No "open house" do Alvorada oferecido pelo presidente Michel Temer aos ministros e parlamentares da base aliada, Temer reiterou, de forma enérgica, que "vai ficar até o fim" e que "não vai ceder às pressões". Em sua fala, ele voltou a reconhecer que cometeu um equívoco sem os devidos rituais de segurança ao receber o empresário Joesley Batista.
"Mas este é o meu estilo", lembrou Temer, acrescentando que precisa mudar. Temer disse ser comum receber muitos dos parlamentares, depois das 22 horas. "Meu regime de trabalho é meia noite, uma hora, vocês sabem que eu recebo, e falo com todo mundo", observou.
"O encontro foi uma grande pajelança com muita representatividade", comentou um dos presentes ao dizer que o presidente estava "muito firme". Temer também teria avisado que continuará à disposição para receber e conversar com quem quiser falar com ele.
O encontro acabou substituindo o jantar com aliados que foi marcado e, posteriormente, cancelado por medo de quórum baixo. Segundo a Folha, participaram do encontro 17 ministros, 23 deputados federais e 6 senadores. Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE) fizeram discursos inflamados em defesa do presidente. O líder do governo no Congresso, André Moura (PSC-SE), disse após encontro que a crise política instaurada com a delação premiada de empresários da JBS serviu para fortalecer a base aliada.
"Depois de tudo isso que aconteceu, em termo de união da base, o presidente saiu fortalecido. A classe política se uniu em torno do presidente", disse.
Ele questionou as circunstâncias em que o empresário Joesley Batista gravou a conversa com Temer, e classificou a atitude como muito "grave".
Se fizeram isso com o presidente, imagina o que não podem fazer com cada um de nós?
Confiança e falta de opção
Temer também saiu do encontro com um voto de confiança de PSDB e DEM. Os dois partidos chegaram a avaliar o desembarque do governo, mas vão esperar até quarta-feira (24), quando o Supremo Tribunal Federal (STF) julga o pedido do presidente para anular o inquérito que o investiga por corrupção passiva, obstrução à investigação de organização criminosa e participação em organização criminosa.
Apesar do voto de confiança, parlamentares da base já começam a se articular para defender que a única alternativa viável no caso do afastamento do presidente será a sucessão por meio de eleições indiretas. O problema, na avaliação geral, é a falta de um nome claro para substituir Temer.
Eleição indireta para substituir Temer já teme 8 candidatos. Saiba quem são
À exceção dos oposicionistas, que são minoria no Congresso, deputados e senadores dizem que o tempo para a votação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que alterasse a forma de escolha para eleições diretas seria longo e que, nesse período, o país continuaria sangrando com instabilidade. As consequências, nesse caso, seriam ainda mais imprevisíveis, dizem esses parlamentares.
Há ainda o temor de que, com eleições diretas, radicais de direita ou esquerda tenham chances ou o ex-presidente Lula volte ao poder, já que ele é hoje o mais bem avaliado nas pesquisas eleitorais. Para os políticos que hoje integram a base aliada, isso traria como consequência uma conflagração ainda maior do que aquela que se vê no cenário atual, já que Lula voltaria em condição delicada, por ser réu em cinco processos, e com "sede de revanche", conforme tem mostrado em suas declarações mais recentes sobre os investigadores, a imprensa e a oposição.
Mesmo diante deste cenário de probabilidade de uma sucessão presidencial, os parlamentares da base não conseguem cravar um nome ideal para este momento, mas traçam um perfil. Teria de ser alguém conciliador, capaz de acalmar os ânimos e que não estivesse contaminado pela Lava Jato ou outros casos de corrupção. Muitos dizem que não seria adequado eleger um senador ou deputado, já que o Congresso como um todo está sob forte desgaste perante a sociedade. Abrem inclusive a possibilidade de escolher um "outsider" político, desde que não seja um "aventureiro". Ainda há dúvidas sobre as regras que norteariam uma eleição indireta e, por esse motivo, os parlamentares têm dificuldades em elencar nomes que se adequariam a este perfil.
"Para se ter um nome, seria preciso haver no comando do processo uma liderança que tivesse condição de unir para fazer uma pré-candidatura vencedora. E hoje não existe essa liderança capaz de juntar as pontas para fazer candidaturas de consenso", analisa o presidente do Democratas, José Agripino Maia (RN).
Aliados de Temer querem manter a resistência às pressões pela renúncia, mas analisam o plano B para o caso de não ser possível evitá-la. Como prevenção, traçam uma estratégia para ter um candidato ligado à equipe econômica. Dentro do Palácio do Planalto, a avaliação é que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, são reconhecidos internacionalmente e que ainda têm prestígio junto ao próprio mercado. Esse trunfo é o que o presidente Michel Temer tenta ainda explorar com boia de salvação.
A ministra Cármen Lúcia também é citada no brainstorm que os parlamentares têm feito em busca de um sucessor para Temer, mas sua eleição é vista como pouco provável, já que ela sequer é filiada a um partido político.
"Não há saída fora da Constituição. Até porque a Constituição tem roteiro para situações como a que estamos vivendo. Esse caminho é o que tem que ser seguido”, reforçou o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), vice-presidente do Senado.
Outro nome citado nos bastidores como possível presidente eleito indiretamente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso telefonou no sábado para Temer para oferecer apoio, recomendar que mantenha-se firme e resista aos ataques que vêm sofrendo. Fernando Henrique negou a Temer que tenha sugerido a sua renúncia como "andou sendo noticiado".
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”