O quadro de saúde do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), descrito em boletim médico divulgado nesta sexta-feira (23), é normal em pacientes que passaram por situações semelhantes, de acordo com médicos ouvidos pela reportagem.
O deputado se submeteu a exames pré-operatórios no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e os médicos decidiram adiar a cirurgia para retirada da bolsa de colostomia que ele carrega desde setembro, quando sofreu um ataque a faca durante a campanha. Inicialmente, o procedimento seria feito em dezembro, antes da posse dele na Presidência.
No comunicado, o hospital informou que Bolsonaro está bem clinicamente, mas ainda enfrenta uma inflamação do peritônio e um processo de aderência entre as alças intestinais (quando os tecidos grudam um no outro). A equipe que atendeu o político só se pronunciou por meio do boletim.
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“Adiar esse tipo de cirurgia nunca vai ser visto como imprudente”, diz o cirurgião do aparelho digestivo Diego Adão Fanti Silva. “A recuperação seria mais lenta se fosse feita agora.”
De acordo com ele, o termo inflamação é usado genericamente para descrever o processo de resposta do sistema imunológico a traumas como os que acometeram o presidente eleito – a facada em si e as duas cirurgias que ele fez depois do ferimento.
A inflamação pode durar mais tempo se houver agravantes como perda de sangue e idade avançada, como no caso de Bolsonaro, afirma Silva. “Sempre que possível, não se opera uma pessoa na fase inflamada, que pode durar de dois a seis meses, variando em casa paciente.”
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As aderências das alças do intestino (partes que ficam coladas) também são esperadas, na avaliação do cirurgião. “A vantagem de esperar para mexer na área é porque aí as aderências já estão mais frouxas, então há menos risco de acontecer algum acidente na cirurgia, como uma lesão de intestino”, diz o médico.
Segundo os especialistas, a retirada da bolsa de colostomia (recipiente que coleta as fezes do paciente) pode ser postergada até que a pessoa esteja com um estado de saúde favorável para passar pelo procedimento de reconstrução do intestino.
O médico Bruno Zilberstein, cirurgião do aparelho digestivo e professor da USP, também diz que a inflamação do peritônio verificada em Bolsonaro é normal em casos semelhantes ao dele. “Não é grave; na verdade, isso é habitual nesses casos. Postergar a operação foi uma conduta muito boa. Uma operação precipitada poderia provocar peritonite, uma infecção da cavidade abdominal de alta mortalidade.”
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Zilberstein avalia que Bolsonaro deveria ser operado apenas em fevereiro ou março. “O organismo ainda não conseguiu se recompor, cicatrizar as lesões. Não há pressa, ele não corre risco. Não vai atrapalhar a cerimônia de posse ou suas atividades na Presidência. Tem paciente em que não é possível retirar a bolsa de bolsa de colostomia, e mesmo nesses casos é possível levar uma vida normal”, diz.
Histórico médico
Logo após ser esfaqueado em Juiz de Fora (MG), em 6 de setembro, o então candidato a presidente passou por uma intervenção de urgência na Santa Casa da cidade. Foi submetido a uma laparotomia, abertura cirúrgica da cavidade abdominal, a partir da qual foi exteriorizada uma porção do intestino grosso (procedimento conhecido como colostomia).
O intestino foi completamente separado para que uma das pontas ficasse exteriorizada até a pele para a saída de fezes na bolsa coletora.
Em 12 de setembro, ele passou por uma segunda cirurgia de emergência, desta vez no Hospital Albert Einstein, para corrigir uma obstrução intestinal causada por aderência das alças intestinais. Agora, Bolsonaro terá que passar por uma nova cirurgia, considerada menos arriscada, para retirar a bolsa coletora de fezes e reconstruir o trânsito intestinal.
O procedimento ocorreria após a diplomação de Bolsonaro como presidente pelo Tribunal Superior Eleitoral, depois do dia 10 de dezembro. Com os exames feitos nesta sexta, a decisão da equipe médica foi fazer uma reavaliação em janeiro para analisar uma possível nova data.