Para aprovar a urgência da reforma Trabalhista no plenário da Câmara, na noite de quarta (19), o governo usou toda sua força e a conhecida prática do rolo compressor. A “tática” usada para sair dos 230 votos na terça para 287 na quarta – eram necessários 257 – envolveu ameaças de retirar cargos de apadrinhados dos parlamentares, reter recursos de emendas e também verba de Fundo Partidário.
O acordo foi costurado com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que recolocou o tema, após a derrota, em plenário. Mas, no entendimento do próprio governo, esse esforço ainda não é suficiente para garantir os 308 votos para aprovação das reformas que devem entrar em breve na pauta. Ficou claro para o governo que a “espremida” na base não foi bem recebida, o que pode criar dificuldades para a tramitação de seus projetos.
“O que fizemos ontem, para garantir os votos, é que fomos atrás dessa vez. Tentamos recompor a nossa base. Não foi fácil. Tem deputado que está deixando de votar mesmo, que vai para seu estado. E era só a votação de um pedido de urgência. Para aprovar uma PEC da reforma mesmo, que mexe diretamente com a vida do povo, teremos que fazer muito mais. Vai ser complicado”, admitiu Beto Mansur (PRB-SP), da linha de frente do apoio do governo Temer na Câmara.
Entre terça e quarta, 24 deputados mudaram de lado e, após pressão do governo, votaram a favor da urgência, após terem se posicionado contra. Um desses deputados, ouvido pela Gazeta do Povo sob o compromisso do anonimato, afirmou que a pressão foi enorme.
“Não teve jeito. Era líder, dirigente e ministro do partido pressionando com todos os argumentos possíveis. Inclusive com a relação das emendas da gente que está prestes a ser liberada”, disse esse parlamentar.
Outros governistas, que mantiveram o “não” à urgência, não cederam às pressões. “O governo vem com essa enxurrada de reformas num ano véspera de eleição. No máximo, era uma a uma. Não pode enfiar essas propostas na nossa goela abaixo”, disse Lincoln Portela (PRB-MG), da base governista.
O líder do governo no Congresso, André Moura (PSC-SE), minimizou a dificuldade de se chegar ao quórum para aprovar uma dessas reformas e atribuiu a aprovação da urgência da reforma Trabalhista ao trabalho de “diálogo” dos líderes e do próprio presidente Michel Temer.
“Nunca nenhum presidente antes recebeu tantos parlamentares em seu gabinete. Prevaleceu o bom senso e o compromisso com o país. E temos votos suficientes para aprovar as reformas”, assegurou Moura, que também relativizou a derrota da terça.
“Perdemos aquela votação porque muitos deputados entenderam que votar urgência não seria importante, mas sim no momento do mérito”.
André Moura comentou a possibilidade de partidos da base fecharem questão sobre as reformas. Nesses casos, quem dessas legendas votarem contra a orientação, pode ser punido. “O governo não vai fazer esforço nesse sentido, mas acredito que seja um ponto positivo.”
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