A maioria da população do Rio de Janeiro defende prorrogar a intervenção federal na segurança pública, prevista para acabar em 31 de dezembro deste ano. A aprovação, no entanto, caiu quase dez pontos em relação há um ano atrás. Segundo pesquisa do Datafolha, 72% dos moradores do estado são a favor da continuidade da medida para além de seu prazo final. Dentre os entrevistados, 21% são contrários à prorrogação, 4% não sabiam e 4% eram indiferentes. Quando a pergunta foi feita pela primeira vez, 83% dos fluminenses eram favoráveis à convocação do exército para lidar com a segurança do estado.
O levantamento foi realizado nos dias 4 a 6 de setembro de 2018, com 1.357 entrevistados com 16 anos ou mais, em 35 municípios do estado do Rio de Janeiro. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.
A intervenção federal na segurança pública foi decretada em fevereiro deste ano pelo presidente Michel Temer (MDB) com a justificativa de combater a escalada da violência. O general do Exército Walter Braga Netto foi nomeado interventor e assumiu controle das polícias, bombeiros e setor penitenciário do Rio.
Antes disso, desde julho de 2017, já havia presença de homens do Exército nas ruas do estado. Em meio à grave crise financeira e de segurança pública no Rio, foi decretada na época a GLO (Garantia da Lei e da Ordem), que dava aval à participação dos militares, embora as polícias ainda estivessem sob comando do governo estadual.
Nesta semana, foi assinado um plano com medidas de transição para encerrar intervenção federal no Rio.
Em entrevista à Folha de S.Paulo em agosto, Raul Jungmann, ministro da Segurança Pública, afirmou que a intervenção deveria acabar no prazo inicialmente previsto, porque os responsáveis pela medida já demonstraram não querer a sua renovação.
Em junho, Jungmann chegou a defender que a intervenção fosse renovada para, pelo menos, dezembro de 2019. Mas, vencido na discussão interna, optou pelo “meio-termo”, que seria a continuidade “da reestruturação das forças de segurança” no Rio e a manutenção da operação de Garantia da Lei e da Ordem no ano que vem.
O comandante do Exército, general Eduardo Villa Bôas, chegou a declarar em discurso no mês passado que “aparentemente” apenas os militares têm se dedicado a resolver os problemas do Rio.
Apoio é menor na capital e entre os jovens
O apoio à continuidade da intervenção na capital do Rio é um pouco menor do que no estado: 68% são favoráveis e 25%, contrários. Já no interior 75% querem prorrogar a medida, e apenas 18% são contra. Moradores de outros municípios da região metropolitana também consideram a intervenção mais positiva do que a capital: 74% são a favor da prorrogação.
As opiniões variam de acordo com a escolaridade, renda e idade do entrevistado. Entre os mais jovens, de 16 a 24 anos, há menor apoio à intervenção: 59% são favoráveis, enquanto 31% são contrários. A faixa etária que mais deseja prorrogar a medida é a de 45 a 59 anos, com 78% --apenas 16% deles querem que a intervenção acabe em dezembro.
Quanto mais escolarizado, menor a intenção de manter esse decreto na segurança do estado. Entre pessoas com nível superior, 63% desejam a prorrogação e 31% são contra. Já entre os entrevistados com ensino fundamental, 79% são favoráveis e 13%, contrários.
A renda também impacta a avaliação da intervenção. Os mais ricos, que ganham acima de dez salários mínimos, são os que menos apoiam: 57%. Desse grupo, 37% acham que a intervenção deve terminar em dezembro. Entre os mais pobres, que recebem até dois salários mínimos, 76% aprovam a prorrogação e 17% são contrários.
O endosso à medida na segurança tem pouca variação por gênero: a maioria tanto dos homens quanto das mulheres considera que ela deve continuar. Entre os brancos, 70% são a favor da continuidade e, entre os negros, 67%.
A intervenção federal na segurança do Rio completou seis meses em 16 de agosto. A medida ainda não conseguiu reduzir os homicídios, acumula a maior taxa de mortes por policiais desde 2008 e tem retirado menos armas das ruas.
Depois do início da intervenção, quatro militares do Exército foram mortos a tiros. Um deles foi baleado em agosto dentro de um bar, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense (RJ). No mesmo mês, outros três morreram em uma operação das forças de segurança nos complexos de favela do Alemão e Penha, zona norte no Rio.
A intervenção foi decretada às pressas e sem um plano pronto logo depois do Carnaval, quando cenas de roubos em áreas nobres da capital foram amplamente divulgadas pela imprensa e aumentaram a percepção de insegurança e vácuo no governo do estado.
Desde que chegaram ao Rio, os representantes do governo federal intensificaram as operações em favelas.
Garantia da Lei e da Ordem
O apoio dos moradores do município do Rio de Janeiro à presença do Exército em operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) vem caindo nos últimos meses, apesar de ainda ser majoritário, segundo outra pesquisa do Datafolha, divulgada em agosto.
O Exército está nas ruas da cidade desde julho de 2017, quando Temer decretou a operação de GLO. Já a intervenção foi decretada em fevereiro de 2018 e ocorre em paralelo.
O índice dos que são a favor da convocação dos militares diminuiu de 76%, em março de 2018, para 66% em agosto, enquanto aqueles que são contrários passaram de 20% para 27%.
Desde outubro de 2017, quando pesquisa do Datafolha fez essa pergunta pela primeira vez, a aprovação às Forças Armadas na capital fluminense já perdeu 17 pontos -naquele mês, eram 83% favoráveis ao emprego de militares para combater a violência no Rio.
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