Em meio à crise provocada após a revelação de um esquema de candidaturas laranjas no PSL, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, disse a aliados nesta quinta-feira (14) que não vai pedir demissão do cargo e que só decidirá seu futuro após ter uma conversa com Jair Bolsonaro (PSL). Considera não ter efeito nada de errado e lembra ter sido um dos apoiadores mais fiéis de Bolsonaro na trajetória ao Palácio do Planalto.
O ministro foi desmentido publicamente pelo presidente um dia antes, e há uma expectativa dele que um encontro com Bolsonaro ocorra nesta quinta, embora não haja previsão em agenda. A aliados Bebianno disse que permaneceria em silêncio sobre o caso e que foi aconselhado a falar pessoalmente com Bolsonaro para medir a temperatura do problema.
A crise dos laranjas foi alavancada na quarta-feira (13) pelo ataque do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, a Bebianno. O ato de Carlos – que acusou o ministro de mentir – foi endossado pelo presidente, que compartilhou em rede social postagens do filho e negou versão de Bebianno sobre ter conversado com ele.
Segundo a reportagem apurou, Bolsonaro esperava que Bebianno já tivesse pedido demissão quando saísse do hospital onde esteve internado em São Paulo e chegasse à tarde a Brasília com trunfo para conter os impactos do caso.
Em entrevista ao Jornal da Record, concedida no hospital e exibida na noite de quarta, o presidente disse ter determinado a abertura de inquérito da Polícia Federal sobre o esquema de candidaturas laranjas de seu partido e que, se Bebianno estiver envolvido, “o destino não pode ser outro a não ser voltar às suas origens”.
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O ministro, por sua vez, afirmou à Globonews na noite do mesmo dia que não tinha intenção de pedir demissão e que eventual decisão caberia a Bolsonaro. “Até aqui minha relação com ele foi sempre a melhor possível, da minha parte tudo foi feito com honestidade, correção e vamos esperar para ver o que acontece”, declarou.
Oficialmente, o Palácio do Planalto não vai comentar o assunto e assessores do presidente dizem que a ordem é tentar transparecer normalidade do governo. Nos bastidores, o episódio incomoda ministros e parlamentares – inclusive desafetos de Bebianno – que veem no gesto do presidente uma deslealdade a um de seus aliados mais próximos no período de campanha.
A presença constante de Carlos ao lado de Bolsonaro também gera apreensões de que outros auxiliares possam ser futuramente alvo de retaliações.
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Há uma ala da bancada do PSL bastante descontente com a ação de Carlos. Parlamentares ouvidos pela reportagem dizem que ao expor o ministro o filho do presidente só desgasta o governo, e que ele não é um eleitor comum para que fique usando as redes sociais para criticar quadros do Planalto.
O apoio a Bebianno não é consenso na bancada do PSL na Câmara e há quem torça por sua queda por desafetos dos tempos da corrida eleitoral. O chefe da Secretaria-Geral, porém, tem apoio de parlamentares de outros partidos e conta com a simpatia do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Logo depois de chegar a Brasília, na quarta, Bolsonaro recebeu três ministros: Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Augusto Heleno (GSI) e Fernando Azevedo (Defesa). Na manhã desta quinta, os três tinham uma reunião com Bebianno no Planalto. A assessoria nega que haja relação entre os fatos e diz que o encontro já havia sido marcado para tratar de “assuntos internacionais”.
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Bebianno, porém, não compareceu ao Palácio do Planalto, e seus assessores não sabem informar onde ele está. A Secretaria-Geral enviou o general Floriano Peixoto, número 2 da pasta, para representar o ministro. O compromisso chegou a ser incluído na agenda de Bebianno e retirado na sequência.
Antes do encontro, Santos Cruz disse que “qualquer problema sobre isso [crise com Bebianno] tem que ser resolvido”. Ele se reuniu com Bolsonaro no Palácio da Alvorada pela manhã, mas Cruz negou que ter tratado sobre o tema com o presidente. Ainda em recuperação de uma cirurgia de reconstrução do trânsito intestinal, Bolsonaro deve seguir despachando do Alvorada até o fim da semana.
Nesta quinta, ele tem uma agenda com os ministros Paulo Guedes (Economia) e Onyx Lorenzoni (Casa Civil) para discutir a proposta da reforma da Previdência.