Levantamento feito pela Gazeta do Povo mostra que, dos atuais 513 deputados federais eleitos pelo atual sistema de eleição em 2014, 467 deles (91%) conquistariam da mesma forma uma cadeira na Câmara se já estivesse em vigência naquele pleito o “distritão”, modelo de votação que está em debate na proposta de reforma política. Do outro lado, os 46 parlamentares que não estiveram entre os mais votados se beneficiaram do coeficiente eleitoral – um cálculo usado no sistema proporcional que funciona atualmente no país.
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Na última quarta-feira (9), os deputados incluíram na proposta de reforma política o chamado “distritão” – sistema majoritário que elege os deputados mais votados e que desconsidera o voto proporcional.
Partidos pequenos, os mais atingidos
Os deputados que não se elegeriam se o distritão estivesse em vigência em 2014 são de 16 partidos – muitos deles legendas nanicas, que seriam as mais atingidas. São três do PHS. O PEN, que está mudando de nome para Patriota, não elegeria 2 (de uma bancada de 3). O PSDC não elegeria 1 e o PSD também 1. Partidos grandes como o PT, DEM e o PMDB deixariam de eleger dois deputados cada.
Os estados do Nordeste elegem sempre os mais bem votados. O distritão não atingiria a composição de várias bancadas. Os 22 deputados eleitos pelo Ceará em 2014 foram exatamente os 22 mais votados. Dos 39 que integram a bancada baiana, 38 estavam entre os mais votados. Os 12 da Paraíba também estão na lista dos que tiveram melhor desempenho nas urnas.
Contrários
O relator da reforma política, Vicente Cândido (PT-SP), é contra o distritão. “É um sistema que é a negação da política, do não debate, do desestímulo de candidaturas e que vai gerar uma disputa ferrenha dentro dos próprios partidos. Não vai ser saudável para a democracia” , disse Cândido, que, em seu relatório, manteve o atual sistema, de voto proporcional.
Entre outros partidos, também está longe de ser uma unanimidade. É que o modelo, se entrar em vigência, vai acabar com a figura do “puxador de voto”, aquele parlamentar de votação estrondosa que, além dele, elege outros de seu partido de performance pífia nas urnas. Esse fenômeno, que já teve no Doutor Enéas sua “referência”, foi batizado nas últimas eleições de “efeito Tiririca”, um campeão de votos em São Paulo.
Além dos partidos de esquerda, estão contra o distritão o PR, de Tiririca, e o PRB, de Celso Russomano, o deputado mais votado em São Paulo em 2014, com 1,5 milhão de votos. Russomano “levou” com ele outros cinco deputados de sua legenda, que, se não fosse o desempenho do apresentador de TV, teriam chance zero de chegarem à Câmara. Entre os que pegaram carona com ele estão o cantor sertanejo Sérgio Reis, o vice-líder do governo Beto Mansur, que recebeu apenas 31 mil votos, e Fausto Pinato, que, com 22 mil votos, foi apenas o 156.º mais votado. São Paulo elege 70 deputados.
Votos desperdiçados
Outro parlamentar beneficiado por Russomano, Vinicius Carvalho, integra a comissão da reforma política, votou contra o distritão. E se justificou com o argumento de que milhões de votos serão jogados fora. “Com o distritão, milhões de votos seriam desperdiçados. Só valeriam o dos eleitos. Assim, a tendência é eleição de outsiders, de quem está exposto na mídia. Vai privilegiar a elite tradicional da política, os velhos caciques”, disse Carvalho.
O puxador de voto parece ser um fenômeno paulista. Além de Enéas, Tiririca e Russomano, já teve também o estilista Clodovil, do PTC, que também ajudou a eleger outros. Tiririca ficou em segundo em 2014, com cerca de um milhão de votos, mas ainda assim contribuiu para eleição de outros dois.
O PHS é outro partido que faz parte da frente contra o distritão, que tem o PR, o PRB, além de PT, PSol e Rede. O partido foi beneficiado pelo coeficiente eleitoral em 2014. É uma contabilidade que estabelece o número de votos a partir do qual o deputado de um partido é eleito. E quem excede esse número beneficia outros colegas menos votados da legenda.
Dos cinco deputados federais eleitos em 2014 pelo PHS, três não seriam se o distritão estivesse em vigência. Entre eles, o líder na Câmara, Diego Garcia, do Paraná, um dos mais críticos ao novo sistema na comissão da reforma.“Esse sistema não vai permitir a renovação na política”, disse Garcia.
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