Um dos principais fatores que levaram à eleição de Jair Bolsonaro (PSL) para a Presidência foi que ele encarnou o papel do anti-PT no imaginário do eleitor. Em grande medida, o brasileiro votou nele para consertar os erros da esquerda no poder. Para muita gente, um desses erros foi o acordo com Cuba para o programa Mais Médicos. Bolsonaro endureceu o discurso e passou a fazer exigências para a permanência dos cerca de 8,5 mil cubanos no programa. Cuba não aceitou e decidiu retirar seus médicos do Brasil – o que criou a ameaça de que brasileiros mais pobres fiquem, ainda que temporariamente, sem atendimento nos postos de saúde. Solucionar esse problema pode ser o primeiro teste de fogo do governo Bolsonaro, num caso que levanta o questionamento: até que ponto a ideologia (não mais a de esquerda do PT, mas a de direita de Bolsonaro), sem o tempero do pragmatismo, pode eventualmente causar prejuízos ao país?
Esse foi o assunto debatido nesta semana pelo Podcast República, programa da Gazeta do Povo que discute e analisa a política brasileira. O cientista político Márcio Coimbra e os jornalistas Renan Barbosa e André Gonçalves, sob mediação do também jornalista Fernando Martins, debateram não apenas a questão dos médicos cubanos, mas também outros assuntos da política externa e interna em que pode haver conflito entre ideologia e pragmatismo político.
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Um dos temas analisados foi a anunciada intenção de Bolsonaro em transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. O movimento marcaria uma forte aproximação do Brasil com o governo conservador de Benjamin Netanyahu. Mas, desde já, se alerta para a possibilidade de o Brasil sofrer retaliação de países árabes – que não aceitam que Jerusalém seja reconhecida como a capital israelense. A principal ameaça seria a suspensão de importações da carne brasileira. O mercado árabe é um dos mais importantes para os exportadores brasileiros.
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A transferência da embaixada também será, se confirmada, um sinal do alinhamento ideológico que o Brasil sob a Presidência de Bolsonaro terá com os Estados Unidos de Donald Trump – o presidente norte-americano transferiu a representação diplomática para Jerusalém. O Podcast República discutiu se essa aproximação entre os dois presidentes de direita terá efeitos práticos para as exportações brasileiras, já que Trump tem empreendido um fechamento comercial nos Estados Unidos – num movimento, por sinal, contrário ao liberalismo econômico que vem sendo defendido pelo futuro ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes.
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A relação do Brasil com a China é outro caso em que ideologia e pragmatismo podem se chocar no governo de Bolsonaro – e que foi analisada no podcast. Bolsonaro passou a campanha eleitoral falando mal da China, dizendo não querer que os chineses comprem o Brasil, mas que comprem no Brasil. Logo depois de ter sido eleito, o governo de Pequim, por meio de um duro editorial no China Daily, o principal jornal do governo chinês em língua inglesa, advertiu Bolsonaro sobre os riscos de subir o tom contra seu principal parceiro econômico – dando a entender que poderia haver retaliações dependendo da postura do futuro governo brasileiro.
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O Podcast República também debateu quais tendem a ser os temas de fundo ideológico que estarão na agenda interna do novo governo: a liberalização da economia, enxugamento do Estado, mudança na política de segurança, Escola Sem Partido, agenda antiaborto.
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