A condenação do ex-presidente Lula deflagrou uma “operação de guerra” do PT para garantir que ele será candidato a presidente em 2018. Num ato público em que Lula falou pela primeira vez após ser condenado na Justiça, o ex-presidente e seus aliados deram o tom na quinta-feira (13) de qual será essa estratégia, que contempla cinco pontos: disseminar a ideia de que uma eleição sem ele será uma “fraude”, antecipar a campanha eleitoral, atacar a sentença do juiz Sergio Moro e a imprensa, mobilizar movimentos sociais para defendê-lo nas ruas e conquistar apoio internacional para mostrar que o petista é um perseguido político.
Se a sentença de Moro for confirmada na segunda instância judicial até o registro das candidaturas, Lula não poderá concorrer em 2018. Desde já o PT fará pressão política e jurídica para impedir que isso ocorra. A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hofmann, afirmou que o partido não aceitará um processo eleitoral sem o principal líder da sigla: “Eleição sem o presidente Lula é uma fraude à democracia”. O slogan se repetiu na boca de outros aliados no ato em defesa do ex-presidente.
LEIA TAMBÉM: Julgamento que pode tornar Lula inelegível acontece até agosto de 2018
Lula seguiu no mesmo tom. Já antecipando a campanha de 2018, declarou que é candidato e que há uma mobilização para tirá-lo da disputa. “Eu sinto que há uma tentativa de me tirar do jogo político. (...) Se alguém pensa que, com essa sentença, me tiraram do jogo, pode saber que eu estou no jogo”, afirmou. “Quem acha que é o fim do Lula vai quebrar a cara. Porque somente o povo brasileiro tem direito de decretar o meu fim.”
Povo versus elite
O PT vai bater pesado na tecla de que a “elite” quer barrar a candidatura de Lula porque ele representa o povo. “Não é o Lula que eles pretendem condenar. É o projeto político que eu represento junto com milhões de brasileiros”, disse o ex-presidente.
A cúpula do PT também descartou qualquer discussão interna de um plano B à candidatura de Lula. A tentativa de “construir” outro candidato poderia dividir os esforços do partido e enfraquecer a operação para salvar o ex-presidente.
As reformas trabalhistas e da Previdência estarão no centro desse discurso contra a elite. Nas redes sociais, aliados do PT disseminam a informação de que a sentença de Moro foi proferida apenas um dia depois de a CLT ter sido “rasgada” e que o objetivo do juiz, com isso, era desviar o foco da população em relação às modificações na legislação trabalhista.
O assunto também foi abordado no pronunciamento de Lula. O ex-presidente afirmou que “eles” querem acabar com direitos trabalhistas e previdenciários e destruir a indústria nacional, a Petrobras e as empresas de engenharia. “Eu queria dizer: senhores da casa grande, permitam que alguém da senzala faça o que vocês não têm competência para fazer”, afirmou. “O povo não está precisando ser governado pela elite.”
VEJA AINDA: Os 13 pontos da reforma que vão mudar o modo como você trabalha hoje
A imprensa na mira
Dentro do discurso contra a “elite”, a imprensa crítica ao PT deverá ser alvo constante. Nesta quinta, Lula fez uma ironia e “apelou” aos donos de jornais para enviarem à Justiça uma “única prova” contra ele. “Eu ficaria mais feliz.”
Lula centrou fogo na revista Veja e, especialmente, na Rede Globo. Segundo ele, a emissora de tevê está disseminando ódio no país. “É só assistir ao Jornal Nacional.” E, no afã de criticar a emissora, o ex-presidente deu uma declaração que contradiz o próprio discurso do PT. Lula afirmou que a Globo quer dar um “golpe” para tirar o presidente Michel Temer (PMDB) do cargo – numa referência à posição do grupo de comunicação em favor da renúncia do peemedebista.
“A Globo quer dar o golpe dentro do golpe. A gente não quer dar o golpe no Temer; quer eleição. Melhor do que ele [Temer], só eleição”, disse Lula. No Congresso, os petistas têm discursado e trabalhado para que Temer seja afastado da Presidência por causa das acusações que pesam contra ele no caso da JBS.
Democracia no lixo
O centro da estratégia do PT será questionar política e juridicamente a sentença de Moro e classificá-la como um atentado à democracia – colocando pressão sobre a segunda instância judicial. Lula afirmou que o país está num “Estado quase de exceção” e que “o estado democrático está sendo jogado no lixo”.
No pronunciamento desta quinta, ex-presidente ainda deu a entender que sua defesa irá questionar a atuação de Moro ao emitir sua sentença no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) – instância administrativa do Judiciário que pode punir juízes por desvio de função.
Paralelamente, o PT também buscará dar uma “lustrada” externa na tese da perseguição política e do atentado à democracia. E já saiu atrás de instituições e personalidades de fora do país que se manifestem a favor do ex-presidente. No ato desta quinta, Gleisi enumerou apoios já recebidos – alguns de renomados defensores da democracia (como o Nobel da Paz argentino Adolfo Pérez Esquivel) e outros longe disso (caso do Partido Comunista de Cuba).
A estratégia do PT para evitar a condenação de Lula em segunda instância ainda prevê a mobilização de movimentos sociais, estudantis e sindicais para defendê-lo nas ruas e, assim, passar a imagem que o ex-presidente conta com o apoio do povo. O presidente da CUT, Vagner Freitas, anunciou nesta quinta que a central vai promover, no próximo dia 20, atos por todo o país para defender Lula.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”