Uma barragem da mineradora Vale se rompeu e outras duas transbordaram nesta sexta-feira (25) em Brumadinho, cidade da Grande Belo Horizonte, segundo o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, causando um desastre ambiental e humano na região. O incidente ocorreu na mina do Córrego do Feijão, na altura do km 50 da rodovia MG-040.
Uma grande quantidade de lama atingiu casas da comunidade de Vila Ferteco – os bombeiros estimaram em 200 o número de desaparecidos. Parte da área administrativa da companhia Vale também foi atingida. Um helicóptero dos bombeiros sobrevoa a região e já realizou resgates. Pelo menos cinco pessoas foram socorridas com vida até agora e encaminhadas ao hospital.
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O Corpo de Bombeiros admite que pode haver pessoas mortas no local. O mar de rejeitos atingiu o Rio Paraopeba, que desagua no Rio São Francisco. Segundo a Agência Nacional das Águas (ANA), a barragem da usina hidrelétrica Retiro Baixo, que está a 220 km do local do rompimento, possibilitará o amortecimento da onda de rejeito. Estima-se que a onda chegará ao local em cerca de dois dias.
A Vale informou que ativou o seu Plano de Atendimento a Emergências para Barragens e que a prioridade neste momento “é preservar e proteger a vida de empregados e de integrantes da comunidade”.
Segundo informações do site da Vale sobre as barragens da região, a barragem 1, que se rompeu primeiro, foi construída em 1976 e tem volume de 12,7 milhões de m³. Atualmente, a barragem não receberia material, pois o beneficiamento do minério na unidade é feito a seco, ainda de acordo com o site.
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Segundo o Cadastro Nacional de Barragens de Mineração, do Departamento Nacional de Produção Mineral, ligado ao Ministério das Minas e Energia, a barragem 1 do feijão é classificada de pequeno porte e abrigava rejeitos de minério de ferro. A categoria de risco para casos de acidente era considerado baixo, mas o dano potencial era de alto risco, segundo o relatório, que usa dados de dezembro de 2016 e foi divulgado em 2017.
O parque de Inhotim teve que evacuar mais de mil pessoas às pressas, com medo de que a lama proveniente da ruptura de uma barragem da Vale em Brumadinho atingisse o parque. O jardim e museu de arte contemporânea a céu aberto é a maior atração turística da região, reunindo obras de arte dos mais importantes artistas contemporâneos.
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O local não foi ainda atingido, mas não se sabe se a lama pode alcançar o parque. São 600 funcionários e cerca de mil visitantes por dia. Mas não se sabe quantas pessoas estavam no parque no horário do fechamento.
Municípios cortados pelo Rio Paraopeba estão fazendo alertas para a população ribeirinha sobre o risco de inundações. Em Juatuba, agentes da Defesa Civil estão fazendo visitas casa a casa em áreas perto do rio para orientar os moradores sobre a necessidade de deixar o local caso o nível da água suba.
Em sua página no Facebook, a prefeitura de Esmeraldas emitiu um alerta para as comunidades de Padre João, Vista Alegre, Taquara, São José e demais localidades próximas ao rio. “O curso d’água do Rio Paraopeba deve ser atingido e pode oferecer risco de contaminação da água e de acidentes que possam atingir a população ribeirinha”.
Há três anos, em Mariana (MG), barragem da mineradora Samarco se rompeu causando a maior catástrofe ambiental do país, encobrindo o distrito de Bento Rodrigues. A empresa pertence às companhias Vale e BHP Billiton. O acidente deixou 19 mortos e dezenas de desabrigados. As investigações até hoje não foram concluídas.
Como é a estrutura da mina
A Mina Córrego do Feijão faz parte do Complexo de Paraopeba, que possui 13 estruturas utilizadas para disposição de rejeitos, retenção de sedimentos, regulação de vazão e captação de água.
Ao todo, o Complexo de Paraopeba produziu 26,3 milhões de toneladas de minério de ferro em 2017, cerca de 7% da produção da Vale, que no mesmo ano produziu 366,5 milhões de toneladas de minério de ferro, segundo a assessoria da empresa.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informou que a barragem VI no Córrego do Feijão, que se rompeu nesta sexta, tem volume de 1 milhão de metros cúbicos de rejeito de mineração. Para comparação, o órgão destacou que no desastre de Mariana, o volume era de 50 milhões de metros cúbicos. Mas a informação fornecida pela Vale em seu site é outra: 12,7 milhões de metros cúbicos.