A gestão Michel Temer alertou a equipe de transição do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), sobre a saturação que o novo governo encontrará nos principais aeroportos do país.
Integrantes da equipe do eleito compareceram no fim de novembro à apresentação de um estudo feito pelo Ministério dos Transportes e pela Secretaria de Aviação Civil.
De acordo com as projeções, os aeroportos de Congonhas e Guarulhos irão atingir o limite de suas capacidades de movimento de aeronaves nas pistas em 2020 e 2022, respectivamente.
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O aeroporto de Viracopos, em Campinas, teria capacidade suficiente para absorver a demanda reprimida caso fosse considerado o investimento para a implementação de uma nova pista em 2026.
Juntos, os três aeroportos concentram hoje 36% da demanda nacional e devem fechar o ano com 72 milhões de passageiros. Esse número deve ultrapassar 180 milhões em 2038, conforme projeções do ministério.
Para companhias aéreas, na prática, Congonhas e Guarulhos já têm escassez de vagas para pousos e decolagens nos horários de maior demanda.
Há diversas alternativas na mesa -como a construção da terceira pista em Guarulhos, mais duas pistas em Viracopos ou a redistribuição do excedente de demanda para o Rio de Janeiro.
No entanto, segundo Dario Rais Lopes, secretário nacional de Aviação Civil, essas saídas não são consistentes.
Para ele, a construção da terceira pista de Guarulhos é um empreendimento de viabilidade duvidosa. Hoje, o terminal está sob concessão.
“Uma possível extensão do prazo de concessão em cinco anos não seria suficiente para reequilibrar o contrato, porque ela não se paga em cinco anos”, disse Rais Lopes. O custo estimado da obra é de mais de R$ 500 milhões.
A absorção do excedente de passageiros da Grande São Paulo por Viracopos ou aeroportos do Rio de Janeiro também é vista como solução ruim, porque o deslocamento representa menos conforto, segundo o secretário.
“Existem paliativos que podem ser aplicados em alguns aeroportos, mas não em todos. E a solução não envolve só o aeroporto, é preciso pensar no entorno. É espaço aéreo, pátio, terminal e acesso”, disse Rais Lopes.
Um das alternativas é aumentar de 34 para 39 o número de slots (autorizações de pousos e decolagens) por hora no aeroporto de Congonhas, medida que deve entrar em prática no ano que vem.
A expansão, no entanto, levanta preocupações em relação ao aumento do trânsito na zona sul de São Paulo e foi criticada por companhias aéreas. O presidente da Latam Airlines, Jerome Cadier, disse que a infraestrutura de Congonhas não tem mais espaço para embarcar passageiros com agilidade. Especialistas afastam riscos para a segurança dos voos, mas alertam para risco de atrasos.
Para o caso de Guarulhos, o estudo do ministério afirma que se “almeja que a capacidade aumente de 52 movimentos [de pousos e decolagens] na hora do pico para 60 movimentos”. Uma saída para evitar a construção de um novo aeroporto na Grande São Paulo é ampliar para 75 slots.
A GRU Airport, concessionária do aeroporto de Guarulhos, inaugurou na terça-feira (11) um procedimento que permite que pousos e decolagens ocorram simultaneamente, em duas pistas.
Chamada de projeto Agile, a tecnologia busca elevar a eficiência do tráfego aéreo como parte do esforço de aumentar a capacidade do aeroporto.
Procurada, a concessionária informa que o terminal recebeu autorização para operar 55 voos por hora a partir de março de 2019. Segundo Rais Lopes, o número deve ser impulsionado para 60 também já no ano que vem.
A Infraero diz que não responde sobre o assunto porque o plano foi desenhado pela área técnica do ministério.
A ausência de soluções equilibradas leva ao resgate de uma antiga discussão sobre a construção de mais um aeroporto no estado. Segundo Rais Lopes, ainda é cedo para discutir local. O município de Caieiras foi aventado durante o governo Dilma Rousseff (PT).
“O importante agora é ter consciência do tempo de ciclo de um aeroporto. Entre começar a discutir e entregar leva mais de dez anos. É preciso começar a discutir agora”, diz o secretário.
O advogado Bruno Werneck, sócio do escritório Mattos Filho e especialista em infraestrutura, pondera que as projeções governamentais sobre movimento de aeroportos costumam ser otimistas, conforme se observou na concessão de Viracopos, que foi impactado por uma demanda inferior ao projetado.