Acusada na Justiça de comprar votos, a deputada Shéridan Anchieta (PSDB-RR) costumava participar de eventos públicos de distribuição de brindes, como sombrinhas e redes de dormir, em Boa Vista, capital de Roraima. Ela foi denunciada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF) pela prática do crime eleitoral no último dia 7 de novembro.
Shéridan comparecia nos eventos na condição de primeira-dama e secretária da Pessoa Humana e Desenvolvimento de Roraima (cargo ocupado entre março de 2008 a março de 2014), ao lado do então marido e governador Anchieta Júnior (PSDB).
Fotos feitas em uma dessas distribuições, em maio de 2008, mostram Shéridan entregando brindes no ginásio de esporte Vicente Feola, ao lado do governador, a milhares de mulheres. O ginásio estava lotado com cerca de, pelo menos, 5 mil mulheres. Era um sábado, véspera do Dia das Mães. Os presentes eram para as homenageadas nessa data. Parecia um ato eleitoral fora de época. Uma prática assistencialista.
O governo também financiou o transporte das beneficiárias. Dezenas de ônibus foram utilizados para levá-las de seus bairros para o ginásio. Eram filas enormes do lado de fora e de dentro do estádio. Shéridan ganhou destaque recentemente quando assumiu uma das relatorias da reforma política.
A denúncia da procuradora-geral Raquel Dodge sobre a suposta compra de votos de Shéridan cita um fato ocorrido em outubro de 2010, em plena campanha de reeleição de Anchieta. No bairro Pintolândia, a deputada teria abordado eleitores oferecendo inscrição em programas sociais e o compromisso de pagar multas de trânsito. Um dos acusadores da deputada diz ter recebido R$ 200 para quitar uma dívida. Na acusação há gravações dessas conversas.
Shéridan foi a deputada mais bem votada em 2014, com 35.555 votos, que representam 14% do total.
Outro lado
A deputada informou à Gazeta do Povo, por intermédio de sua assessoria, que aquele evento de 2008, de entrega de brindes, é uma “tradição” local de anos e que foi instituída pelo antigo governador Ottomar Pinto, que morreu em dezembro de 2007. Então seu vice, Anchieta assumiu o governo.
Shéridan explicou que aquela festa também não foi patrocinada por sua secretaria, mas por um outro setor do governo. Ela nega que houve intenção de compra de votos naquele ato, já que o período eleitoral estava distante e ela só veio a ser candidata em 2014, seis anos depois.
A reportagem questionou se aquele tipo de evento ocorria todo ano, mas não obteve resposta. Shéridan afirmou também que no evento de 2008 a viúva de Ottomar Pinto, Marluce Pinto estava presente no ginásio.
A parlamentar também foi perguntada se não entendia ser o evento uma política assistencialista e que poderia ter influência sobre o voto do eleitor. Mas também não houve resposta.
Sobre a denúncia de Raquel Dodge, Shéridan respondeu no inquérito que participou sim da campanha de reeleição de Anchieta e que nessas visitas sempre era abordada sobre os programas sociais. E que, se a pessoa tivesse condições legais de ser inscrita, não haveria problema, mas somente após a eleição, afirmou. Em nota, Shéridan disse que o assunto era “requentado” e que a verdade prevalecerá no final.
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