| Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

O vazamento de áudios entre o senador Renan Calheiros (MDB-AL) e executivos da JBS discutindo nomeações para o governo, ainda em 2014, movimentou o cenário da disputa pelo comando do Senado. A nova legislatura toma posse nesta sexta-feira (1) e elege o presidente da Casa para os próximos dois anos. Renan ganhou a disputa interna no MDB, mas as conversas do alagoano deixam a marca da antiga política, coisa da qual o presidente Jair Bolsonaro (PSL) diz querer se afastar. Tanto quer que, na quinta-feira (31), ligou para todos os senadores que são candidatos à presidência.

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O jornal Folha de S.Paulo divulgou, ainda na quinta-feira (31), uma série de áudios em que Renan Calheiros procurava o empresário Joesley Batista para discutir uma nomeação para o Ministério da Agricultura. Os áudios são de 2014 e foram obtidos por interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal. O alvo da interceptação era Ricardo Saud, diretor de relações institucionais da JBS.

Em 2017, Joesley, seu irmão, Wesley, e cinco executivos afirmaram que pagaram milhões a parlamentares em eleições em troca de vantagens para a empresa. Renan está entre os delatados e teria recebido R$ 9,9 milhões de caixa 2.

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A Folha teve acesso a 17 áudios. Em um dos telefonemas, Renan e Joesley comemoravam a eleição de Dilma Rousseff (PT) para a presidência em 2014, após vitória apertada contra Aécio Neves (PSDB). Em outras ligações, o assunto entre os dois era sobre “essa questão aí da Agricultura”. Dilma já havia escolhido Kátia Abreu para o ministério, mas o nome desagradava a JBS.

Vazamento de áudios movimentam eleição do Senado

O vazamento desses áudios na véspera da eleição para a presidência do Senado movimenta a disputa. Na quinta, Renan havia vencido a queda de braço dentro de seu partido, o MDB: ele obteve 7 votos, contra 5 votos para Simone Tebet (MDB-MS) e foi confirmado como o candidato do partido. A senadora não quis lançar candidatura avulsa.

Renan recebeu uma ligação do presidente Jair Bolsonaro, parabenizando-o pela vitória na disputa interna. O senador alagoano é tido como um nome hostil ao Palácio do Planalto, o que gerou algumas críticas. Depois, o presidente ligou para os demais candidatos.

A reportagem apurou que Bolsonaro ligou para Renan Calheiros antes das 20h20. Segundo a assessoria de imprensa do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), o democrata recebeu a ligação por volta das 21h15. Ele é o candidato preferido do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Na sequência, Bolsonaro usou o Twitter para dizer que havia “procurado diplomaticamente” todos os candidatos. A mensagem foi publicada às 21h38. 

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Foi somente após a publicação da mensagem que o senador Angelo Coronel (PSD-BA) relatou ter recebido o telefonema, sendo que a ligação caiu sem que ele conversasse com o presidente.

Alguns minutos depois, às 21h45, o presidente criticou, no Twitter, quem tenta “desvirtuar” o papel institucional do governo. “Qualquer tentativa de desvirtuar o papel institucional do Governo diante desses fatos é desprovida de boa fé e de profissionalismo. Boa noite a todos”, escreveu.

No mesmo minuto em que a mensagem entrava no ar, foi a vez do senador Alvaro Dias (Podemos-PR) ser contatado pelo presidente. Já a assessoria de imprensa do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse à reportagem que o contato de Bolsonaro aconteceu às 21h59. 

O senador José Reguffe (Sem partido-DF) é outro que falou com o presidente da República somente depois da repercussão do caso. De acordo com o parlamentar, o contato aconteceu depois das 22h. 

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O senador Espiridião Amin (PP-SC), por sua vez, não quis confirmar se recebeu ou não o telefone de “boa sorte”. “Se tivesse ligado, eu jamais te diria porque eu tenho ética, os outros não têm. Qual caráter de alguém que diz que recebeu uma ligação de outra pessoa? Eu sei que Bolsonaro não gosta que fala muito de árabe, mas Amin significa ‘o homem de confiança’ em árabe”, afirmou.

A reportagem não conseguiu contato com o senador Major Olímpio (PSL-SP) para confirmar se ele recebeu a ligação do presidente.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]