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Macron chega para sessão do Parlamento francês: em apenas um ano, partido dele elegeu o presidente e conquistou a maioria absoluta do Legislativo. | Etienne Laurent/AFP
Macron chega para sessão do Parlamento francês: em apenas um ano, partido dele elegeu o presidente e conquistou a maioria absoluta do Legislativo.| Foto: Etienne Laurent/AFP

A desconfiança dos eleitores nos políticos tradicionais vem provocando um fenômeno global: partidos recém-fundados encarnam o ideário de renovação e rapidamente conquistam corações, mentes e votos. Muitos votos. O último caso internacional de sucesso é do movimento francês A República em Marcha (La Republique en Marche) – que, em apenas um ano, conseguiu eleger o presidente da França, Emmanuel Macron, e conquistou a maioria das cadeiras do parlamento. Mas a “onda Macron” pode se repetir no Brasil em 2018?

Analistas da política nacional concordam que as expectativas do brasileiro são parecidas com as que têm levado à vitória de “novidades” eleitorais ao redor do planeta. Mas eles têm dúvidas se as peculiaridades institucionais do país não irão frear a chegada dessa onda internacional.

França, Itália e Venezuela

A eleição de Macron na França surpreendeu o mundo porque ele fundou o seu partido apenas em abril de 2016. Treze meses depois, elegeu-se presidente. E, nas eleições legislativas, após 14 meses de sua criação, sua sigla partidária obteve uma avassaladora vitória para o Parlamento.

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Há outros casos recentes de partidos novatos com rápido sucesso eleitoral – não tão estrondoso como o do En Marche. O Podemos espanhol foi fundado em janeiro de 2014. No mesmo ano, disputou as eleições para o Parlamento Europeu, ficando em quarto lugar no número de cadeiras destinadas à Espanha em disputa. Em 2015, disputou as eleições gerais e fez mais de 20% dos votos.

Na Itália, o Movimento Cinco Estrelas começou a disputar eleições em 2010. Três anos depois, nas eleições nacionais, conquistou 26% das cadeiras da Câmara de Deputados (a maior bancada partidária isolada) e 24% das vagas do Senado. Hoje tem prefeitos de cidades importantes, incluindo a capital italiana, Roma.

Hugo Chávez: partido fundado um ano antes de se eleger presidente.Foto: Pedro Rey/AFP

A Venezuela também teve seu caso de partido recém-fundado que, como na França de hoje, em pouco tempo chegou ao poder: o Movimento V República (MVR). Fundado em 1997, o movimento elegeu um ano depois o presidente do país: Hugo Chávez. Ele havia sido preso por comandar o fracassado golpe de 1992 contra o então presidente Carlos Andrés Perez. A prisão projetou Chávez porque Perez era mal-avaliado pela população e foi afastado do poder por corrupção um ano depois.

E no Brasil?

O cientista político Mário Sérgio Lepre, da PUCPR, lembra que o Brasil também já teve um partido novato que rapidamente chegou ao poder: o PRN, que elegeu Fernando Collor para a Presidência em 1989. A sigla havia sido fundada em 1985 como Partido da Juventude (PJ). Collor deixou o governista PMDB e ingressou no PJ no início de 1989. E a sigla foi “refundada”, assumindo o nome de Partido da Reestruturação Nacional.

Lepre vê semelhanças do Brasil de hoje com o de 1989 e acredita que o fenômeno do “novo” tem possibilidade de voltar a ocorrer em 2018: “Acho que sim”. O governo de Michel Temer é mal-avaliado e acusado de corrupção como ocorria com o de José Sarney em 1989. E, embora Collor fosse um político tradicional (era governador de Alagoas e havia sido prefeito de Maceió), conseguiu encarnar o perfil do “novo” no imaginário popular.

Ceticismo

Doutor em ciência política e professor da PUCMG, Malco Camargos concorda que, de ponto de vista da expectativa do eleitor por um nome novo, a situação brasileira é semelhante à da recente onda que tem levado à vitória de novos partidos em outros países. Mas ele é cético quanto à possibilidade de o “fenômeno” se repetir no Brasil.

“Nossas regras institucionais dão vantagens aos grandes partidos já estabelecidos”, diz Camargos. Ou seja, ao dinheiro do Fundo Partidário e ao tempo de propaganda eleitoral na televisão – dois fatores fundamentais numa campanha presidencial. “Qualquer partido novo que entrar terá dificuldade, menos chances.”

O cientista político da PUCMG afirma ainda que a dimensão continental do Brasil é outro problema para legendas pequenas e novas. Elas não têm estrutura em um número muito grande de municípios. Portanto, não dispõem de cabos eleitorais para pedir votos. “Uma coisa é fazer campanha na Espanha e na França. Outra é no Brasil.”

Podemos do Brasil e Rede

O fato é que alguns partidos brasileiros já estão tentando surfar a onda mundial de renovação na política. O PTN, por exemplo, anunciou sua “refundação” no sábado (1.º) e se rebatizou como Podemos – igual à sigla espanhola. Autodefiniu-se como “partido-movimento” – que vai se organizar em torno de causas que emergem das ruas. Filiou o senador paranaense Alvaro Dias (ex-PV). E o lançou candidato a presidente.

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Outro partido que segue na mesma linha é a Rede – sigla da ex-senadora e ex-ministra Marina Silva, pré-candidata a presidente. Oficialmente constituída em 2015, a sigla também buscou se afastar da denominação “partido”.

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