Após avisar aliados de que deixará o governo de Jair Bolsonaro (PSL), o ministro Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência, publicou na madrugada deste sábado (16) mensagem em rede social dizendo que “a lealdade é um gesto bonito das boas amizades”.
“Uma pessoa leal sempre será leal. Já o desleal, coitado, viverá sempre esperando o mundo desabar na sua cabeça”, diz trecho da íntegra da mensagem, atribuída por ele ao escritor brasileiro Edgard Abbehusen. “Saímos de qualquer lugar com a cabeça erguida ao carregar no coração a lealdade”, afirma o texto, publicado na conta do ministro no Instagram, em que ele está ao lado do presidente Jair Bolsonaro na foto do perfil.
Chamado publicamente de mentiroso por Carlos Bolsonaro, filho do presidente, em meio as denúncias de candidaturas laranjas do PSL reveladas pela Folha de S. Paulo, o ministro não conseguiu respaldo para seguir no cargo, após uma série de negociações que envolveram ministros palacianos na sexta-feira (15).
Neste sábado (16), Bebianno confirmou que o presidente sinalizou que pretende demiti-lo na próxima segunda-feira (18). “A tendência é essa, exoneração", disse a jornalistas. "Eu quero ver o papel com a exoneração, a hora em que sair o papel com a exoneração é porque eu fui exonerado."
Também na manhã deste sábado (16), o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, se reuniu novamente com Bolsonaro, no Palácio do Alvorada, em Brasília. Mas Lorenzoni saiu do local sem falar com a imprensa.
Bolsonaro, após se reunir com Bebianno durante a semana, avisou a ele e a aliados sobre a demissão – e que a saída do ministro poderá ser formalizada na segunda-feira (18).
Aliada lembra de ministro do Turismo e questiona critérios
A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) afirmou que Bolsonaro precisa ter critérios mais claros de demissão e que, se o ministro Gustavo Bebianno for exonerado, o do Turismo também deveria sair.
"Não tem cabimento um presidente da República dizer que demitirá uma pessoa passados três dias. As admissões e demissões devem ser decididas e simplesmente comunicadas. Ademais, um líder precisa adotar critérios minimamente claros", afirmou, em rede social.
Conforme mostrou a Folha de S.Paulo, candidatas laranjas do PSL de Minas Gerais, onde Marcelo Álvaro Antonio (ministro do Turismo) foi o mais votado para deputado federal pelo PSL, teriam repassado recursos do fundo partidário para empresas ligadas a ele.
"Se é verdade que Bebbiano está saindo por um eventual envolvimento com as supostas laranjas, outro membro da equipe citado em situação ainda mais problemática deve ser afastado também", disse Janaina Paschoal, sem mencionar o nome do titular do Turismo.
Não tem cabimento um presidente da República dizer que demitirá uma pessoa passados três dias. As admissões e demissões devem ser decididas e simplesmente comunicadas.
"Uma vez mais, não estou defendendo ou acusando quem quer que seja, estou preocupada com o engessamento de um país que já não aguenta mais. Crises, por força de questões substanciais, infelizmente, já fazem parte de nossa história. Crise por falta de definição não pode haver", disse.
"É preciso entender que não é possível conduzir o governo como a campanha. No governo, a caneta está na mão do Presidente, ele terá que assumir os ônus das decisões", afirmou.
Relembre a crise
Bebianno tornou-se o centro de uma crise instalada no Palácio do Planalto depois que a Folha de S.Paulo denunciou a suposta existência de um esquema candidaturas laranjas do PSL, presidido pelo ministro entre janeiro e outubro de 2018.
A temperatura da crise subiu na quarta-feira (13), quando Carlos, o filho que cuida da estratégia digital do presidente, postou no Twitter que o então ministro havia mentido ao jornal O Globo ao dizer que conversara com Bolsonaro três vezes na véspera, negando a turbulência política.
Mais tarde, no mesmo dia, Carlos divulgou um áudio no qual o presidente da República se recusa a conversar com Bebianno.
Bolsonaro, que seguia para Brasília depois de passar 17 dias internado em São Paulo após cirurgia para reconstruir o trânsito intestinal, endossou a atitude do filho – e o fez publicamente, repostando a acusação de Carlos e dizendo em entrevista à TV Record que não havia conversado com o ministro.
Na mesma entrevista à Record, o presidente disse ter determinado a abertura de inquérito da Polícia Federal sobre o esquema de candidaturas laranjas de seu partido e que, se Bebianno estivesse envolvido, “o destino não pode ser outro a não ser voltar às suas origens”, ou seja, deixar o governo.
A gota-d’água para a demissão, segundo integrantes do Planalto, foi o vazamento de diálogos privados entre Bolsonaro e Bebianno, exclusivos da Presidência, ao site O Antagonista e à revista Veja.
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