Um dos mais polêmicos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes é alvo frequente de críticas e protagoniza na internet os mais variados memes - a última leva motivada pela decisão de mandar soltar o empresário Jacob Barata Filho, de cuja filha foi padrinho de casamento.
A ofensiva contra o magistrado tem crescido desde que ele inaugurou um perfil no Twitter, em maio.
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Sua última postagem - em que apenas reproduziu o link de uma reportagem relacionada à Lava Jato - tinha na sexta-feira (25) 108 comentários. Todos com ironias e ataques contra o magistrado, vários impublicáveis.
“Ministro meu cachorro foi pego pela carrocinha e tá preso num abrigo de cães de Belo Horizonte. Mande soltar ele por favor, o nome dele é Boris”, escreveu um. “Piscou, Gilmarzão solta”, disse outro.
Fora do mundo virtual, há algumas semanas, seu gabinete no STF recebeu uma curiosa encomenda.
Como remetente do pacote constava o nome de um dos mais famosos traidores da história do Brasil, o coronel português Joaquim Silvério dos Reis, que no final do século 18 participava da Inconfidência Mineira ao mesmo tempo em que acumulava pendências financeiras com a Coroa.
Em troca do perdão das dívidas, Reis entregou ao visconde de Barbacena os planos dos conjurados, possibilitando às autoridades portuguesas desbaratar rapidamente a insurreição.
Duzentos e vinte e oito anos depois dos acontecimentos que reservaram ao coronel português um lugar de desonra na história, o pacote suspeito e a alusão ao traidor da Inconfidência acenderam o sinal amarelo no gabinete de Gilmar.
A primeira providência foi despachar a encomenda para o raio-x do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que o ministro preside. O aparelho, porém, não conseguiu decifrar o pesado e misterioso conteúdo da tal caixa, feita de material maciço.
Como ninguém ali se atreveu a pegar uma tesoura e abrir a embalagem, um grupo antibombas da polícia foi acionado.
Depois de alguns procedimentos, o pacote foi aberto, sem que nenhuma ameaça à integridade física das pessoas fosse detectada.
O remetente que usou o nome do traidor da Inconfidência enviou ao magistrado um amontoado de moedas de reais, de pequeno valor. Não deixou nenhum bilhete.
Assessores do ministro se questionam se a pessoa que enviou o presente queria fazer uma alusão ao caráter de Silvério dos Reis, que traiu os inconfidentes com objetivos pecuniários, ou se tinha em mente outras referências mais longínquas, como o relato bíblico das 30 moedas que levaram Judas a trair Jesus Cristo.
Além dessas, outras várias encomendas chegam diariamente ao magistrado.
Segurança
Entre agrados e mimos, até ameaças à vida do ministro chegam ao gabinete, por cartas e outros meios.
Gilmar afirma não ter receio, mas quem o vê atualmente circulando pelo Supremo percebe uma mudança de postura, pela quantidade seguranças que o acompanham.
“Meu pessoal acompanha, e se vê maior seriedade comunica a polícia. Eu lido com naturalidade com protestos, reclamações e vaias”, respondeu à reportagem.
“Eu ando hoje com segurança por recomendação. Muitas vezes saio sozinho e sou sempre bem tratado. Ainda agora, em Lisboa, tirei várias selfies com brasileiros”.
As moedas recebidas do traidor da Inconfidência acabaram doadas, segundo a assessoria do ministro, por ordem de Gilmar, para a Catedral de Brasília.
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