Num debate em Nova York, nos Estados Unidos, o juiz Sergio Moro defendeu o fim do foro especial, dizendo que ele deve ser mantido só para o presidente, alertou para retrocessos no combate à corrupção que podem ocorrer nos próximos meses, em alusão às eleições, e defendeu a sua conduta nos julgamentos da Lava Jato.
Sem tocar no nome do ex-presidente Lula, que condenou em janeiro no caso do tríplex, Moro disse ainda nesta sexta-feira (2) que “as pessoas têm ilusões sobre alguns ídolos, mas é hora de verem a verdade”. “Se você for ao processo, vai ver que ninguém está sendo investigado ou julgado por causa de sua opinião política, mas por causa de lavagem de dinheiro, propina, atos criminosos.”
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Depois de sua fala, Moro não quis esclarecer se seu comentário sobre ídolos se referia a Lula nem comentar declarações do ex-presidente em entrevista nesta semana à Folha de S. Paulo, quando disse que o juiz deveria ser exonerado. “Não respondo a entrevistas de gente processada”, disse.
Sem mencionar Lula, o juiz também disse ser “fundamental” a regra que determina o cumprimento da pena logo depois de uma condenação em segunda instância, dizendo que uma reversão desse mecanismo seria “trágica”.
Manifestantes
Moro falou ainda em “novo espírito” de combate à corrupção que toma os tribunais brasileiros no rastro da Lava Jato, que comparou com a Operação Mãos Limpas, na Itália, e ao julgamento do escândalo Watergate nos EUA. “O povo não está insatisfeito com a democracia, está insatisfeito com os problemas da democracia”, afirmou ele.
“E um desses problemas é a corrupção generalizada e a impunidade. As pessoas começam a perder a confiança no Estado de Direito, nos políticos, nos juízes e nos procuradores, então começam a perder a confiança na democracia. Por isso precisamos continuar o nosso trabalho.”
Na porta da Americas Society, o think tank que organizou o encontro em Manhattan, um grupo de manifestantes enfrentou uma forte tempestade de chuva e neve para protestar contra o juiz.
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Em inglês, eles gritavam que Moro “vende sentenças” e listavam benefícios de seu cargo no Brasil, como o auxílio-moradia. Um cartaz com um retrato de Lula dizia que o ex-presidente é inocente e outro afirmava que a decisão dele no caso do tríplex “envergonhou o Brasil” – Moro entrou por ali, mas chegou antes do começo do protesto.
Do lado de dentro, um cartaz reproduzia a capa da revista Americas Quarterly em que o juiz aparece vestido como soldado, metralhadora em punho e uma bandeira do Brasil no peito, debaixo de uma manchete que o chama de “caçador da corrupção”.
Questionado durante o debate se no Brasil há uma onda de “criminalização da política” e se a Justiça é seletiva, Moro disse que “não há problemas entre políticos e juízes” e que “alguns políticos estão criminalizando a política porque cometeram crimes e devem ser julgados”.
Ele disse, no entanto, que concorda com a afirmação de que há privilégios para políticos no país e criticou o foro especial. “Talvez isso deveria ser mudado. Seria uma ideia inteligente e talvez manter para o presidente, mas não tenho tanta certeza.”"
“Estamos falando de poder, de política”, disse. “As pessoas lutam por poder e algumas não querem mudar, querem ficar no poder, querem privilégios mesmo que esses privilégios violem a lei.”"
Moro também defendeu “reformas gerais” para combater a corrupção e que uma investigação judicial não é o suficiente para limpar o cenário, mas que isso depende de “um governo amigável”.
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