A escolha do delegado Fernando Segóvia como novo diretor-geral da Polícia Federal desperta dúvidas sobre a forma como ele conduzirá a operação que revelou o maior esquema de corrupção do país, a Lava Jato. O maior problema é que as credenciais dele ao cargo não ajudam.
Segóvia foi superintendente da PF no Maranhão e teria a simpatia do grupo político do ex-presidente José Sarney. Além disso, um dos principais fiadores de sua nomeação foi o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, investigado no inquérito do quadrilhão do PMDB na Câmara, e não o ministro da Justiça, Torquato Jardim, a quem, em tese, é subordinado.
Um policial federal de Curitiba, que integrou a força-tarefa da Lava Jato, disse que “é preciso avaliar com mais calma uma escolha que não contou com a indicação do ministro da Justiça e que não traz experiência ao órgão”. A questão crucial é: as investigações em curso correm algum risco com Segóvia no comando?
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Interlocutores da PF avaliam que a troca de Leandro Daiello por Segóvia segue um roteiro esperado após a segunda denúncia criminal contra o presidente Michel Temer ter sido rejeitada na Câmara dos Deputados. Há menos de dois meses, a Polícia Federal concluiu a apuração sobre desvios em contratos da Petrobras que envolvem políticos do PMDB.
O inquérito, acolhido pela Procuradoria-Geral da República (PGR), acusou o presidente Michel Temer, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, que está preso, e o próprio Eliseu Padilha.
Segundo a Folha de S. Paulo, o chefe da Casa Civil fez seu mais forte apelo para a escolha de Segóvia nas horas seguinte à Operação Tesouro Perdido, que encontrou cerca de R$ 51 milhões em um apartamento na Bahia atribuídos a Geddel. Para o ministro, o episódio foi considerado a gota d’água, tendo chegado a hora de mudar o comando da PF.
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Entre delegados do alto escalão da PF, a escolha de Segóvia surge num momento em que avançam as investigações a pessoas com prerrogativa de foro. Vários inquéritos tramitam no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal. O assunto, inclusive, deve ser tema de uma das primeiras reuniões que o novo diretor vá fazer para saber, de fato, como os trabalhos estão sendo conduzidos.
Para alguns policiais federais de alto escalão, a duração de Segóvia no posto será um tiro curto. Argumentam que o próximo presidente da República, a ser eleito em 2018, deverá formar uma equipe própria e fará alterações, tanto no Ministério da Justiça quanto na direção da PF.
Neste cenário, o novo diretor terá pouco mais de um ano para mostrar a que veio na Polícia Federal. O maior incômodo nesse momento é saber se ele estará blindado contra pressões políticas ou vai ceder a interesses e conduzir vagarosamente as investigações da Lava Jato.
Galoro vai para Ministério da Justiça
Favorito de Daiello para assumir a chefia da Polícia Federal em seu lugar, o diretor-executivo da PF Rogério Galoro foi escolhido para assumir a secretaria nacional de Justiça. O anúncio foi feito pelo próprio ministro Torquato Jardim na noite desta quarta-feira (8). A área é uma das mais importantes dentro do Ministério da Justiça. É nessa secretaria que passam os acordos internacionais com outros países na Lava Jato.
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