Não tem limite os esforços do governo para livrar Michel Temer (PMDB) da segunda denúncia criminal do ex-procurador-geral da República de Rodrigo Janot. A intromissão desmedida do governo na escolha e manutenção do veterano deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) como relator do caso na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara beirou o escândalo.
Para quem entregou um pedaço do Estado para se safar da primeira acusação por corrupção passiva – “comprando” deputados com emendas, anistiando dívidas e loteando o governo –, a operação "relator é meu e não abro mão" pode parecer pouco. Mas não é.
Envolveu a ingerência num partido, o PSDB, uma legenda que ainda guarda vestígios programáticos. Coisa que o PMDB de Temer, se teve isso alguma vez, deixou perdido no tempo. E o fez, o governo, de forma deslavada, desbragada. Não foi por baixo do pano, mas por cima do pano mesmo.
Os tucanos pediram ao presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), para não indicar um dos seus. Já tinham ficado incomodado lá atrás, quando esse mesmo governo derrotou o parecer do deputado Sérgio Zveiter contra a primeira denúncia na CCJ, que era do PMDB e foi para o Podemos, do Rio. E o escolhido para fazer um voto pró-Temer foi Paulo Abi-Ackel, também um tucano mineiro.
Andrada gostou de ser o escolhido e desde cedo ficou combinado, com Pacheco e o governo, que não deixaria o posto nem com um tossido da vaca. E toparam peitar o PSDB. Sem opção, coube à direção tucana, depois da tentativa de negociar uma saída honrosa para o relator, excluí-lo da CCJ.
Foi aí que apareceu, rápido e fagueiro, o governo. Ainda na hesitação tucana – tirar ou não tirar Andrada –, os próceres do Planalto anunciavam que iriam acomodá-lo em outra legenda. Pois não é que ele está mantido na CCJ e na relatoria, e não importa se na vaga do controverso deputado Pastor Marco Feliciano (PSC-SP). "Se não me engano, o PSC surgiu em Minas Gerais", disse Andrada. E tem razão. Mas isso atesta afinidade?
De encher os olhos
A mobilização dos governistas para salvar Temer é de "encher os olhos". O já conhecido Carlos Marun (PMDB-MS), na quarta-feira (4), atravessou rápido do Senado – onde é relator da CPI Mista da JBS, instalada com o único intuito de atingir os algozes de Temer no Ministério Público e os irmãos Joesley e Wesley – e voltou para a Câmara, onde acompanhou, na CCJ, a entrega da defesa de Temer. Do Salão Azul (do Senado) para o Salão Verde (da Câmara) foi num ritmo acelerado. Esbaforido. É um dos que, como outros, acumulam funções na missão "Salva Temer".
O resto, está escrito. Andrada vai fazer um parecer para livrar Temer e já declarou discordar da acusação de Janot. O termo "organização criminosa" para ele, na política, é algo novo, a ser "estudado". Será? E, impressionante, em toda sua entrevista ataca o Supremo Tribunal Federal (STF).
Um juiz é menos que um deputado porque não foi eleito pelo povo. Diz ele. E diz o suficiente. Quem acha que, se depender dele, o STF vai investigar o presidente – o mesmo que ele ajudou a livrar na primeira denúncia, quando votou a favor do peemedebista?
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