A página virou para a Lava Jato de São Paulo. Após mais de um ano entre idas e vindas em ações relacionadas a Paulo Vieira de Souza – o Paulo Preto, suspeito de ser operador do PSDB –, o foco da força-tarefa será avançar em casos que envolvem outros agentes públicos e políticos. Entre as apurações que devem ser concluídas nos próximos meses estão as que envolvem repasse de propina nas obras do metrô de São Paulo, que também envolvem tucanos. Mas outra frente vai mirar pagamentos a parentes do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O Ministério Público Federal (MPF) de São Paulo avança nas apurações a respeito de pagamentos da empreiteira a um dos filhos e a um irmão do ex-presidente Lula. O filho, Luís Cláudio, e o próprio Lula já foram indiciados pela Polícia Federal (PF) sob suspeita dos crimes de lavagem de dinheiro e tráfico de influência por pagamentos para a empresa de marketing esportivo Touchdown. De acordo com a PF, a agência, que pertence a Luís Cláudio, recebeu mais de R$ 10 milhões de grandes patrocinadores, embora tivesse capital social de apenas R$ 1 mil.
A outra investigação que envolve Lula diz respeito ao pagamento de uma mesada da empreiteira Odebrecht a José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do ex-presidente. Segundo um delator, o próprio Lula fez esse pedido.
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Caso do Metrô envolve os governos tucanos de Serra e Alckmin
O inquérito do Metrô de São Paulo, contudo, é o caso mais abrangente que está com a Lava Jato paulista. A investigação apura supostos desvios nas obras das linhas 2-verde, 4-amarela, 5-lilás e 6-laranja. Essas linhas tiveram diversos atrasos em suas construções e nas inaugurações das estações, que resultaram em aditivos contratuais.
O ponto de partida da investigação é a delação de ex-executivos da empreiteira Odebrecht, em que eles relataram o pagamento de propina entre 2003 e 2016, durante as gestões tucanas dos ex-governadores José Serra e Geraldo Alckmin.
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Cinco delatores da empreiteira dizem ter feito repasses a agentes públicos para viabilizar contratos e até liberações de vias públicas para a execução das obras. O principal citado é Sérgio Brasil, ex-diretor do Metrô. Em um depoimento que menciona supostos fatos ocorridos em 2003, ex-executivos dizem que esse dinheiro seria usado para obter apoio de políticos do PSDB e DEM e evitar rescisões contratuais.
Não é a primeira vez que essas obras viram alvo de ações. No ano passado, o Ministério Público do estado apresentou duas denúncias contra Brasil, ambas sob acusação de corrupção passiva por suposto recebimento recursos ilícitos nas obras da linha 5. Já o inquérito dos investigadores federais trata de outras suspeitas.
Kassab e Alexandre Padilha estão na mira
A Lava Jato de São Paulo também tem em sua mira outros dois casos relacionados a políticos: os supostos repasses aos ex-ministros Alexandre Padilha (PT), hoje deputado federal, e Gilberto Kassab (PSD). Mas esses casos podem sofrer questionamentos sobre onde devem tramitar porque se relacionam com crimes eleitorais; e o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu no dia 14 que casos envolvendo caixa 2 têm de ser julgados na Justiça Eleitoral.
A coordenadora da Lava Jato em São Paulo, procuradora Anamara Osório, afirma no entanto que “não existe nenhum elemento de crime eleitoral” nas duas investigações. “Trata-se de dinheiro ilícito, entregue sempre de forma oculta ou dissimulada, sempre visando uma contrapartida e que tinha outra destinação que não um gasto em campanha. Isso se chama corrupção e lavagem de dinheiro”, diz.
Outro lado: o que dizem os suspeitos
O advogado Cristiano Zanin Martins – defensor de Lula e de seu filho, Luís Cláudio –diz em nota que o indiciamento “trata-se de mero documento opinativo, com enorme fragilidade jurídica e distanciamento da realidade dos fatos. (...) Luís Cláudio, por seu turno, comprovou serem mentirosas as afirmações de delatores da Odebrecht”.
A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Frei Chico. Lula sempre negou ter solicitado qualquer valor da Odebrecht ao irmão.
No caso do Metrô, o advogado do ex-diretor Sérgio Brasil, Daniel Casagrande, afirma que não reconhece como verdadeiras as informações relatadas pelos delatores. Também diz que seu cliente não foi ouvido em um inquérito e está à disposição da Justiça.
Gilberto Kassab e Alexandre Padilha negam ter cometido irregularidades.
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