A repercussão da morte da vereadora Marielle Franco gerou descontentamento de setores da política que tradicionalmente se opõem às bandeiras dos direitos humanos – setores representados, entre outros, por deputados que integram a “bancada da bala” da Câmara. Esse acirramento levou a uma "disputa" no Conselho de Ética, um colegiado que tende a colocar panos quentes nas denúncias e engavetar acusações contra seus pares.
O Psol registrou uma representação contra deputado Alberto Fraga (DEM-DF) e coordenador da tal bancada, por ter postado informações falsas contra Marielle – dizendo, por exemplo, que ela teria ligações com o crime organizado. Fraga reconheceu o erro, retirou a publicação e, no máximo, deve sofrer uma advertência. Mas é grande a chance da acusação nem prosperar no conselho.
Pois bem. Em troca, o deputado Laerte Bessa (PR-DF), também do grupo da bala e que já protagonizou cenas de confronto físico com outros colegas, entrou com três representações no conselho, na semana passada, contra dois deputados do Psol (Jean Wyllys e Ivan Valente), partido de Marielle, e uma contra Erika Kokay, do PT.
Bessa desenterrou fatos antigos, do ano passado, para acusar os três de quebra de decoro. Valente e Kokay são apontados por ele por cometerem injúria, calúnia e difamação por terem chamado Michel Temer de corrupto e criminoso confesso e de o presidente e o Planalto ter gasto com dinheiro para obter apoios na Câmara para se salvar de duas denúncias do Ministério Público. Quase toda a oposição fez esse tipo de crítica ao governo, de abrir os cofres para salvar o mandato de Temer. As declarações de Valente e Kokay foram emitidas em novembro do ano passado.
Contra Jean Wyllys a acusação é de outra natureza. Bessa, um delegado da Polícia Civil aposentado, diz na representação, oficialmente apresentada pelo seu partido mas tendo ele como coautor, de fazer apologia às drogas e de perversão sexual por uma resposta que deu a uma pergunta dirigida a ele pela jornalista Leda Nagle, em seu canal de Youtube.
A jornalista perguntou? "O que você faria se o mundo tivesse data marcada para acabar?". Jean Wyllys respondeu que, de maneira genérica, que usaria todas as drogas ilícitas que não usou e que manteria relações sexuais à vontade. Essa entrevista foi ao ar em 2 de outubro do ano passado. O deputado foi atacado por deputados da bancada religiosa à época, mas ninguém o questionou no Conselho de Ética. Naqueles dias, ele rebateu as críticas nas suas redes sociais.
"Foi o que a Leda Nagle me perguntou numa entrevista. É uma brincadeira que ela gosta de fazer e eu levei na boa. A minha resposta foi mais longa que o trecho que publicaram alguns canalhas da bancada fundamentalista – esses que venderam a alma para salvar Michel Temer das acusações do Ministério Público por corrupção passiva, formação de quadrilha e obstrução de justiça, e que ainda têm a cara de pau de falar em nome de Deus”, respondeu Wyllys, que continuou a explicação.
"Respondi, primeiro, que pediria perdão a toda pessoa que eu tivesse ferido. Essa primeira parte foi omitida nos vídeos editados. E também disse (essa foi a parte que publicaram) que consumiria drogas ilícitas e transaria muito. E, sim, faria! O que chocou alguns falsos moralistas é que eu dei uma resposta humana, espontânea, com humor, em vez de dizer à jornalista o que um assessor de imagem recomendaria a um político", disse.
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