O presidente Michel Temer (PMDB), em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo publicada em 22 de maio, negou ter proximidade com o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) – filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil que seria propina da JBS e preso na manhã deste sábado (3) pela Polícia Federal.
Temer Disse que só mantinha uma “relação institucional” com o paranaense. E o chamou de “coitado”. Não é bem assim.
Desde 2011, Rocha Loures faz parte de um seleto grupo de políticos de extrema confiança de Temer e isso se refletia em declarações dos dois. O presidente já gravou vídeo dizendo que o paranaense o “ajudou enormemente”. E o deputado se apresentava como “emissário” e “apertador de parafusos” de Temer. Dizia ainda falar em nome do presidente.
Veja vídeo em que Temer fala que Rocha Loures o “ajudou enormemente”
Uma relação institucional tem uma conotação mais formal; se dá entre pessoas que representam duas instituições diferentes: a Presidência, por exemplo, e um deputado que fala em nome de uma bancada. Ao dizer que esse era o tipo de relacionamento que mantinha com Rocha Loures, Temer procurou se afastar do paranaense.
Mas o fato é que Temer e Rocha Loures são (ou foram) muito ligados. A relação entre os dois, até estourar a delação premiada dos donos da JBS, era de grande proximidade política. O paranaense foi um dos braços-direitos do presidente, um de seus assessores mais fiéis. Era uma espécie de “guardião” da agenda de Temer – por quem qualquer pessoa que queria falar com o presidente tinha de passar anteriormente.
Joesley passou por Rocha Loures
Há vários indícios de que foi assim que teria acontecido o encontro entre o dono da JBS, Joesley Batista, e Temer. Um dia antes de Joesley se reunir com Temer no Palácio do Jaburu, em 7 de março, o delator esteve com Rocha Loures. A conversa também foi gravada. Nela, o paranaense diz ser “emissário” de Temer e afirma que fala em nome do presidente. “Às vezes, quando ele [Temer] precisa apertar um parafuso entre a equipe, ele não fala diretamente; eu falo”, disse Rocha Loures.
Na conversa, o paranaense também parece acertar o encontro entre Joesley e Temer para o dia seguinte. “O que ele [Temer] me pediu: ele fala com você a hora que você quiser. Ele prefere te atender à noite, no Jaburu, a partir de umas 11 da noite, 10 horas (...) Amanhã [dia 7 de março] acho que é um dia bom.” Foi o que ocorreu.
Na ocasião, Rocha Loures estava deixando o cargo de assessor de Temer na Presidência para assumir uma vaga na Câmara aberta com a nomeação de Osmar Serraglio (PMDB-PR) para o Ministério da Justiça. Loures disse a Joesley que isso em nada mudaria sua relação com Temer, pois continuaria sendo o emissário de Temer, “só que do outro lado da rua” – numa referência ao Palácio do Planalto e ao Congresso, separados por uma via.
Ouça os áudios da conversa entre Joesley Batista e Rocha Loures
Nove anos de relacionamento
Rocha Loures e Temer passaram a manter contato mais direto há nove anos, em 2008, quando ambos eram deputados. Um ano depois, Rocha Loures coordenou a campanha em que Temer se elegeu para a presidência da Câmara.
A proximidade ficou ainda maior a partir de 2011, quando Temer assumiu a vice-presidência e nomeou Rocha Loures como assessor direto. O paranaense era uma espécie de secretário especial: quase ninguém falava com Temer sem antes passar por Rocha Loures. O paranaense ocupou essa função quase que de modo ininterrupto até o início deste ano – já com Temer na Presidência.
O papel no impeachment
Nos dias que antecederam o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em maio do ano passado, Rocha Loures tinha reuniões constantes com Temer e outros auxiliares de primeira hora do então vice-presidente. O objetivo: organizar o futuro governo.
Suplente de deputado, Rocha Loures ocupou o cargo de assessor especial de Temer até março deste ano, quando assumiu a vaga na Câmara aberta com a nomeação de Serraglio para o Ministério da Justiça. Na ocasião, admitiu que voltou para o Congresso a pedido de Temer para ajudar numa missão da extrema confiança de Temer: trabalhar para aprovar as reformas trabalhista e da Previdência no Congresso.
Apoio político e visitas ao Paraná
A confiança de Temer no seu auxiliar também se exprimiu em apoio político quando Rocha Loures foi candidato a deputado em 2014. Em vídeo usado na campanha do paranaense, Temer diz ter “muito prazer” em falar do aliado. Afirma que ele o “ajudou enormemente” no gabinete da vice-presidência e diz que Rocha Loures era uma espécie “embaixador do Paraná” em Brasília.
Rocha Loures, aliás, costumava ser um dos principais anfitriões das visitas de Temer ao Paraná – fossem elas oficiais ou partidárias. Veja algumas imagens abaixo e assista ao vídeo de apoio gravado por Temer:
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