor para a crise imigratória que nós vivemos é a saída de Maduro do poder”, disse.
Jair Bolsonaro demorou um pouco para desautorizar o filho. Mas, quase um mês depois, às vésperas do segundo turno, negou que pretenda promover uma intervenção militar na Venezuela. “Ninguém quer fazer guerra com ninguém. A Venezuela é uma coisa que não poderia deixar chegar onde chegou. É uma fronteira seca, não seria a melhor medida fechá-la. Temos que buscar maneiras, talvez junto à ONU, de fazer ali campos de refugiados, para buscar solução para o caso. Roraima não suporta a quantidade de venezuelanos que têm entrado lá, mas o governo não pode dar as costas para a Venezuela.”
Além disso, Eduardo Bolsonaro não foi nem um pouco preciso ao se referir a Mourão em seu discurso. O futuro vice-presidente havia dito algo diferente. Segundo ele, apenas se a ONU decidisse realizar uma operação de paz na Venezuela, o Brasil poderia participar – descartando a invasão militar pura e simples.
3. O jipe, o soldado, o cabo, o garoto e a proposta de fechar o STF
Em julho deste ano, durante uma aula de um cursinho preparatório para o concurso da Polícia Federal (PF), Eduardo Bolsonaro disse que seria fácil fechar o Supremo Tribunal Federal (STF). “Cara, se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo, não”, diz ele em vídeo gravado da palestra. A declaração acabou provocando polêmica apenas em 21 de outubro, a uma semana do segundo turno da eleição presidencial.
Jair Bolsonaro, que àquela altura da campanha procurava desfazer a imagem de que seria autoritário, desautorizou o filho publicamente. “Eu já adverti o garoto, o meu filho, a responsabilidade é dele. Ele já se desculpou”, disse o país sobre Eduardo Bolsonaro, que tem 34 anos. “Ele aceitou responder uma pergunta que não tinha nem pé e nem cabeça e resolveu levar para o lado desse absurdo aí. Nós temos todo o respeito e consideração com os demais poderes e o Judiciário obviamente é importante”, disse o então candidato e hoje presidente eleito.
4. Eduardo bate-boca com deputada do PSL e obriga Bolsonaro a intervir
O filho do presidente protagonizou no início de dezembro um bate-boca, pelo grupo de WhatsApp da bancada eleita do PSL para o Congresso, com a futura deputada Joice Hasselmann (PSL-SP). Entre outras ofensas que se tornaram públicas, Eduardo Bolsonaro chamou Joice de “sonsa” e disse que ela tem “fama de louca”. Em resposta, foi acusado de ser “infantil”. A troca de ofensas, que envolveu outros parlamentares da sigla, girava em torno da disputa para saber quem vai liderar o partido no Legislativo.
Para apagar o incêndio, Jair Bolsonaro convocou uma reunião com a bancada do PSL – na qual repreendeu os aliados. Disse para eles não discutirem em grupos de Whatsapp como forma de evitar vazamentos da lavagem de roupa suja dentro da sigla.
O curioso é que foi o próprio filho envolvido na briga quem tornou público a repreensão do pai: “O presidente Jair Bolsonaro é contra a criação de grupos de WhatsApp porque em um grupo existem diversas pessoas e, quando esses prints vazam, ninguém sabe quem é que vazou”, disse Eduardo Bolsonaro após a reunião.
5. Filho revela que pai trabalha nos bastidores contra o atual presidente da Câmara
Durante o bate-boca entre parlamentares eleitos do PSL pelo WhatsApp, Eduardo Bolsonaro também revelou mais do que deveria: a estratégia do pai para influenciar o resultado da eleição para a presidência da Câmara, marcada para fevereiro.
O filho do presidente eleito rebateu a acusação de que o partido estaria fora das articulações para a escolha para o cargo. “O PSL está fora das articulações? Estou fazendo o que com o líder do PR agora? Ocorre que eu não preciso e nem posso ficar falando aos quatro cantos o que ando fazendo por ordem do presidente. Se eu botar a cara publicamente, o [Rodrigo] Maia [atual presidente da Câmara, que quer se reeleger para o cargo] pode acelerar as pautas bombas do futuro governo”, disse Eduardo Bolsonaro.
Em outra ocasião, o filho de Bolsonaro havia dito que o PSL não apoiaria Rodrigo Maia e que o partido tem outras preferências para a presidência da Câmara. Parlamentares do PSL vêm demonstrando apoio a nomes como os de João Campos (PRB-GO), Alceu Moreira (MDB-RS) e Capitão Augusto (PR-SP).
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Além disso, as declarações de Eduardo vieram justamente no momento em que Bolsonaro recebia a bancada do DEM, partido de Maia, para discutir a adesão formal da sigla à futura base aliada no Congresso.
Oficialmente, o presidente eleito diz que não vai interferir nas eleições para os comandos da Câmara e do Senado. Por isso a declaração de seu filho criou uma saia-justa para Bolsonaro. Na reunião que teve com a bancada do PSL após o bate-boca pelo WhatsApp, o presidente eleito orientou os deputados da sigla a não declararem voto em nenhum candidato, em nome da governabilidade.
Eduardo, embora tenha sido um dos pivôs do mal-estar com Rodrigo Maia e a quem o recado de Bolsonaro também foi dirigido, saiu da reunião da bancada com o presidente eleito falando como se não tivesse relação alguma com o caso. “O presidente relembrou o tempo de campanha, pediu um pouquinho de serenidade (...) para não declarar votos para a presidência da Câmara ou quaisquer outros cargos”, disse Eduardo.
6. Mudança da embaixada em Israel: o caso em que Eduardo atropelou os protocolos
Desta vez o presidente eleito não desautorizou o filho, mas Eduardo Bolsonaro quebrou todos os protocolos ao confirmar, em visita aos Estados Unidos, em novembro, que o Brasil realmente vai mudar sua embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém durante o governo de seu pai. “A questão não é perguntar se vai, a questão é perguntar quando será [a mudança]”, disse ele.
Embora esse tenha sido um compromisso de campanha de Bolsonaro, o anúncio não caberia a um deputado federal, mas sim ao próprio presidente ou ao futuro ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
Na última declaração de Jair Bolsonaro sobre o assunto, dada antes do pronunciamento do filho, o presidente eleito havia afirmado que a mudança da embaixada ainda não estava decidida.
O caso é delicado porque a mudança da embaixada significa que o Brasil estaria reconhecendo a “Jerusalém indivisível” como capital israelense. Para os árabes, isso é inadmissível porque eles querem que Jerusalém Oriental seja a capital dos palestinos – conforme havia sido acertado no tratado de criação de Israel e da Palestina. A mudança da representação diplomática brasileira levanta o temor de que países muçulmanos boicotem produtos do Brasil – sobretudo a carne.
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