O presidente eleito Jair Bolsonaro tem privilegiado a Câmara, com a escolha de deputados para o primeiro escalão, e tem deixado o Senado de fora da composição de seu governo. Duas ideias principais o fizeram não considerar os senadores no primeiro escalão do governo: a renovação de 81% da Casa a partir do próximo ano; e a avaliação de que o Senado tem um grau de “comprometimento maior com o país que a Câmara, que não deixaria as coisas desandarem por simples rixas políticas”, nas palavras de uma pessoa da equipe de transição próxima ao presidente eleito.
“Mesmo se [o senador] Renan Calheiros vencer a eleição para a Presidência da Casa [Senado], sabemos que, mais cedo ou mais tarde, ele vem pro nosso lado”, disse outra fonte da transição do futuro governo.
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Até a tarde desta sexta-feira (30), já foram indicados 20 ministros. Falta a divulgação de quem vai ocupar o ministério do Meio Ambiente e, caso sejam mantidos com status ministerial, Direitos Humanos e Trabalho. Ainda não se sabe se haverá outras pastas.
Apesar dessa avaliação, o time do presidente eleito não está parado, esperando os novos parlamentares chegarem. Embora sem uma dinâmica muito clara, a articulação política no tapete azul tem acontecido reservadamente, nos bastidores e, em geral, com parlamentares de partidos de direita ou centro-direita. À moda Bolsonaro.
Os alvos principais são os parlamentares do PP, PR, PRB, DEM, Podemos, PTB, PSC, Patriota, PRP, PTC e DC. PSDB, MDB, PROS, SD também têm sido procurados para conversas eventuais, mas não são considerados aliados de primeira hora e, sabe-se que, a cada votação no plenário, será preciso uma nova rodada de negociações.
Quem puxa a interlocução é um grupo pequeno eleito na esteira de Bolsonaro: um de seus filhos, Flávio (PSL-RJ), Major Olímpio (PSL-SP) e Esperidião Amin (PP-SC). Além do futuro ministro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que tem atuado na parte política da equipe do novo governo.
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Em números, os partidos considerados prioritários pelo grupo de Bolsonaro não garantem a ele a aprovação sequer de um projeto de lei simples. Juntos, reúnem 23 senadores, quando seriam necessários 41. É imprescindível que a conversa avance para os demais partidos, com bases maiores, como o MDB e PSDB.
A prioridade do primeiro ano de governo, a proposta de emenda à Constituição (PEC) da Reforma da Previdência precisa da aprovação de 49 (três quintos) senadores em dois turnos para ser aprovada no plenário.
Reclamações e ciúmes aumentam
A indicação de um ministro do MDB – Osmar Terra, para a Cidadania, na quarta (28) – e a aparente disposição da equipe de Jair Bolsonaro de abrir conversas com as bancadas partidárias da Câmara dos Deputados, coloca a questão da falta de articulação política com a Casa como praticamente solucionada. “O presidente entendeu que não basta contar votos pra juntar apoio. É preciso diálogo com todos”, afirmou um deputado que deve estar pela primeira com o eleito na semana que vem. Do outro lado do salão, contudo, as coisas estão nebulosas.
Há ressentimentos sobre a diferença de tratamento entre Senado e Câmara. Alguns senadores comentam sobre os privilégios dados aos deputados, em detrimento deles, com a contemplação de cargos do primeiro escalão. O presidente eleito avisou que não faria "a velha política", com distribuição de vagas em troca de apoio - embora tenha aumentado o número de ministérios inicialmente prometidos para acomodar o MDB e nomeado um amigo não reeleito na noite de quinta (29), o deputado Carlos Manato (ES).
“Acabo de oficializar minha participação no governo Bolsonaro. Serei Secretário Especial para a Câmara Federal, da Casa Civil. A partir de terça-feira, começo a trabalhar na equipe de transição do governo. Minha função é garantir a melhor relação possível entre Governo e Câmara”, anunciou ele em sua rede social.
Nos bastidores, porém, há quem diga que haverá espaço nos segundo e terceiro escalão para os senadores indicarem aliados. Essas nomeações são normalmente terceirizadas, algumas delas nos estados e municípios em que os parlamentares têm base eleitoral.
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