A indústria automotiva reduziu o gasto com pesquisa e inovação durante a maior parte do tempo em que vigorou o Inovar-Auto, programa lançado em 2012 pela ex-presidente Dilma Rousseff com o objetivo de estimular os investimentos das grandes montadoras no país.
Apesar de terem sido poupadas de cerca de R$ 6,6 bilhões em impostos, as empresas do setor reduziram o volume investido em inovação como proporção da receita líquida entre 2011 e 2014, segundo dados da pesquisa de inovação do IBGE.
São esses os dados que estão na mesa de técnicos do Ministério da Fazenda e da Receita Federal, críticos à renovação de incentivos ao setor automotivo.
O Inovar-Auto expira no fim deste mês, após ser condenado na OMC (Organização Mundial do Comércio), e o governo prepara o lançamento de um programa substituto, com até 15 anos de duração, chamado de Rota 2030.
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Os ministérios da Fazenda e da Indústria divergem sobre a manutenção dos incentivos tributários (descontos de impostos) para que a indústria automotiva se comprometa em investir em inovação no novo programa.
O Ministério da Indústria teme que, sem os incentivos, as montadoras deixem o Brasil de fora da pesquisa e desenvolvimento global, particularmente no uso de combustíveis renováveis, como etanol, híbridos e elétricos.
Os técnicos da Fazenda reuniram dados para demonstrar que a indústria automotiva pouco inovou no Brasil, apesar dos incentivos. O principal benefício da política, eles concluíram, foi a proteção à competição externa.
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Em estudo publicado no mês passado, economistas do Banco Mundial concluíram que o Inovar-Auto “parece ter falhado” na tentativa de tornar a indústria mais competitiva. Eficazes em limitar as importações, suas medidas protecionistas resultaram em preços mais altos para o consumidor brasileiro, afirmaram.
Gasto em P&D caiu apenas na indústria automotiva
Os números mostram que, entre 2011 e 2014, enquanto a indústria manufatureira ampliou os gastos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), o setor automotivo encolheu seus investimentos.
A crise econômica não explica o recuo. Antes de mergulhar na recessão, a indústria de automóveis passou pelo pico de produção e de vendas em 2013, com mais de 3,7 milhões de veículos fabricados no país.
Com a crise, todos os setores sofreram, mas o gasto em P&D só caiu na indústria automotiva. As indústrias de materiais elétricos e a de máquinas e equipamentos, quando comparado com 2011, apresentaram resultados mais positivos nos investimentos em P&D em 2014. A pesquisa do IBGE tem defasagem e os números mais recentes vão até 2014.
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Júlio Gomes de Almeida, diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, diz que o setor automotivo no Brasil não inovou porque ficou focado no mercado interno. Investiu em instalações e linhas de produção.
“A aposta exagerada no mercado interno limitou o sucesso do programa”, disse. Com a alta do dólar, o setor voltou a exportar, o que é uma boa notícia, diz ele. “A busca por novos mercados é o melhor caminho para incentivar a inovação”.
Procuradas, a Anfavea e as maiores montadoras instaladas no Brasil (Fiat, Ford, VW e Hyundai) não comentaram.
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